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Pedro Rolo Duarte

29
Set10

Uma frase infelz

«O povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre», disse hoje Almeida Santos.

Não posso estar mais de acordo – desde que, naturalmente, o Dr. Almeida Santos aceite também sofrer as crises como o povo as sofre. É muito simples: o povo vai viver com o salário médio de um membro do Governo, mais o carro, as ajudas de custo, o motorista, a ementa do costume; e o Dr. Almeida Santos vai viver sem vencimento, ou com o ordenado mínimo, e o novo choque financeiro, ali num subúrbio animado do norte de Lisboa.

Dava um belo programa de televisão para a TVI.

E sempre se podia falar de justiça e equidade social, não? Ou o Dr. Almeida Santos estava a falar de outra coisa qualquer que eu não percebi?

25
Set10

Tudo delas?

(Crónica originalmente publicada em Agosto na Lux Woman)

 

Uma revista norte-americana dedicada às elites pensantes, a “The Atlantic”, dedica uma edição especial por ano a explorar e divulgar novas ideias que podem mudar o Mundo, ou pelo menos a forma como o observamos. Normalmente as “ideias” que a “Atlantic” amplifica são interessantes, divertidas, inquietantes.

No “especial” deste ano, chamou-me a atenção a capa: “The End Of Men”, um título acompanhado pela sinalética masculina com a seta, normalmente virada para cima, tristemente caída para o lado direito. Como se a virilidade masculina tivesse perdido o fôlego... O artigo, assinado por Hanna Rosin, sustentado por muitos factos e números (da força de trabalho norte-americana, pela primeira maioritariamente feminina em 2010, à relação entre a presença das mulheres nas direcções das empresas e o melhor desempenho das companhias), procura demonstrar que neste começo do século XXI as mulheres estão efectivamente ao nível dos homens. Não apenas nos direitos, nas garantias, nas liberdades, mas também na potencial “competição” no mundo do trabalho.

Até aqui, nada de novo. É o resultado de um árduo trabalho de muitas décadas pela conquista de direitos essenciais – hoje, óbvios, mas nem sempre tão óbvios assim.

O artigo, no entanto, vai mais longe e deixa uma pergunta com água no bico: e se, na verdade, as mulheres não quiserem apenas a igualdade, mas quiserem mesmo o poder, a supremacia, a liderança? Assim, de rompante, a pergunta até pode parecer assustadora. Como se as mulheres constituíssem uma raça à parte, organizada, com “um plano secreto” para tomar conta disto. Em conversa com amigos e amigas, esta teoria da conspiração ganhou rapidamente adeptos: “é óbvio que nós queremos mandar”, disse-me uma jornalista, ao lado de quem um advogado tranquilo sorria: “querem, mas não sabem...”.

O debate foi rapidamente transformado num momento de humor com a clássica troca de mimos entre os dois sexos. Mas eu fiquei a pensar no tema – não pelo lado conspirativo, mas pelo lado efectivo. E se de uma vez por todas as mulheres ocupassem o poder, fossem maioria nos governos, nas empresas, nos sindicatos, no Parlamento?

A esta pergunta, a minha resposta foi: por mim, sim. O que hoje se valoriza na actividade humana – inteligência emocional, capacidade de multiplicação de actividades, capacidade de comunicação -, sempre foi mais feminino do que masculino. O que me seduz e atrai no meu semelhante é a sua capacidade de dar, no sentido mais puro da dádiva: emoção, sentimento, criatividade. E sempre associei tudo isto ao universo das mulheres.

Agora, a pergunta fatal não seria a do poder. Seria esta: e um mundo dirigido por mulheres seria melhor, mais feliz, mais justo? A revista não responde. Infelizmente, receio ter de dizer que não. Porque independentemente das diferenças entre homens e mulheres, a ideia de justiça associada a um mundo melhor tem mais a ver com a raça, em geral, do que com o género, em particular. Um fundamentalista religioso é o mesmo, qualquer que seja o sexo. Um radical político não distingue sexo. E ainda que seja preciso recuar no tempo para encontrar uma poderosa mulher realmente má, como Lucrécia Bórgia, que se dizia usar um anel oco de onde pingava veneno para os copos das suas vítimas, tal facto só ocorre porque o poder, lamentavelmente, tem sido deles. Se a “Atlantic” tiver razão, esse tempo acabou. Mas nem por isso Vasco Pulido Valente deixará de ter razão com a sua clássica frase: “o mundo está perigoso”.

23
Set10

Portugal (realmente) pequenino

A propósito da indignação de João Gonçalves por eu ter criticado o seu herói Manuel Maria Carrilho, o blogger do Portugal dos Pequeninos - que eu aprecio apesar do azedume com que vive os dias, ou talvez por causa disso... – decidiu confundir alhos com bugalhos e escrever: “A uma pessoa que vai a tribunal testemunhar contra um colega de profissão - caso RTP vs. Eduardo Cintra Torres - recomendar-se-ia um módico de contenção "moralista". Mas a vida é cada vez mais um bordel, perdão, um hotel babilónia, não é verdade?”.

Descontando o facto do próprio João Gonçalves já ter andado pelo bordel, perdão, pelo Hotel Babilónia - e não consta que lhe tenha desagradado... – o problema do post é que não se percebe o que tem uma coisa a ver com outra. Carrilho e Cintra Torres no mesmo saco, qual é a lógica? Não consigo entender. Fiquemos assim neste ponto.

 

Mas, como não é a primeira vez que vejo o “Caso Cintra Torres vs RTP” servir de mote para dúvidas sobre a minha ética, devo esclarecer o João Gonçalves, e mais uns tantos putativos juízes de algibeira, do seguinte:

 

1. Eu aceitei ser testemunha dos profissionais da RTP contra Eduardo Cintra Torres (ECT) quando o processo foi espoletado, isto é, quando o artigo de ECT que lhe deu origem saiu no jornal Público. Isso ocorreu em Julho de 2006. Quem insinua que aceitei dar o meu testemunho porque colaboro na RTP-N está mal informado ou mente com quantos dentes tem: a minha colaboração na RTP-N começou apenas em 2009 (e foi a convite do seu director, José Alberto Lemos).

 

2. O João Gonçalves “acusa-me” de testemunhar contra um colega. Isso daria pano para mangas – primeiro, porque não sou corporativo nem vejo a classe jornalística como um corpo único, uma massa informe, que precise de “unidade sindical” ou “moral”. Cintra Torres, para mim, não é jornalista – mas mesmo que fosse, jamais tal facto me condenaria ao silêncio cúmplice para com uma alarvidade ética. O pior que uma classe profissional pode ter é justamente esse corporativismo idiota que, no passado, levou a injustiças sem nome. Lamento que o mesmo João Gonçalves que tantas vezes se insurge contra as corporações do costume venha agora reclamar o espírito que critica e pedir que estejamos todo no coro da paróquia.

 

3. Aliás, gostava de recordar ao João Gonçalves que, quando me viu na Direcção do DN em 2005, o mesmo ECT não deixou de me chamar, num outro artigo do Público, “novel santanista” (!!!) * - o que, além de ser uma rematada mentira (ao menos comigo, vale tudo: sou comuna, sou Sócrates, sou santanete, sou de todos... uma alegria!), é obviamente difamatório para um jornalista que se orgulha da sua independência e do seu percurso. Talvez o devesse ter processado, mas na verdade tinha (e tenho) mais que fazer. Porém, não me lembro de ter visto, nesse momento, o João Gonçalves criticar o ECT por este “ataque” a um colega (longe vá o agoiro...). Enfim, são critérios, não é?

 

4. Mas, e isso é que é relevante, apesar de lhe terem dado uma carteira profissional, Eduardo Cintra Torres está longe de ser um jornalista. É um critico, fraquito, pouco fundamentado, dado à citação de banais livros de referência, que se fez a custo depois de anos a vender antenas parabólicas. Trabalhou para a RTP enquanto fazia crítica de televisão (com contrato assinado, entre outras coisas redigiu perguntas para concursos do tipo Quem Quer Ser Milionário...)  – o que diz muito sobre a sua postura profissional, ética e moral. No artigo que motivou o processo, elogia um único período da RTP em que lhe pareceu que a empresa tinha pergaminhos de independência e isenção – logo por acaso o período em que ele próprio era contratado da empresa... Enfim, manifesta opinião parcial, quase sempre de acordo com os seus interesses pessoais e profissionais. Lembro-me bem do tempo em que escrevia artigos apocalípticos sobre a televisão por cabo porque tinha um negócio de antenas parabólicas que não queria ver falir – a empresa Cintra & Leal, quem não se lembra?...

 

5. O artigo de ECT que serviu de base ao processo da Direcção de Informação da RTP é um manifesto de desonestidade intelectual do mais baixo nível. Eduardo Cintra Torres usou a capa de jornalista para revelar pretensos “factos” mantendo as fontes no anonimato – mas depois, manifestou opinião e tirou conclusões usando a sua faceta de crítico. Ou seja: enquanto jornalista, trouxe factos que não provou, com base em “fontes” anónimas; enquanto crítico, carregou opiniões em cima dos presumíveis “factos”. Foi mau crítico e pior jornalista. Tudo misturado num só artigo. O João Gonçalves que me perdoe, mas só não vê quem não quer. Eu vi, e quando o Luís Marinho me convidou para ser testemunha da sua Direcção, nem hesitei. Fi-lo em nome do jornalismo que defendo e pratico.

 

6. O juiz não quis ver o que eu vi – problema dele. Não estava em causa a liberdade de expressão de Eduardo Cintra Torres, estava em causa uma difamação que não foi provada num processo que inocentou o crítico porque o considerou jornalista. Uma espécie de Olívia patroa, Olívia empregada. Já vi do mesmo noutros processos.

 

7. Este processo deixou em aberto outra questão, que talvez um dia alguém queira debater: a sempre muito rigorosa Comissão da Carteira Profissional deu um título profissional a quem não exerce a profissão de jornalista e o usa apenas para se manter inimputável e acima da lei geral. Se isto merece defesa, óh João Gonçalves...

 

Pronto. Está esclarecida essa questão que anda por aí a pairar, enquanto o Eduardo Cintra Torres caminha para a missa. Os bons são sempre assim.

 

... Sobre Manuel Maria Carrilho, caríssimo João, o que eu penso está escrito e dito. O que tu pensas, também. És livre de não aplicar ao ex-embaixador os mesmos critérios de exigência, carácter e moral que aplicas a todo o bicho careta sobre quem escreves e a quem exiges tudo e mais umas botas, ou que criticas por tudo e nada com ou sem botas.

Mas essa é a maravilha de ter um blog: em tua casa, como diz o povo, “é como queiras”. Tal e qual na minha.

 

* Cá fica a citação integral do "colega" Cintra Torres: “No "DN", onde os escandalosos administradores Bettencourt Resendes e Luís Delgado mantêm colunas de "opinião", a nova direcção tem cinco nomes (!): além dos dois directores, que agradam ao governo, inclui uma nóvel aquisição santanista (Pedro Rolo Duarte) e dois socialistas (Peres Metello e João M. Fernandes)”. Escreveste sobre isto ou nem por isso, João Gonçalves? Só para saber, assim de repente, sei lá...

21
Set10

O nosso político APAV

Eu acho que o Dr. Manuel Maria Carrilho devia inscrever-se com urgência na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. No seu caso, mereceria até um Dia Internacional. Ou uma presença na rubrica “eu vivi um momento dramático” das tardes da TVI.

Ele foi vítima dos paparazzis e da imprensa cor-de-rosa quando quis que o seu casamento saísse apenas na imprensa de referência. Depois foi vítima da cabala dos media que o impediu de ganhar as eleições em Lisboa. Foi vitima das circunstancias eleitorais e lá teve de ir viver para Paris, "mon Dieu", que aborrecimento, ocupando um dos mais desejados tachos da nação. Agora, é vítima do seu PS que não lhe perdoa a deslealdade de contrariar o Governo português num cargo para o qual foi escolhido pela confiança política que inspirava...

Este homem nunca é responsável pelo que lhe acontece. A culpa mora do outro lado da rua, ali mais à frente, e o mundo divide-se nos maus, que lhe querem obviamente fazer mal, e em Carrilho, o bom, que ía sempre a caminho da missa...

Já tinha saudades de Carrilho-APAV. Um pouco como Alberto João Jardim na Madeira, Manuel Maria Carrilho faz parte dos personagens da nossa comédia diária: recorda-nos quão triste e miserável é a nossa política e com isso faz-nos rir e mantém-nos à distância. Uma prudente distância.

 

Vale a pena, já agora, ler este post (datado de Março...) e perceber por que motivo Carrilho foi efectivamente demitido – e como a editora Sextante (e quem a seguiu por essa rede fora) foi infeliz no comunicado onde atribui a demissão a um livro acabado de sair e que deve querer vender desesperadamente...

 

16
Set10

Da série “a riqueza da realidade esmaga qualquer ficção”...

Vem nos jornais: Ezequiel Lino, adjunto de Isaltino Morais, terá cuspido e mordido em agentes da PSP, indignado por terem rebocado o carro da filha, muitíssimo bem estacionado numa passadeira para peões na rua José Diogo da Silva, em Oeiras...

... O autarca foi detido depois de agredir a pontapé e à dentada um agente da autoridade dentro da própria esquadra. Não sabemos o paladar do bracinho do policia, que Ezequiel poderá ter confundido com picanha argentina. Mal passada, claro.

Segundo a notícia lida aqui, antes da dentada fatal “o autarca tentou dar um murro no nariz do agente”. Ezequiel é homem que, quando lhe tocam na propriedade, perde as estribeiras e não anda longe de Rambo, por isso “foi necessário chamar reforços para travar a fúria”. Terá sido nesse momento, depois de algemado, que o autarca cuspiu sem dó nem piedade sobre a autoridade...

Está explicado o slogan de Oeiras, “marca o ritmo”. Marca à dentada um novo ritmo a murro e pontapé.

Está explicada a iniciativa “Marginal sem carros” marcada para domingo – trata-se de uma manobra preventiva promovida pela PSP. Nunca se sabe de onde virá a próxima cuspidela.

Por fim, está explicada a frase de campanha de Isaltino para vencer a Câmara: “Oeiras mais à frente”. Na verdade, mais à frente em matéria de cidadania e respeito seria difícil.

Lá está: de cada vez que começo a pensar em entrar no mundo da ficção levo uma dentada de realidade. E amanso.

14
Set10

Coisas que me encanitam (VIII)

É só uma pergunta: onde está o filho do Cristiano Ronaldo?

Quer dizer: andaram a anunciar que havia um recém-nascido, sobrevoaram a Dona Dolores e a Kátia, fotografaram o filho que mal se via, especularam sobre as mil mães que podiam ser a mãe. E de um dia para o outro, qual pequena Maddie, nunca mais se falou do filho. Desapareceu. Deixou de interessar.

Alguém me explica porquê? É como os incêndios, tema sazonal? Volta no Verão do ano que vem?

Encanita-me isto. Tanto mais que leio, na (insuperável) edição espanhola da Vanity Fair, a história extraordinária – e triste... – da possibilidade de entrevista com um homem, mundialmente “super famoso”, milionário, ídolo de milhões, que tem um filho pequeno e, farto de ser perseguido por paparazzis, decide contra-atacar mostrando a criança numa entrevista exclusiva. O objectivo é acabar com as perseguições e, qual antibiótico, usar a bactéria para matar a bactéria.

A VF parece ser a revista certa para a operação. Porém, o milionário admirado por milhões... pede dinheiro para dar o exclusivo. Uma entrevista paga? A Vanity Fair, mantendo os pergaminhos que fazem dela a melhor revista do Mundo (sou eu a declarar, claro...), recusa. Como deve sempre ser para quem se quer orgulhar de fazer jornalismo. E, com elegância, conta a história sem dizer o nome do protagonista, apenas para mostrar como uma frase simples – “há alguma compensação para dar esta entrevista?” – pode “matar” o herói e deixar a nu uma pessoa abaixo de comum.

Não sei porquê, lembrei-me do filho desaparecido de Cristiano Ronaldo. Mas deve ser coincidência.

11
Set10

Quente & Frio

O que Setembro tem de bom, e que o salva de todas as más memórias que carrega, é que consegue dar dias quentes sem que por isso as noites deixem de ser frescas.

Desse encontro eu dou boa conta.

E talvez por isso me dê conta do óbvio: dependo tanto do Sol quente quanto do mar frio. Eu sou esse.

Não é, Sofs?

08
Set10

Coisas que me encanitam (VII)

Nas Amoreiras há um restaurante pretensamente espanhol de tapas e pinchos onde a ementa promete tortilha. Das vezes que me sentei ao balcão, nunca havia tortilha. Só havia a caña que inevitavelmente a acompanha. À terceira vez que lá fui decidi ser irónico e perguntar a que horas é que faziam a tortilha, para eu poder organizar a minha vida... A empregada levou a pergunta a sério e respondeu: “Normalmente, não há. Já não fazemos”.

No restaurante Rubro do Campo Pequeno (parece que há outro, onde nunca fui), já houve tortilha. Nunca houve a tortilha espanhola simples de ovo, batata e cebola, mas uma com pimentos ou qualquer coisa do género. Deixou de haver porque tinha de ser feita na hora, atrasava os restantes pedidos e bla-bla-bla, uma explicação mal amanhada.

No balcão de tapas do El Corte Inglês, a tortilha vem sempre seca e demasiado “abatatada”. Não se consegue comer. É igual a que vendem no balcão da comida pronta, não recomendo.

Confesso que gosto muito de tortilha – da que fazia a minha madrinha Teresita, espanhola de Madrid, que a minha mãe aprendeu a fazer, e que em Barcelona como desalmadamente na Cervejaria Catalana ou na Ciudad Condal.

E pergunto-me simplesmente: que mal fez a tortilha ao mundo para, sendo prato tão simples e agradável, fugir a sete pés dos restaurantes que, em Lisboa, exibem “tapas” no menu como se fosse uma especialidade? Dizer a palavra “tapa” e não ter “tortilha” é como dizer salgados e não haver pastel de bacalhau ou croquete. Faz sentido? Não faz.

06
Set10

“Maqueche”, como dizia a Bé

A ideia de regresso agrada-me - volta-se ao lugar de onde se é, volta-se ao ponto onde se estava. A ideia de “rentrée” incomoda-me – porque me cheira a festarola, comício do Pontal e da Pontinha, frases feitas e mais do mesmo. É bom regressar para continuar ou recuperar – mas “produzir” a “rentrée” que nos esfrega na cara que nada mudou, “eles” são os mesmos, e tudo ficará igual – ou seja, ficará pior? Não, obrigado. Não quero. Volto logo a sentir-me cansado.

Não sei como se concilia o regresso com a ausência de “rentrée” – mas só consigo conceber tal convivência com uma dose muito moderada de informação. Não quero saber tudo. Não vou ler a entrevista de Passos Coelho ao Expresso nem as declarações inflamadas de Sócrates na TV. Tiro o som. Mudo de canal.

Na gincana do que leio e evito para escapar à “rentrée” sem deixar de gostar do regresso, apanho na Única a entrevista da mulher de Manuel Alegre, candidato com quem embirro e em quem jamais votaria. Mas gosto das palavras dela, da potencial “mulher do presidente”, como prefere em alternativa a “primeira-dama”. Às tantas ela está a falar da sua vida na Argélia, antes da revolução, e diz “maqueche” (que se lê “máquéxe”) – e “maqueche” fez ricochete na memória e devolveu-me a Bé, o Phill, o Nuno, um relógio com casa de banho e uma salada de tomate assado com cebola e orégãos. E a Bé dizia “maqueche” por tudo e por nada e ainda hoje a minha mãe diz, volta não volta, “maqueche”, como quem diz “acabou”, “não há mais”, “paciência, chegou ao fim”.

Se eu pudesse, agarrava a “rentrée” pelo pescoço e dizia-lhe “maqueche”. Agora, algo diferente.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

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