A minha vez de dizer “como se dissesse água”
Claro que a maioria dos filmes que vejo é apenas porque sim, e não me apetece discutir a sintaxe desta frase. Mas há circunstâncias que me empurram para filmes que já vi, ou que julgo ter visto, e que mudam tudo - porque são elas, as circunstâncias, a determinar o olhar sobre o filme. Como se mudasse de azimute e ganhasse um nova “tomada de vista” (como se diz em cinema). É nesses momentos que há surpresas.
Foi o caso. Voltei a “Out of Africa” por razões altamente definidas. Se lhe quiserem chamar HD, aceito. Queria rever o épico de Sidney Pollack, mas sabia muito bem porquê. Ou para quê. Em rigor, por quem.
Da vaga memória do visionamento de estreia, algures no final dos anos 80, ficaram alguns momentos, quase todos irrelevantes neste segundo olhar: a primeira viagem de avião dela, o casamento, os confrontos entre animais e pessoas na savana africana. A banda sonora, evidentemente. Paisagens a perder de vista. Sentimentos cruzados. Era disto que me lembrava.
E agora, revisitado o cenário, reconheço as razões daquela razão: a economia dos diálogos que os transformam em aforismos sobre a vida, o amor, as relações de poder, o poder; a ironia sempre a par e passo com o conflito sem nunca descambarem, uma ou outro; o encontro e o desencontro nas suas formas mais puras e sinceras, muitas vezes dolorosas também; o poder da solidão e a sua força redobrada quando à solidão se junta a obstinação. O que é o amor. O que é a vida. Por fim, mas no começo, os sentidos que dão sentido à vida.
Dei razão à razão de rever o filme. Mas, verdade seja dita, o que foi mesmo decisivo e relevante foi encontrar quem eu queria encontrar naquelas duas horas. Sim, Sofia: “como se dissesse água”.