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Pedro Rolo Duarte

30
Set08

Quando tudo arde...

A raça é fraca: quando sente que tem a costa livre, abusa. Depois, quando a coisa corre mal, embrulha o sabor amargo da ganância e da ambição em designações sofisticadas, como subprime. Foi “sede de dinheiro”, mas tal disciplina não se estuda nas universidades.

A mesma raça pretende, de seguida, assaltar à mão armada o comum dos contribuintes para pagar a ficção em que viveu durante anos, em mais uma disciplina inexistente nos cursos superiores – “todos pagam o que só alguns gastaram”. O que temos aqui? Um cenário das trevas, sem dúvida.

Que dá direito a piadolas destas: as notícias sobre o fim da estatização da economia e do controlo dos meios de produção, vulgo socialismo, parecem ter sido claramente exageradas.

Eu sei que “o programa segue dentro de momentos”. Só não tenho a certeza de que seja o mesmo programa.

29
Set08

A minha alegre casinha

Se eu soubesse como assim se escreve, escreveria sobre o caso das casas na Câmara de Lisboa como ontem escreveu Vasco Pulido Valente no “Público”. Depois de o ler, o que queria escrever ficou redundante e a sua crónica tornou-se o meu post. Com a devida vénia:

«Por mais que se mude, não se mudam os portugueses. Vem isto a propósito do novo "escândalo" da Câmara de Lisboa. Parece que, desde o começo do regime, a Câmara de Lisboa resolveu (por razões que excedem o entendimento) "atribuir" casas a quem lhe apetece. Até agora já "atribuiu" de 3200, com uma renda média de 35 euros. Pedro Feist, vereador de Aquilino Ribeiro Machado a Carmona Rodrigues, não vê nada de extraordinário nisto: é uma "realidade histórica", explica ele, como se a duração do abuso o justificasse. Ele mesmo "meteu uma cunha" ao "seu colega da habitação" para um motorista que morava na Curraleira e acha a coisa "perfeitamente humana". Toda a gente, de resto, fazia o mesmo, com a mais tranquila consciência. A título de caridade oficial ou particular.

Amigos da vida ou do partido, artistas, jornalistas, família, família de família, protegidos desta ou daquela personagem política, que não convinha directa ou indirectamente ofender ou era conveniente afagar iam à câmara "pedir" e a câmara dava. Dava, com generosidade e simpatia, património público. Não havia regras. Quem apanhava, apanhava; e quem não apanhava que fosse bater a outra porta. A câmara, no seu desinteresse, nem sabe ao certo quantas casas tinha (ou tem) na "bolsa" com que alimentava, e alimenta, o arbítrio e o compadrio. Existe um estudo que ela própria encomendou, mas que nunca pagou e nunca leu. Preferiu com certeza a fluidez da ignorância. A ignorância permite que o primo da cunhada do sr. dr. ou o meritório jornalista Norberto recebam um T1 em Benfica, discretamente, sem questões, nem ruído. Uma lista torna o exercício mais nítido e polémico.

De qualquer maneira, o que principalmente espanta neste episódio é inocência da autoridade. Uma inocência genuína e profunda. Que um funcionário (eleito ou não eleito) distribua como quem distribui uma mercê propriedade da câmara, ou seja, do contribuinte, não perturba a cabeça de ninguém. Então um favorzinho, que não custa nada, é agora um crime? Os portugueses sempre se trataram assim: com um "jeitinho" aqui em troca de um "jeitinho" ali. E a administração do Estado fervilha de grupinhos de influência e de pressão que promovem, despromovem, transferem e demitem - e vão, muito respeitosamente, ganhando o seu dinheirinho por fora, com uma assinatura e um carimbo. Ética de serviço? Quem ouviu falar nisso?».

27
Set08

Que prazer, mais um livro do Miguel

Eu li estas crónicas quase todas. Mas é diferente lê-las com um sentido profissional, procurando uma imagem ou um destaque ou uma entrada, fechando um jornal, ou ter agora o prazer de as ler soltas. Sem compromisso. Sem qualquer outro objectivo que não seja o prazer de ler. E de aprender.

Agora é melhor. Agora é que eu as li mesmo.

Ele fala por escrito como eu o ouvi sempre falar, e fala daquilo que nos interessa: o que se come, o que se bebe, o prazer e a lógica, a explicação e a História. Ou sobre o amor, que é tudo isto e muito mais: “Ela ficou minha. Eu fiquei dela. É ou não é estranho e lindo e bem pensado por Deus Nosso Senhor que ambos pensemos que nos livrámos de boa e ficámos a ganhar? É.”

Não vejo nem falo com o Miguel há coisa de um ano, ou pouco menos. Falamos quando temos de falar – e não temos de falar, mesmo que queiramos falar, que é o que acontece sempre. Mas temos anos e anos em atraso e sempre que falamos combinamos que não há mais atrasos. Já sabemos que haverá.

Houve mais um.

E eu estou na Bertrand das Amoreiras à procura de um livro que tenha uma receita de Biryani (não sei como se escreve, mas quando é bem feito garanto-vos que é bom como nada – eu ía escrever tudo, mas não é verdade...). Não encontrei, mas fiquei de sobrolho arqueado quando vi, entre livros de receitas, este “Em Portugal Não se Come Mal”.

No meu entusiasmo imediato, peguei no livro e fui para a caixa mas, felizmente, a meio do percurso, caí em mim: pessoas que “escondem” um livro do Miguel, que não percebem que aquele livro não é para arrumar entre manuais de receitas de bife e tratados de cozinha chinesa, não merecem o meu dinheiro. Voltei atrás e deixei lá o livro escondido, como eles preferiram colocá-lo. E vim cá abaixo à Bulhosa, onde o livro estava razoavelmente colocado. Comprei.

Desde ontem que me acompanha pela casa. Porque, como bem diz o Miguel, “as alegrias, para serem grandes, não precisam de não ser pequeninas: basta-nos que sejam nossas”.

Esta também é minha.

O livro. A capa. A couve nas mãos de quem sabe o que vale e merece.

E os textos, o que se aprende. Duas gorduras. Grelhada só a sardinha. Camarão e ovo estrelado. O que eu perdi por ler estas crónicas em trabalho...

“Em Portugal Não se Come Mal” é mais uma grande e bela colecção de textos grandes e belos do Miguel. Será uma pena se as estúpidas regras “moderninhas” dos livros e das editoras, nestes tempos foleiros, o colocarem longe dos olhos do público, ou seja: longe do sucesso.

Até por isto: “O maior segredo da felicidade é a evidência da vida – aquilo que é claro como água, que não precisa de ser medido. A felicidade está em dar o justo valor às coisas que o têm, desde o amor à amizade à água. O resto é sobresselente. O resto, como o álcool, é alegria”.  

Há Miguel Esteves Cardoso melhor do que o Miguel? Não há.

26
Set08

Desabafo:

Tirem-me o Marques Mendes da vista.

Já sei do livro. Já sei que vai voltar um dia destes. Já sei que ganha dinheiro. Já percebi que está lixado com o PSD. Já percebi que não lhe correu bem, mas também não se conformou.

Portugal está avisado sobre o facto de ser exagerada a notícia da morte política de Marques Mendes.

Sabemos que tem um livro.
Usa o verbo “mudar”, o que me parece extremamente actual.

Ainda assim, para onde quer que me vire, levo com o pequeno Marques como se fosse um grande Mendes. Passo o dia a recompor a minha hierarquia pessoal de relevâncias...

Permitam-me então que estenda o desabafo: imprensa, rádio e televisão foram muitíssimo bem enganadas pelo escritor Marques Mendes. Conseguiu o pleno sem o merecer – e todos os media perderam por se equivalerem uns aos outros, sem começo nem fim, e se repetirem como se detivessem exclusividade.

Um bom caso para estudar nas faculdades. E não repetir. Só o autor ganhou – dado que até à data estava dado como desaparecido em combate, e repentinamente renasceu na enorme piscina onde se afogavam o marketing e a comunicação, enquanto vários directores de informação nadavam em doca seca.

25
Set08

O Estado da Nação

Ao contrário do que pretendia o Plano Nacional de Saúde, os portugueses aumentaram significativamente o consumo de ansiolíticos, hipnóticos, sedativos e antidepressivos: um milhão e 800 mil embalagens a mais entre 2003 e 2006. Os dados são do Alto-Comissariado da Saúde.

Contas feitas, em 2006 foram consumidas 26,3 milhões de embalagens deste tipo de medicamentos, o que dá, apenas para efeitos de imagem infográfica, uma média de 3,5 embalagens por adulto maior de 24 anos.

Os números parecem querer dizer-nos que Portugal vive algures, entre o efeito tranquilizante dos ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, e o optimismo químico dos antidepressivos. Ou seja, entre o que precisa para aguentar a pressão da infelicidade e o que lhe garante os mínimos olímpicos para acordar todos os dias.

Eu sei que só se fala de dinheiro e economia. Mas é este, também, o Estado da Nação.

23
Set08

O preço certo

Aqui há dias, num jantar de amigos, um profissional de uma grande petrolífera, instado pelos presentes a explicar este “fenómeno do Entroncamento” que se traduz na súbita subida do preço dos combustíveis quando o barril aumenta, e na lentíssima descida quando o barril baixa, pediu quatro minutos de atenção e explicou a lógica deste mercado. Começou por antecipar que, mesmo entendendo a sua exposição, todos nós iríamos continuar a ver nas gasolineiras as más desta fita. Ainda assim, resumiu um complexo negócio embrulhado num teia de reacções em cadeia. Eu percebi a explicação dele, de resto corroborada por alguns blogs que sigo na net.

Ontem, começo a ver as reduções dos preços em todas as frentes e fiquei de novo baralhado. Ocorrem-me estas dúvidas...

  • Se é verdade que as descidas agora consumadas resultam da baixa do preço do barril de petróleo, então parece óbvio que podiam ter ocorrido há mais tempo. Alguém vai conseguir quantificar os lucros extra das petrolíferas nos dias que mediaram entre a queda do preço internacional e a “saia justa” em que se sentiram José Sócrates e Manuel Pinho e levaram o Governo a dar sinal de vida?
  • Se é verdade que as descidas foram provocadas por essa pressão do Governo nas diversas intervenções públicas sobre a matéria, estamos perante petrolíferas frouxas? Ou seja, é plausível que numa área de negócio extremamente forte, competitiva, variável e controlada por diversos reguladores, dois ou três discursos televisivos (e talvez uns tantos telefonemas...), mudem o curso do negócio, baixem os lucros, e ofereçam das empresas uma imagem medricas e assustadiça? Como analisam os accionistas das diversas empresas esta sequência de factos?
E por fim...
  • ... Se a convocatória da Deco para a “jornada de protesto” contra as empresas petrolíferas estava directamente relacionada com os preços dos combustíveis, a única atitude que lhe resta, neste momento, é desconvocar o seu ridículo protesto. Entre todos os discursos demagógicos que estas situações sempre convocam, o pior de todos será sempre aquele que exibe de si o que critica nos outros: défice de seriedade e rigor.

22
Set08

Um domingo bom

Há fenómenos que, por mais tempo que passe, e por mais que o tempo passe, não deixam de vir ter comigo nos momentos cruciais. Vinha de regresso a Lisboa, depois de passar dois dias num cenário idílico e romântico a testemunhar e aplaudir e festejar o amor de uma grande amiga de sempre, e parei numa estação de serviço para tomar café. Apercebi-me de que, com a correr do fim-de-semana, nem tinha comprado o jornal. Fui buscar o “Público”. Ao ver o destaque que o jornal fez ao nome da Anabela Mota Ribeiro e ao começo de uma colaboração com a “Pública”, senti uma espécie de frio doce na barriga e outra vez aquela pontinha de orgulho que me deixa meio sem jeito. Neste caso, resulta de um passado em que recebi a Anabela de braços abertos no DNA e vivi feliz com os seus mails cheios de ideias e de perguntas e de olhos abertos para o Mundo. A Anabela foi sempre a mais perfeita das colaboradoras – porque cumpria em silêncio, sem ondas, com humildade e dedicação. As suas ideias eram tão boas quanto subliminares, por isso sempre aceites. O seu entusiasmo era irresistível, mesmo quando não havia dinheiro para pagar. Como senão bastasse, ela sabia/sabe levar a água ao seu moinho, o que neste caso significa levar as palavras ao seu entrevistado e dele sair uma vida inteira.

A Anabela nunca deixou de escrever e publicar desde esse tempo cúmplice - mas sempre pensei que ela merecia mais. Merecia ter o nome na primeira página do jornal. Merecia que esse nome traduzisse o que ela faz: algumas das melhores entrevistas de imprensa que se publicam entre nós (e que contribuíram, mais do que se julga, para que o DNA ainda seja recordado com saudade...).

O fenómeno da “pontinha de orgulho” é disparatado, eu sei. Mas verdadeiro. Vi o seu nome na primeira página do “Público” e senti que o talento, o trabalho e a paixão ainda têm um lugarzinho pontual na imprensa que há.

E assim o meu domingo continuou em paz até ao fim do dia.

20
Set08

Cala a boca, Magda!

Há momentos felizes: eu andava à procura de um texto antigo que ficasse bem no fim-de-semana do blog. Guardo desordenadamente em discos externos a história virtual da minha vida e os nomes das pastas e ficheiros são verdadeiros enigmas, especialmente para mim, que os criei: “ficheiros já guardados Novembro 2000” é um nome tipo de uma pasta; “Visão 156” é um clássico nome de ficheiro. Depois há tentativas de organização sofisticadas que levam a ficheiros com titulos assim: “DNA 145 2005-06-09”. Ou descritivos: "Ensaio Agosto", "Carta do Alentejo a ver"...

Em geral, preciso de uma a duas horas para encontrar o que procuro. Quando encontro, claro.

Foi numa destas mil pastas de arquivo informático que às tantas vejo um ficheiro do Word com o nome “Magda”. Soou a campainha. Magda? A Magda do “Sai da Baixo”? A burra gira mais divertida da história do humor brasileiro?

Era mesmo. E o que era? Era uma colecção de frases tontas, tolas e impagáveis da personagem, tiradas da série, e colocadas num site qualquer  alimentado por admiradores da actriz Marisa Orth.

Há melhor para um sábado ou domingo do que uma memória breve de “Sai de Baixo” – talvez a ultima série de humor que eu agendava na Filofax para não perder... - e da sua incontornável Magda?

Cá vão umas tantas...

  • A gente precisa dar uma olhada na nossa árvore ginecológica!
  • O pessoal aqui do prédio é muito linguarudo, depois fica aquela felação...
  • Será que ele vai meter os pés pelo anão?
  • Justo agora, que a família ia de vento em sopa...
  • Vício? Tio Vavá, o senhor anda cheirando proteína?
  • Você é o ar que eu transpiro.
  • Eu não sei mais o que fazer pra chamar a atenção do Caco... pensei até em fazer uma lipoinspiração, um displante de cabelo... pensei até em usar uma lente de contrato.
  • Tá parecendo um artista de cinema, tá praticamente um galão!
  • Só falta dar uma afogadinha nos legumes, botar o frango pra assanhar... ah, depois também eu descobri que cozinhar não é nenhum bife de sete cabeças.
  • Eu perdi a loção do tempo.
  • Pretendo ser tua parceira na alegria, na tristeza, na saúde, na doença, fumantes e não-fumantes.
  • O senhor sabe muito bem que durante toda minha vida eu sempre fui uma mulher estériosexual.
  • Aceita um cheque pré-deitado?
  • Finalmente a felicidade bateu à sua porca.
  • Vocês não tão vendo, vocês ficaram surdos?
  • Se o encanador não é quem parece eu só posso chegar à conclusão de que as aparências encanam.
  • Isso aqui ficou com cor de burro quando chove.
  • Ele não consegue pintar nem olhando pra mim, que sou a mula inspiradora dele.
  • Eu faço um nú artístico pra você... você pode pintar uma Mongalisa, um Santo Seio, ou até uma Vênus Mamilo.
  • Eu tô exausta, Caquinho, fiquei horas tentando apagar a luz da geladeira...
  • Eu preciso comprar um sutiã pra aprender a nadar de peito!
  • Minha boca vai ser um cúmulo!
  • Não me trata assim que eu me sinto um cão com o nabo entre as pernas.
  • Cospe, cospe no pato que comeu!
  • Quem espera sempre cansa!
  • Foi você que me mandou esse bufê de flores?
  • Você ainda vai comer o pau que o diabo abraçou!
  • Eu não desistirei, até o dia em que as galinha botarem ovos!
  • Como é que eu ia saber o dia em que a mamã nasceu, eu não tava lá!
  • Edileuza, faz aquele bolo de chocolate com cão de ló!
  • Nós precisamos arranjar um médico pederasta pra essa criança.
  • Estou tão certa como bois e bois são pato.
  • Como perder o avião? É uma coisa muito grande pra se perder.
  • Se mamã vai vestir de gala eu vou vestir de galinha.
  • Deus escreve esperto por lindas portas.
  • Você está me transformando numa cereal killer.
  • Adoro trocar idéias... mas eu só posso trocar as repetidas, senão eu fico sem nenhuma.
  • Você tá morta? Se você morreu fala pra gente... assim vai adiantando a certidão de órbita.
  • Nós temos que começar a fazer filhos agora... depois, quando a gente ficar bem velhinho, a gente começa a fazer os netinhos.
  • Que mau humor... o que foi, acordou com o pau esquerdo?

19
Set08

Ao primeiro número

 
  • Uma crónica da António Skármeta sobre o fumo do tabaco que, no fim de contas, é uma crónica sobre o amor.
  • Uma entrevista “extrema” de Mário Vargas Llosa onde, instado a revelar o segredo da sua relação conjugal de 30 anos, responde apenas: “Total Surrender”.
  • Uma entrevista de fundo, única e exclusiva, com o juiz que comandou o julgamento dos atentados de 11 de Março em Espanha.
  • A inside story da família Agnelli e da herança do patriarca Gianni.
  • A história completa de Christophe Rocancourt, o aldrabão que se fez passar por Rockefeller e andou anos a brincar com meia Hollywood.
  • O perfil de Elena Tregubova, a jornalista russa que passou anos a denunciar a corrupção no Governo do seu país e saiu milagrosamente ilesa de um atentado que pretendia calá-la para sempre.
  • Uma entrevista de vida com Mário Conde, o espanhol que melhor conhece a linha precipitada que separa o riqueza da prisão: “O que separa o êxito do fracasso? A sorte”.
  • Uma sessão fotográfica exclusiva com Rania da Jordânia nas dependência privadas do Palácio de Amman, assinada por Mário Testino.
  • Um portfolio dos espanhóis “incríveis”, os melhores das suas categorias, assinado, entre outros, por Norman Jean Roy (fotografou o toureiro Cayetano Rivera Ordonez), Annie Leibovitz (fotografou Penélope Cruz), Julian Broad (fotografou, por exemplo, Cristina Iglésias), e Thierry Bouet (fotografou Mariluz Barreiros).
  • Uma entrevista com Rafael Nadal.
  • Uma reportagem sobre a marca Hermes.
  • Uma tarde passada (e fotografada) em casa de Paul Auster na véspera de lançar o seu novo livro.
  • Uma produção fotográfica com as mulheres (lindas, meu deus...) de Manolo Blahnik para homenagear os sapatos do criador.
  • Um périplo Madrid-Nova Yorque-Londres ao lado de Elena Ochoa, a incontornável mulher da arte internacional.
  • Um regresso à casa de Serge Gainsbourg em visita guiada pela filha, Charlotte.
  • E por fim uma entrevista com Graydon Carter (editor da “mãe” norte-americana) em que revela o seu lema de vida: “Prepara-te para o pior, espera o melhor. E guarda sempre as facturas”.
 

Um índice destes, a que se acrescentam secções e crónicas e rubricas, merece 3,5 euros? Não. Por comparação com a imprensa que circula à nossa volta, merece pelo menos uma nota de dez.

E mesmo assim parece impossível. Mas não é.

É o primeiro número da edição espanhola da “Vanity Fair”. Um monumento editorial em 338 páginas, uma lição da arte de fazer revistas. Um sonho.

 

(Quando em Portugal um empresário acreditar num projecto com este alcance, qualidade e notoriedade, e perceber que quando se faz o máximo se pode esperar retorno máximo, teremos chegados ao patamar da excelência na industria dos media. Até lá, é mais do mesmo.)

16
Set08

A lasca que atasca

(Apontamento breve depois de escrever a crónica de hoje para o rádio. Para quem não sabe, na Antena 1 registo diariamente as opiniões que se encontram pelo mundo dos blogues nacionais a respeito dos temas de actualidade. Para o fazer, percorro todos os dias, em média, 50 a 70 blogues, segundo critérios variáveis que fui definindo ao longo do tempo - já lá vão dois anos e meio... - e que um dia destes explico...)
 

Quem se der ao trabalho de navegar pelo blogues onde se discute politica, se pensa politica, e se debatem ideias, ficará no mínimo atordoado com o “estado da nação”: à falta de diferenças sérias e sustentadas que oponham a esquerda e a direita, ou de temas fracturantes que alimentem o debate com a mesma vivacidade dos tempos dos referendos, a candidata republicana norte-americana Sarah Palin tornou-se o bombo da festa e é um saco de boxe para meio-mundo. A forma como a esquerda a ataca é ridiculamente infantil, tão absurda como a da direita que a defende. Escreve-se sobre a senhora como se ela fosse conhecida desde sempre, como se cada parágrafo da imprensa norte-americana fosse definitivo e sem mácula. Qualquer boato serve para alimentar a fogueira. A desconfiança que paira permanentemente sobre a imprensa portuguesa é sumariamente substituída pela provinciana veneração às virtudes da imprensa americana. Como se o “New York Post” fosse melhor do que o “24 Horas”. Não é.

O que me espanta não é a circunstância da senhora ser como a urtiga e provocar reacção na raça – o que espanta é o facto de ser cada vez mais difícil encontrar polémica, discórdia e debate para lá da espuma dos dias. Porque, na verdade, Sarah Palin é espuma – tão espuma como em Portugal “discutir” Luís Filipe Menezes.

Dir-me-ão que existe e é candidata a vice-presidente dos Estados Unidos da América. É verdade. Mas é sempre bom lembrar que esse país já teve, entre outros cromos, um mau ex-actor de segunda ordem na Presidência. Isto para dizer que a profundidade do debate de ideias não se encontra, em geral, na Casa Branca – e ir lá buscar a bandeira que marca as diferenças é um pouco como se quiséssemos debater Portugal e o futuro que nos espera tendo Alberto João Jardim como elemento inspirador...

Sarah Palin é apenas mais uma bandeirinha no folclore das eleições norte-americanas. A “lasca do Alaska”, como lhe chamou Ana Gomes, é afinal o lugar onde a politica, por fim, e para rimar, atasca. Também rima com rasca, caso dê jeito.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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