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Pedro Rolo Duarte

28
Fev09

A crise tem paraísos (e não são fiscais)

 
 

Lendo as notícias do dia sobre a imprensa – na própria imprensa... – noto com satisfação que há um sector que não é afectado pela crise: os jornais portugueses somam e seguem em vendas, batem recordes, há mesmo grupos empresariais que se orgulham de terem subidas em todos os seus títulos. E não hesitam em noticiar os feitos do momento.

Mais difícil vai ser explicar, ao mesmo tempo, despedimentos de dezenas de trabalhadores, orçamentos minguados, vencimentos congelados, e o discurso diário da crise e da ameaça de falência.

Sempre foi assim. Mas agora nota-se mais.

 

27
Fev09

Exercício sobre um bocadinho de Alberto Gonçalves

Como, felizmente, o Vasco Pulido Valente está vivo e recomenda-se, raramente leio Alberto Gonçalves – da mesma forma que, em havendo manteiga, dispenso a margarina. Ontem, no entanto, tropecei, em plena revista Sábado, neste bocado de prosa de Gonçalves:

“Sucede que o dr. Passos Coelho não é uma pessoa normal: é um político e, para cumulo, um português, duas características que, acumuladas, em geral garantem tamanha distância do conhecimento que este adquire o carácter sagrado atribuído pelos primitivos à trovoada”.

Não consegui “descolar” deste raciocínio elaborado enquanto não me dei ao trabalho de fazer o exercício de adaptação consecutiva. Por exemplo:

“Sucede que José Saramago não é uma pessoa normal: é um escritor comunista e, para cumulo, um português, duas características que, acumuladas, em geral garantem tamanha distância do conhecimento que este adquire o carácter sagrado atribuído pelos primitivos à trovoada”.

Ou esta outra hipótese:

“Sucede que o Gouveia não é uma pessoa normal: é um taxista e, para cumulo, um português, duas características que, acumuladas, em geral garantem tamanha distância do conhecimento que este adquire o carácter sagrado atribuído pelos primitivos à trovoada”.

Admiti mais esta versão (mesmo que parecesse suspeita):
“Sucede que Pedro Rolo Duarte não é uma pessoa normal: é um jornalista e, para cumulo, um português, duas características que, acumuladas, em geral garantem tamanha distância do conhecimento que este adquire o carácter sagrado atribuído pelos primitivos à trovoada”.

Terminei em beleza:

“Sucede que o dr. Alberto Gonçalves não é uma pessoa normal: é um sociólogo e, para cumulo, um português, duas características que, acumuladas, em geral garantem tamanha distância do conhecimento que este adquire o carácter sagrado atribuído pelos primitivos à trovoada”.

E não é que o exercício bateu sempre certo? Para a semana vou voltar a ler Alberto Gonçalves. Sempre me interessou a Sociologia.

 

26
Fev09

O que acontece no tempo que corre

Aderi ao Facebook há dois anos, com a mesma leviandade, inconsequência e descrédito com que aderi ao Hi5, ao MySpace e a outras redes a que nem tenho acesso porque entretanto perdi as passwords e as páginas de entrada. Sou assim e já não devo mudar...

Durante muito tempo, o Facebook (FB) reduzia-se, na minha vida, a uns mails que me informavam que pessoa A ou B “added you as a friend on Facebook.  We need to confirm that you know R. in order for you to be friends on Facebook”. Não dei grande atenção.

Por causa das crónicas da rádio, dos blogues, e de pessoas que precisava de contactar, comecei a frequentar no ano passado, com maior frequência, aquela rede. Apercebi-me então da funcionalidade e da graça do FB por oposição à infantilidade e inutilidade das demais redes congéneres: o utilizador pode construir a sua presença/página à medida dos seus interesses, gerir os acessos de estranhos educada mas rigorosamente, e há uma relação directa e lógica entre a atitude do utilizador e a reacção da rede. Isto quer dizer: mais actividade provoca maior reacção, o recato é em geral respeitado, e o gossip é moderado, porém divertido. Quase como se o Facebook fosse o meu bar – e como se o meu bar fosse do tamanho do planeta, ainda assim frequentado por quem conheço ou amigos de quem conheço. Sem hora de fecho ou abertura... Parece perfeito, não é?

Claro que não é.

Mas tornei-me militante da coisa. Faz parte das minhas rotinas diárias, e já me deu algumas alegrias – nomeadamente, o reencontro com pessoas que há muito não via ou sobre as quais nada sabia há tempo demais, além de um contacto próximo com aqueles de quem gosto e que de mim gostam.

Ontem comprei de propósito a “Fortune” por causa do artigo de capa. Fiquei a saber que o Facebook (3,7 biliões de dólares de valor oficial em Junho do ano passado...) é campeão na velocidade de adesão: em cinco anos chegou aos 150 milhões de usuários (o velho telefone demorou 89 anos a conseguir o mesmo, o telemóvel precisou de 14 e o IPod ainda levou os seus sete anos...). Percebi também que a ideia de fazer desta plataforma o denominador comum da comunicação no século XXI – o upgrade tecnológico do telefone e de todo o seu enquadramento - faz sentido no âmbito dos planos de desenvolvimento que a marca revela no artigo da revista. Na verdade, comunicar não é mais o acto puro e simples de falar – é isso e tudo o que envolve o acto: exibir, sentir, cheirar, interagir, ver, ouvir, enfim...

Na capa da “Fortune” está Mark Zuckerberg, 24 anos, o fundador e CEO do “Facebook”. Miúdo do caraças.

E eu não consigo deixar de exclamar. Que tempos apaixonantes, fascinantes, demolidores, radicais e fantásticos, estes que vivemos por entre crises, dramas e emoções fortes...

24
Fev09

Quando a pizza se encontra com o bacalhau

Só podia ser engano: por cima da pizza um cartaz dizia “bacalhau com natas”. Comentei para o lado que certamente ali, onde estava agora a pizza, teria estado em tempos uma travessa de bacalhau e que, por distracção ou esquecimento, os funcionários daquele balcão corrido do Corte Inglês se tinham esquecido de mudar a placa identificativa.

Foi então que me explicaram: é mesmo assim. Há uma pizza no balcão das ditas do Corte Inglês que, em vez de tomate e queijo ou cogumelos, ou presunto, ou rúcula, ou manjericão – enfim, em vez dos ingredientes que fazem de uma pizza, uma pizza, tem em cima da massa... bacalhau com natas.

Podia ser uma pizza mascarada por ocasião do Carnaval, podia ser uma pizza espanholada, podia ser uma pizza brincalhona. Mas não era. Não é.

A nossa terrível tendência para baralhar e confundir tudo chegou também à comida rápida. Em breve espero ver naquela montra a “pizza cozido à portuguesa” ao lado da “pizza caldo verde”.

Na verdade, quando a pizza se encontra com o bacalhau com natas, tudo é possível. O Mundo está perdido.

21
Fev09

A novela da vida real

Há perguntas que me perseguem desde a juventude e para as quais nunca obtive resposta: por que motivo as mais bonitas cartas de amor são as que concluem ser ele impossível? Por que são dramáticos e cheios de lágrimas os melhores filmes românticos? Por que há mais morte do que vida nas histórias que ilustram os amores mais arrebatados - na literatura, no teatro, no cinema?

Ou, no fundo, apenas esta pergunta: por que raio o mais nobre e belo dos sentimentos arrasta consigo o sangue e a dor, sempre e eternamente?

Filósofos, pensadores, teóricos e escritores reflectiram sobre esta pergunta desde sempre - e encontraram respostas. Mas, como dizia um amigo de infância, “a desculpa não apaga a dor”: as respostas não satisfazem e a ideia platónica não se dá bem com o meu signo (Touro, para quem não sabe...). O que observo, dia a dia, são paixões e afectos marcados pelo sofrimento e pelo conflito – sem razão maior do que aparente, já que todas as pessoas querem os amores elementares que a Madredeus canta, “danças na grande roda” no terreiro, duas pessoas e um sentimento comum.

Isso: duas pessoas e um sentimento comum. Tão simples, tão fácil, tão natural.

E no entanto...

... Olho de soslaio o televisor da sala e vejo o meu filho embevecido com o “Feitiço do Amor”. É para mim um mistério que um miúdo de 13 anos - que ignora olimpicamente as raparigas, e que só liga às raquetes de ténis-de-mesa, às performances do Benfica, e aos livros de espionagem – se entregue à trama de uma novela. Ele não me esclarece e escuda-se por detrás de argumentos esfarrapados, tipo “habituei-me a ver com os avós...”. Não me convence, e acabo a ver o folhetim para perceber o seu interesse: oiço pessoas a gritar, a chorar, a sofrer e a descobrir traições tremendas. Ou, no limite, a “explicar” e “desfazer” os equívocos que geralmente são, afinal, verdades escondidas. Fico na mesma.

Abro parêntesis.

Lembro-me de ler, nos anos 70, teses sobre as novelas da Globo que explicavam o seu sucesso pelo facto de reproduzirem fielmente as relações emocionais dos espectadores, fosse numa fazenda do século XIX ou numa “quadra” sofisticada de São Paulo. Quanto mais próximas da vida vivida – ou sonhada para quem a pretendia viver... -, maior a probabilidade de sucesso.

Acredito nesta tese. Por isso acredito que a vida das pessoas é a transposição para a realidade da vida das novelas – e o seu contrário. Envolvidos nesta trama, vivemos a novela real, e vivemos pela novela a realidade que nos falta.

Fecho parêntesis.

Chego ao beco sem saída: procuramos o amor elementar, inicial, primeiro e primordial. Desejamo-lo, sonhamo-lo – mas depois vamos rever-nos na gritaria e na lavagem de roupa suja de uma novela, vivemos vidas duplas sem qualquer espécie de sentido, paz ou felicidade. E como se não bastasse, vemos os nossos filhos crescer já enredados nestes quadros do “Feitiço do Amor” - que eles ainda não vivem, nós desejaríamos que não vivessem, e que nem conseguimos perceber como os atraem nos dias em que, nas suas existências, o centro da vida está numa bola de ping-pong ou de ténis.

Acabo por reconhecer, contrariado, que o meu filho também já deve viver a sua novela – e para variar eu vou ser o ultimo a saber, e então vou repetir o estereótipo: faço-lhe uma cena, há gritos, lágrimas e equívocos, enfim...

O mais nobre e belo dos sentimentos arrasta consigo o sangue, o sofrimento e a dor. Nunca irei perceber porquê. Mas parece óbvio cada um de nós tem a sua novela à espera. É só vivê-la.

 

Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman

17
Fev09

Facebook

 

Pedro ia escrever sobre o casamento entre homossexuais.
Pedro não tinha afinal nada para dizer sobre a matéria – porque na verdade Pedro acha que todos devem poder casar-se, independentemente da sua orientação.
Por causa disso Pedro pensa escrever sobre a crise.

Pedro está há mais de 15 minutos sem saber o que escrever sobre o crise.

Pedro não tinha afinal nada para dizer sobre a matéria. Porque está à vista.

Pedro é agora amigo do Nokia E66.

Pedro nota que no Facebook todos escrevem na terceira pessoa do singular, como o Jardel e outros futebolistas famosos.

Pedro escreveu no mural de Portugal: tirem-me daqui!

Pedro é agora fã dos filmes Vicky Cristina Barcelona, Benjamin Button e Quem Quer Ser Bilionário?

Pedro comenta uma fotografia de Dias Loureiro: hmmm (enquanto roda o dedo indicador na pontinha do nariz…)

Pedro mudou a sua fotografia de perfil.
Pedro ainda não acabou de ler a “Monocle” de Fevereiro.
Pedro logout
15
Fev09

O coração fora do corpo

No dia dos namorados fugimos à regra. Eu cozinhei e jantámos juntos...

... Estávamos a falar sobre pais, filhos, relações que resultam de novas famílias, e éramos cinco pessoas que juntas representavam qualquer coisa como nove casamentos, onze filhos, e um número incalculável de alegrias e tristezas.

A minha infeliz e sempre traiçoeira memória impediu-me de deixar, na conversa, a frase que eu conhecia (e estava no “Dualibi Essencial”). Fazia-me falta para explicar o que penso, isto é, o que sinto. Agora que acordo sobre o tema, aqui está a frase de E. Stone:

“A decisão de ter um filho é muito séria. É decidir ter, para sempre, o coração fora do corpo”.

Era isto que eu queria dizer ontem. E que quero dizer, por hoje.

13
Fev09

Aforismos

 

“Na vida encontrei basicamente três tipos de pessoas: as que sabem contar e as que não sabem”.

É muito boa a edição (espanhola) de Fevereiro da Esquire, especialmente dedicada à brilhante ideia “O que sei da vida” (originalmente "What I've Learned"", na edição norte-americana, e já copiada por todo o lado, Portugal incluído...), e cuja capa é assim, como se vê, com o autor da frase que cito, Homer Simpson, que também diz esta outra linda barbaridade: “O bom da Internet é que as crianças aprendem tudo sozinhas...”.

Ah, é verdade, José Saramago também aparece. E diz: “Nunca fui uma pessoa dedicada a cultivar a saudade. Tenho a consciência de que o tempo passa e sei que nós passamos com ele”.

Gosto de aforismos, mesmo quando os autores não pensam realmente o que dizem pensar.

11
Fev09

O que há a fazer agora:

 
 
Contratar Scolari para a Selecção Nacional.
Sugerir Queiroz para o FC Porto.
Remover a Dra Manuela Ferreira Leite.

Nomear administrativamente o Dr. Pedro Passos Coelho (perdoando-o previamente pela ausência de milagres e previsível derrota eleitoral).

Proibir Diogo Morgado de continuar a entupir os poros com maquilhagem: não convence, seja qual for o registo.

Contratar Scolari para a Selecção Nacional.
Deixar jogar o Mantorras.

Abrir um blog para a Dra. Manuela Ferreira Leite: “Abruptamente, neste Inverno”.

Aceitar, deixando uma lágrima escorrer pela face, que Joana Amaral Dias é o Manuel Alegre do Bloco.

Impedir Joana Amaral Dias de formar um Partido ou escrever poemas.

Interditar o árbitro Pedro Proença dos jogos do seu Benfica.
Contratar Scolari para a Selecção Nacional.

Contratar Marcelo Rebelo de Sousa para não encanitar o Dr. Pedro Passos Coelho.

Descobrir uma Junta Médica que assegure que, afinal, fazem bem à saúde: batatas fritas, ovos estrelados, bifes com molho, pão com manteiga.

Contratar Scolari para a Selecção Nacional.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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