A fonte Ruella
Se calhar sou eu que ando lamechas, mas é a mais pura das verdades: ontem, a ler o Expresso, comovi-me com uma pequena noticia na página 3 do primeiro caderno. Dizia assim:
“Para homenagear o recentemente falecido Ruella Ramos, intimamente ligado ao percurso do Expresso, Diário de Lisboa e Lisgráfica, esta última decidiu lançar um concurso aberto a profissionais gráficos e escolas de design. A ideia é criar e desenvolver uma fonte inédita, a que será dado o nome de Ruella”.
Comovi-me com a ideia de eternizar o nome de Ruella Ramos através de um dos temas a que foi mais sensível ao longo da sua vida: o grafismo, o design, as fontes das letras com se fazem os jornais, as revistas. Só de pensar que um dia poderei dizer que escrevo um texto usando a fonte Ruella, fico sem jeito e misturo num único suspiro a tristeza e a felicidade: por já não estar connosco uma das minhas referências do jornalismo – mas, por outro lado, por haver quem saiba como perpetuar com dignidade e orgulho o seu nome.
Até hoje, e já escrevi uma crónica sobre isso, eu achava que ter o nome numa rua era o que de mais comovente podíamos fazer para manter presente a existência e alimentar a memória dos que partiam. Mas acabo de mudar de ideias: dar nome a uma fonte é ainda mais forte. É ainda mais bonito. Quero um dia escrever um texto, “seleccionar tudo”, e escolher o tipo de letra: Ruella.