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Pedro Rolo Duarte

31
Dez11

O Indalo a abrir a porta de 2012

Tornando curta a história comprida, dei comigo um dia, há anos largos, a mergulhar nas praias de Mojácar, uma pequena localidade do sul de Espanha, longe de tudo, perto de Almería. Há montanhas e bocados de terra que parecem deserto, diz-se que a Al-Qaeda chegou a ter células organizadas por ali, o mar é mediterrâneo e a areia é escura, mas suave. Não se estava mal.

Foi lá que conheci este símbolo, que é a imagem de marca local. Chamam-lhe Indalo, será uma figura humana que uns dizem unir o arco-iris, outros dizem dominar a cobra venenosa, outros ainda garantem que segura o arco que é a sua arma.

Dá igual: os habitantes de toda a região de Almería garantem que ter um objecto destes à entrada de casa dá boa sorte, riqueza, abundância e paz. Comprei logo o meu exemplar.

Acho que 2012 precisa de um reforçozinho positivo. Aqui está. O Indalo na entrada do blog, como já está na entrada da casa nova.

Venha ele, o ano.

24
Dez11

Sim, sobre o Natal

(Claro que descobri este texto na net, porque o procurei. Mas é claro que vale o seu peso em ouro. Em outro ouro. Aqui fica, com a vénia ao autor, Carlos Drummond de Andrade, 15 anos já longe de nós, em “Cadeira de Balanço”, com os meus votos de paz, calor, e doçuras. Para todos. Até Janeiro, que já será de 2012...)

 

“Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objectos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagui ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade”.

 

Então não?

21
Dez11

Fora de tempo

(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman. A edição de Natal/Ano Novo, já anda aí...)

 

Tenho uma estranha tendência para ler os livros fora do momento em que é suposto serem lidos – ou seja, quando são lançados. Tenho livros à espera há quatro, cinco, dez anos. Alguns nunca vão ter vez – e espero que isso não os entristeça demais. Se lhes servir de consolo, tenho um filho que lê mais do que alguma vez eu li na vida, por isso provavelmente ele os encontrará mesmo que eu deles me desencontre para sempre.

Livros são como pessoas, e os desencontros podem sair caros. Mas justamente por serem como pessoas, livros estão sujeitos ao desencontro, à teoria do caos, ao acaso, à sincronicidade, conforme nos dê jeito. Ou seja verdade. Acredito que os acasos são propositados, o que quer que isto possa querer dizer...

Tudo isto para dizer que li agora, só agora, “Intimidade”, de Hanif Kureish, que comprei ou me ofereceram em 1998. O livro não teve culpa – estava arrumadinho no seu lugar, entre as obras cujos autores têm nomes que começam por “H”, e peguei nele ao acaso. Li assim: “as palavras são acções e podem fazer com que aconteçam coisas. Depois de ditas não se podem mais recuperar”.

Gostei da ideia e, ainda de pé, li algumas páginas mais. Fui sublinhando bocados, porque o livro é em si uma soma de aforismos: “O amor é um trabalho obscuro: temos que sujar as mãos. Se nos retraímos, nada de interessante acontece”.

Confesso, porém, que desta vez me entristeceu chegar agora a esta “Intimidade” – parece que chega fora de tempo, sinto que me fez falta há mais anos, noutra altura.

Não é a primeira vez que me acontece – mas gostava de partilhar esta ideia trágica do tempo a passar. Porque vivemos a guardar-nos para um tempo qualquer: o tempo em que vamos ter tempo para a casa de férias, o tempo em que vamos por fim fazer a viagem sonhada, o tempo em que vamos “por a leitura em dia”, frase típica de inquérito de jornal no Verão. O tempo parece que vem sempre a seguir.

Só que o tempo passa. E quando passa, passam com ele os tempos em que devíamos ler, por exemplo, algo assim: “Fazemos asneiras, somos desencaminhados, perdemo-nos. Se pudéssemos ver os nossos percursos retorcidos como uma espécie de experiência, sem desejar uma segurança impossível – nada de interessante acontece sem ousadia – talvez pudesse ser alcançada qualquer espécie de apaziguamento. Claro que podemos fazer experiências com a nossa própria vida. Mas talvez não o devêssemos fazer com a vida dos outros”.

Queria ter lido isto há uns anos. Teria sido útil. Li agora, e serve-me “de menos”. Mas a maior estupidez da juventude e dos anos pré-trinta é mesmo essa: a ilusão do “tempo para tudo”. O tempo que se pode gastar, ou usar, ou passar, ou “tipo viver”, como dizem os nossos filhos. Eles não sabem, mas...

... Esqueçam lá isso. Não vai haver. Vivam já. Aproveitem já. Gozem agora. Não usem a crise como pretexto para adiar, nem a miséria como desculpa para não arriscar.

Se eu tivesse lido “Intimidade” em 1998 (e agora que releio a crónica acho que li bocados, mas não todo...) presumo que a minha vida teria sido outra. Pode ser que, por ler agora, tenha pela frente uma belíssima estrada de algodão macio. Mas talvez devesse ter seguido a lógica das coisas. Ler livros quando são lançados. Cometer loucuras quando me podia desculpar com a idade. Arriscar quando parecia não haver amanhã.

Teria sido tudo mais fácil. E a palavra vergonha ganharia uma outra dimensão. Mais ajustada e própria. Como se quer, quando se quer ter a idade que se tem. É verdade: quando nos sentimos fora de tempo, estamos fora de tudo.

20
Dez11

A palavra é: culpa

A palavra que mata e esfola o ano 2011. A palavra que é em si pergunta: de quem é a culpa? A quem atribuir responsabilidades pela crise que vivemos, pela tristeza a que chegámos, pela desesperança que vivemos?

Confúcio, pensador que aprecio pela sua ligação à arte do I-Ching escreveu que "O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros”. Observando Portugal, não poderia estar mais cheio de razão.

O ano teve um culpado no começo, José Sócrates. Continuou com culpados diversos: os mercados, a Grécia, a Alemanha, os especuladores. Mas nenhum destes senhores, entidades, países ou fantasmas se chegou à frente para assumir responsabilidades. No fim, como no começo, parece que a culpa é nossa, de cada um de nós, individualmente, que teremos tido a ousadia e audácia de acreditar, por momentos, no que nos disseram os governantes, os programas dos partidos, os “sinais” da economia. Somos os culpados de termos acreditado nesta gente toda, que agora nos diz que teremos de pagar pelos erros, enganos e mentiras que nos andaram a oferecer envenenada e falsamente.

Experimentem, porém, falar com um deles. Um qualquer. Politico, gestor, banqueiro. Dirá que ía a caminho da missa quando a crise estalou – e que nós, sim, nós, os perdulários, criámos divida, não soubemos poupar, somos uns zeros à esquerda.

Acho que sim. Posso concordar.

De cada vez que votamos e damos a maioria dos votos a quem depois nos trata como culpados pelos crimes que não cometemos, somos uns zeros á esquerda.

De cada vez que permitimos os abusos, os exageros, os atropelos, as aldrabices, os roubos, a corrupção, o “salve-se quem puder” que marcam o tempo que vivemos, somos uns zeros à esquerda.

De cada vez que, em menos de meio ano, esquecemos o mal que nos fez a loucura do oásis onde presumivelmente vivia José Sócrates, e o deixamos tranquilo em Paris sem pelo menos uns insultos na rua, claro que somos uns zeros á esquerda.

Voltaire disse que "Todo o homem é culpado do bem que não fez”. Está tudo dito. Foi assim 2011. A culpa é nossa.

 

(Outras palavras do ano no mundo dos blogues no especial do Sapo dedicado a 2011, aqui ...)

 

16
Dez11

Eu tinha a certeza do passe-vite

 

Nem sei se é assim que se escreve, "passe-vite". Mas não interessa: há meses que o passe-vite tinha desaparecido da circulação. Não é que o encontrei numa das 20000000000 caixas que me cercam, asfixiam e, contradição fantástica, me libertam...Também encontrei a caixa de uns óculos que julgava perdidos em viagem.

Ainda vou encontrar o que realmente me falta.

Isto promete, e eu não deixo caixa nenhuma por abrir...

14
Dez11

Agora em Casal da Chana (Parte II)

Não sei se foi por ter escrito o post de ontem. Não sei se prefiro que tenha sido, ou se gostava que não fosse...

Mas quem trabalha com a verdade, por mais subjectiva que às vezes seja, não pode brincar com o serviço. E a verdade é esta: ontem à tarde, recebi uma chamada do Meo a comunicar-me que estavam a tentar antecipar a satisfação do meu pedido de mudança de morada e que tudo indicava conseguiriam fazê-lo para... daqui a dois dias!

Acho que nunca vou querer saber o que motivou esta mudança radical de atitude. Mas isso não me impede de a apreciar e deixar isso escrito.

Dito isto, se a promessa for cumprida, eu reduzo o post anterior a um tipo de letra tão pequeno que será quase ilegível...

13
Dez11

Agora em Casal da Chana

Sou fã da publicidade do Meo, já o escrevi aqui e noutros lugares, acho a ideia da série “Fora da Box”, no mínimo, genial - e ainda que tenha sido pelos motivos contados neste post que troquei a Zon pelo Meo, o humor e a criatividade das campanhas contribuíram para a minha decisão. Não me tenho dado mal...

Mas há sempre um dia em que um encontro com a realidade pode abalar essa imagem moderna, dinâmica, proactiva, de uma empresa e dos seus serviços. Aconteceu ontem. Foi quando me telefonou uma simpática menina do Meo respondendo a uma solicitação minha de transferência de equipamentos por mudança de morada. E a simpática senhora devolveu-me aos tempos dos TLP, quando um telefone demorava pelo menos um mês para ser ligado. Pois no meu caso, o supersónico, megarápido, extraordinário serviço do Meo vai proceder a essa mudança lá para dia 28 de Dezembro, porque os serviços não têm datas disponíveis antes...

Embora seja cliente do Meo e pague o Meo, e embora o Meo seja isto e aquilo e fibra e “Go” e já e ontem... não tenho Meo nas próximas duas semanas.

Primeiro irritei-me.

Depois lembrei-me de perguntar se o Meo me vai descontar meio mês na facturação. Parece que não.

Por fim, recorri ao humor do “Fora da Box”: tenho a box, tenho o comando, vou passar 15 dias a imaginar os canais do Meo, a imaginar a televisão que não tenho. Como se vivesse em Casal da Chana. Só que um nadinha irritado.

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