O slide perdido
Em 1974, quando se deu o 25 de Abril, eu tinha 9 anos, quase dez. Guardo na memória uma manhã bem passada sem ir à escola, recordo a tensão e ansiedade no ambiente familiar (sem que isso me incomodasse – parecia uma tensão positiva, se me faço entender...), e depois lembro-me dos meus pais me porem em cima de uma chaimite, junto ao então Estádio da FNAT (hoje 1º de Maio), para que o fotógrafo Carlos Gil me tirasse uma fotografia com militares, cravos e espingardas. Terá sido na famosa manifestação do 1º de Maio, julgo eu.
Era um slide, um diapositivo (uma “coisa” que havia antigamente e que em vez de ser um negativo - que dava uma fotografia em papel -, era um positivo que se podia pro
jectar na parede ou imprimir numa revista). O slide andou comigo muito tempo nas caixas de fotos de sempre. Lembro-me bem dele. Mas perdeu-se nalguma mudança de casa – e como todos os slides, era objecto único. Eu tinha a idade que a foto documenta – basta agora imaginarem-me em cima de uma chaimite, ao lado de militares de G-3 na mão com cravos nos canos. Foi assim, há 37 anos.