Gritaria
A gritaria que se ouve no canal 1 da RTP ("Prós e Contras") desde as dez da noite de ontem é o mais evidente quadro de miséria de que é feito o mundo do futebol, a que eufemisticamente chamam de “sistema”: eles não são bons em primeiro lugar para eles próprios; depois, para os clubes que defendem; por fim, para o desporto a que chamam “rei”, mas há muito trocou o trono pela rua.
O pouco que se percebe da gritaria que por ali passa resume-se a um chorrilho de mentiras e falácias: “eles” dizem que não recebem um tostão do futebol, mas não contabilizam nesse “nada” tudo o que o futebol lateralmente lhes dá (e aos seus negócios, envolvimentos políticos, influências, etc); “eles” negam a corrupção e a coação, mas tudo o que dizem acaba por os denunciar e contradizer, e a ideia com que fica o espectador é de que todos, sem excepção, sabem mais do que dizem, e sabem pior; “eles” falam muito alto, porque têm pouco de consistente para dizer e gritando disfarçam dois problemas - o vazio, por um lado, e a culpa, por outro.
“Eles” são maus na arte de representar o papel que lhe coube em sorte. “O sistema está montado” (frase bastas vezes repetida ao longo da noite...) para que depois da gritaria todos se juntem, bebam uns copos e comam umas lagostas. O costume.