Outro sitio, se faz favor
Estou numa estação de comboios suja, triste e pobre, como se pertencesse a um subúrbio de um país cujo nome não localizamos no mapa. Procuro um café e descubro uma pequena esplanada à sombra. O vento arrasta latas de cerveja e copos de plástico pelo chão, voam guardanapos de papel, os pombos debicam os restos de comida que morrem nos cantos. O balcão onde se pede café já foi branco. A montra onde arfam, desmaiados, doces que parecem salgados, e salgados que parecem uma espécie de “delicias do mar” compostas de gordura, não inspira mais do que desprezo. Peço uma garrafa de água e sento-me cá fora. Estou à espera do comboio. Pouso a perna - sublinho, a perna, calçada de jeans, não o pé nem o sapato - num canto da cadeira que está à minha frente. Solícito, um empregado de unhas inadvertidamente escurecidas vem explicar-me que “assim” não era forma de estar. Levantei-me, mandei-o à fava e disse: “e se começasse por limpar a nojice que vai pelo chão e depois lavasse as mãos?”. Como era no Norte, o homem mandou-me discretamente para a p*** da minha mãe. Eu ri-me, o que o irritou ainda mais.
E fui para o comboio, onde regularmente me perguntaram se “desejava” alguma coisa. Respondi baixinho uma vez, mas ninguém ouviu: desejava outro sítio, se faz favor.