Estou a ler
Em chegando à página 136:
“Vivia permanentemente inquieto, como quem está num aeroporto à espera de avião. Dantes, quando voava muito, nunca era capaz de se concentrar num livro até o avião levantar voo, portanto passava o tempo antes do embarque a folhear revistas e a ver coisas nas lojas de lembranças, e para ele é esse o sabor das duas últimas décadas: o longo folhear de uma revista. Se soubesse quanto do seu tempo ia ser passado no átrio do aeroporto que era a sua vida, teria feito outros planos de viagem, mas assim ali estava, a suspirar e a agitar-se, e mais frequentemente do que seria aceitável, a implicar com os companheiros de viagem”.
O que eu gosto nos livros de Nick Hornby (o “Como ser Bom” continua no meu top de livros para curar desamores com ironia e sarcasmo, e este de que falo é “Juliet Nua”, traduzido este ano para português) é a capacidade que tem de nos fazer pensar sobre uma ideia simples e forte, como esta da inquietação que nos deixa a viver não mais do que como folheando uma revista. E a ideia desliza assim, suavemente, no meio de uma novela irónica sobre a vida moderna, sem pretensões mas (lá está…) superiormente inteligente do ponto de vista da relação entre a realidade e o humor. E deixa-nos a pensar.
Gosto disso numa noite quente de Agosto. É o caso.