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Pedro Rolo Duarte

12
Jul10

Coisas que me encanitam (V)

Não vai ser fácil perceber, mas em rigor as frases são estas: encanita-me quando alguém que dá a cara por uma empresa, loja, casa comercial, me diz “a culpa não é minha”. Porque realmente pode não ser dela, mas é a ela que cabe dar a cara mesmo pela culpa que não foi dela.

Ninguém percebeu o que escrevi, bem sei.

Mas explico: há poucos dias fui jantar à esplanada da Cervejaria Trindade (Campo Pequeno). Em noite de calor, sabe muito bem estar ali, e ainda que a qualidade do bife deixe a desejar, o molho é (gordurosa e colesterolmente...) sublime e a imperial muito bem tirada. Havia jogo do Mundial, havia muita gente, mas não se serviam bifes em pé – ou seja, o numero de lugares ocupados era aquele que a casa teoricamente comporta.

Pelos vistos, não é assim: esperei quase uma hora pelo mais vulgar bife. Sempre com desculpas da esforçada empregada, que se queixava de estarem muitas mesas ocupadas...

A dada altura, decidi reclamar. Disse tudo o que me ocorreu, sugeri que em vez de restaurante abrissem uma papelaria, ou uma retrosaria, já que não tinham capacidade de resposta. Até cheguei a propor que fizessem uma Trindade mais pequena, com o número de mesas adequado ao tamanho da cozinha.

Aos meus argumentos, a esforçada empregada só conseguia pedir desculpa, acrescentando sempre “a culpa não é minha, nem sou eu que estou na cozinha”. Foi quando me encanitei e tentei explicar algo que há anos tento, sem sucesso, vender em diversos patamares: quem dá a cara por uma empresa, mesmo que não seja culpada por uma incompetência, é naquele momento a “cara responsável” do sucesso ou insucesso da marca. Ninguém pede contas a um cozinheiro de um restaurante – pedimos a quem nos serve. Ninguém reclama com o catering de um avião à empresa que o produz – reclamamos com a assistente de bordo (mesmo sabendo, sim, ;-), que um avião não é uma enoteca nem um restaurante...). Ninguém protesta com o serviço da TMN falando com Zenial Bava – reclamamos com o empregado da loja ou quem nos atende o telefone.

Quem dá a cara por uma empresa torna-se, para o bem a para o mal, a própria empresa. Pode ser por minutos, segundos, instantes, mas é assim mesmo – e saber isto distingue um mau de um bom profissional.

Na lógica contrária, quando tudo corre maravilhosamente – por exemplo, lá está, num restaurante... - a quem damos uma excelente gorjeta? A quem nos serviu. Não me lembro de alguma vez um empregado de mesa me ter recusado uma gratificação dizendo “a culpa não foi minha, o cozinheiro é que é genial”...

Claro que naquela noite, na esplanada da Trindade do Campo Pequeno, nada mudou. Mas pelo menos não me fiquei pela encanitanço: disse-lhes tudo. E no fim rematei informando que tinham perdido um cliente.

... Mas agora, pensando melhor, vou adoptar a frase-remate que o meu pai usava no fim das suas reclamações: “e se pensam que depois disto não volto, enganam-se: amanhã estou cá outra vez”.

E é isso. Pode não ser amanhã, mas eu vou lá voltar.

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