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"Somos um país essencialmente agrícola: uns já cavaram, outros vão cavar... e os que cá ficam são nabos!"
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"Somos um país essencialmente agrícola: uns já cavaram, outros vão cavar... e os que cá ficam são nabos!"
Fotografado hoje, à entrada de um pequeno campo de futebol dos arredores de Lisboa...
Haja alguma coisa que nos dê vontade de rir (sem que essa vontade esconda a vontade de chorar...).
(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman)
Tenho a sorte de morar “encostado” a duas boas livrarias da cidade. Compro jornais e revistas numa, compro livros em ambas, sem grande critério distintivo. Independentemente das necessidades ou das compras, costumo passear pelas duas lojas com metódica regularidade. Para passar o tempo ou, como gosta de dizer a minha mãe, “andar a flanar”.
Gosto especialmente de passar por ali nas épocas festivas ou especiais – no Natal, nas vésperas da Feira do Livro, nos dias que se sucedem ao anuncio do Prémio Nobel da Literatura. São momentos em que as livrarias ganham vida própria, pulsam como pessoas, e os livros parecem melhores. Nos últimos anos, porém, sinto os livreiros, nestes momentos mais fortes, inquietos - à procura de espaço para mais livros, tentando alimentar escaparates, sempre mais pequenos do que as encomendas. O espaço ganhou uma relevância inesperada.
Por mais de uma vez assisti, nos últimos meses, ao mesmo drama: empregados com livros empilhados entre a cintura e o pescoço tentam, sem sucesso, alinhar as novidades nos espaços disponíveis. Observar os seus movimentos é um exercício que deixa angustiado o espectador – e nem vale a pena dizer-vos que, nos tempos que correm, parte dos espaços disponíveis para os livros já não dependem dos livreiros, mas sim de quem os paga...
Ainda assim, o que vejo? Vejo livros novos morrerem em segundos, esmagados por mais um sucesso internacional de auto-ajuda; vejo desaparecer de cena um excelente livro de receitas antigas, substituído por uma livro idiota de receitas para homens que não sabem estrelar um ovo; vejo as crónicas de uma jornalista que nunca quis publicar crónicas ficar atrás do romance de um jornalista cujas crónicas os jornais deixaram de publicar. Vejo, enfim, a batalha campal dos editores, dos autores, do marketing, das vendas, entre eles, uns contra os outros, matando e morrendo sem dó nem piedade.
Acho que se trata, no fundo, de uma pequena guerra civil de palavras, autores, egos, editoras, negócios. Uma guerra com regras mas sem princípios. Uma guerra que em épocas mais radicais, como o Natal, ganha contornos dantescos – vale tudo, incluindo tirar olhos (isto é, tirar talentos para vender gadjets que fingem ser livros), vale até o peso do acaso ou da sorte num livro que cabe à justa naquele cantinho ainda livre. Mesmo sem merecer.
Não tenho autoridade para falar: os quatro livros que levam o meu nome e estiveram no mercado são, por junto, um jornal a fingir que é livro. Mas nem por isso deixo de ser sensível a este mercado e a este conflito entre espaço físico e relevância literária. Sem poder provar, tenho a certeza de que esta guerra produz mais injustiça do que justiça, deixa mais vítimas do que heróis. No fim, quando alguém se der ao trabalho de fazer o balanço, muitos bons livros foram mortos em combate, e muitos maus livros receberam condecorações. Nos intervalos, há livros que permanecem no teatro de guerra sem fazerem nada por isso – e outros, feridos de morte, tentam sem sucesso chegar à prateleira mais visível...
Se o mundo é injusto e vive uma guerra sem cartel, o universo dos livros é uma boa reprodução, à escala, da guerra civil (que fazemos sempre de conta que não existe...). Eu, leitor confesso, assisto às guerras sazonais e espero sempre que ganhe o melhor. Mas a vida já me ensinou que não é assim – na guerra, perdemos todos. Sempre. Nas livrarias onde se digladiam obras de toda a espécie, não há ideologia nem religião que vença o mercado. É uma guerra perdida, apenas.
(... ou de como, na verdade, talvez as eleições não venham a servir de muito, porque “eles andem” aí...)
Inovador: conta o Correio da Manhã, nesta noticia, que o Secretário de Estado Carlos Zorrinho inaugurou em Évora um call center que... já funcionava há cinco anos... Com centenas de trabalhadores precários.
Exemplar: Conta o Público, nesta noticia, que o ex-vereador do PSD e ex Secretário de Estado Salter Cid fez uma “construção nova no terraço do prédio de que é proprietário” sem licença de obras, sem comunicar à Câmara, “a seco”. Confrontado pelo jornal, disse que se tinha “esquecido” de comunicar – e depois de violar um embargo, continuando a amassar cimento, foi convidado pelo vereador Manuel Salgado a apresentar um projecto com “vista à eventual legalização da obra”.
Corriqueiro: conta o Correio da Manhã, nesta noticia, que a mulher de Pedro Serra, Presidente das Águas de Portugal, foi promovida de directora a administradora de empresa de Serviços Ambientais do grupo Águas de Portugal. No ano passado, Pedro Serra tinha sido noticia por ter renovado, num momento já de contenção e crise, a frota de automóveis ao serviço dos quadros do grupo.
Da frente da crise: contam todos os jornais, nomeadamente este, que o ex-ministro Armando Vara, também ex-vice-presidente do BCP, recebeu em 2010, do Banco onde já não exerce qualquer função, a módica quantia de 822 mil euros.
Assim sendo, falem-me do bloco central, sim senhor.
... E os Gato Fedorento devem estar a roer-se por nunca terem conseguido ir tão longe...
No Públlico de hoje
É tão fácil falar, falar, falar, comentar, diagnosticar, avisar, criticar, prever, "eu bem tinha avisado...".
É tão fácil acabar de falar, vestir o casaco e recolher à Fundação...
Eu, se me chamasse António Barreto e estivesse há mais de vinte anos a falar, comentar, criticar, sugerir, chorar e analisar Portugal, para mais tendo experiência politica e passado, deixaria o quentinho da Fundação e chegava-me à frente. É o momento crucial - é o momento em que não se pergunta o que pode o país fazer por ele, mas apenas o que pode um homem-que-sabe fazer pelo seu país.
O diagnóstico, já conhecemos. O que tem dito, sugerido, recomendado e pedido, também sabemos. Só falta agir.
De que é que está à espera, António?
O problema principal não está nas eleições que vamos ter mais cedo do que era suposto.
O problema é que a opção de voto se vai colocar de novo entre o PS de José Sócrates – ou seja, o PS que está e provou ser incompetente, ineficaz, prepotente e muito pouco sério – e dois partidos à direita que não oferecem soluções alternativas, pelo contrário nos recordam passados pouco ou nada recomendáveis: o CDS continua a ter na liderança o homem que foi aquele tal ministro de Santana Lopes (e não é preciso puxar pelos submarinos para lembrar o que fez e não fez...); e o PSD exibe o estreante Passos Coelho que, por mais bem-intencionado que seja, e acredito que é, não deixa de estar rodeado, salvo raras excepções, pelas mesmas caras e casos que deram corpo ao PSD que também contribuiu para o estado das coisas nas últimas décadas.
Não há gente competente, séria, desinteressada, que se chegue à frente e ajude a mudar estes partidos? Parece que não. Fica tudo no recato das empresas, com esporádicos comentários soltos e presenças nos painéis do Prós e Contras.
Ou seja, mais do mesmo. O problema de Portugal não está nas eleições – está nos putativos eleitos que vamos ter. Se o meu pai fosse vivo, diria a sua frase de sempre: “estamos entregues aos bichos”.
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