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Pedro Rolo Duarte

25
Ago13

Bola ao centro

(Crónica originalmente publicada na Lux Woman. Há uma novinha em folha nas bancas desde ontem...)

 

Os últimos meses trouxeram uma novidade à minha existência: entrar, ainda que discreta e moderadamente, no universo do futebol. Como? Moderando um programa de televisão dedicado a essa mania nacional...

Talvez deva começar por esclarecer que a minha relação com o desporto-rei nacional começou tardiamente, quando descobri que o meu filho não apenas gostava de futebol como tinha clube adquirido: o Benfica. Eu percebia tanto da matéria como de lagares de azeite.

Já o António Maria nasceu persistente e logo que aprendeu a ler começou a folhear jornais desportivos, e quis jogar nas escolas do clube, e andou anos a fio a treinar para ser um bom guarda-redes. Esta ligação dele ao futebol acabou por me aproximar da modalidade. Por causa do filho, o pai virou adepto.

Ainda assim, um adepto moderado. O Benfica nunca me tirou o sono, nem penso mudar de planos, num dia de praia, por causa de um desafio. Sou, certamente, um adepto desprezível – ao contrário do meu filho, que continua a estender o cachecol quando o clube joga, mesmo vivendo do outro lado do planeta...

Desde que me aproximei deste mundo, notei que havia dois tipos de mulheres claramente distintas: as que gostam de futebol, e chegam, na militância, a ser piores do que os homens; e as que não gostam, e juntam o futebol aos defeitos dos maridos que arranjaram.

Ora, na minha qualidade de “independente”, tenho uma revelação a fazer. Perigosamente promíscua: homens e mulheres são iguaizinhos – eles no futebol, elas na roupa; ou eles na transferência de um treinador, e eles na cor das fezes de um filho. Parece conversa homofóbica, mas é a mais pura das verdades: no programa de televisão que modero, e onde três adeptos do Sporting, Porto e Benfica discutem os temas que abalam a actualidade desportiva, é possível dedicar a um fora de jogo uma boa meia-hora de emissão, num debate pormenorizado, apaixonado, em que cada um tenta convencer o outro sobre a sua sapiência. Da mesma forma, já vi mulheres debaterem, durante igual período de tempo, à volta de um chá, “uma espécie de malhinha”, ou a comida certa para os dias quentes, ou mesmo a cor do cocó de um bebé. Por mais que venham feminismos deste e de outro mundo colorir a nossa vida de justa e merecida igualdade, há interesses que não se confundem. A transferência de um jogador do Benfica para o Chelsea, ou o facto prosaico de José Mourinho ter decidido ser humilde durante quatro segundos, não tem, para a esmagadora maioria das mulheres, o interesse de temas que, no limite, chegam à lei sobre a co-adopção por homossexuais ou outros temas fracturantes da sociedade. E posso garantir, com provas, que uma transferência de um jogador de futebol alimenta sem gorduras uma boa hora de conversa entre adeptos. Com isto quero dizer que não valorizo uns sobre outros – apenas noto diferenças de entusiasmo e paixão.

Momento flashback que torna tudo mais cordial: a casa dos meus pais era perto do Estádio de Alvalade – e não esqueço a imagem dos carros estacionados junto ao estádio, e mulheres dentro deles a fazer crochet enquanto os jogos decorriam. Nunca percebi o que levava mulheres a acompanharem maridos a um espectáculo que, no fim, não apenas não viam, como ficavam a secar duas horas. Mas agora percebo: são interesses diferentes que se procuram conjugar entre pessoas que querem estar juntas. O que eu pensei ser machismo, talvez fosse apenas amor.

Da mesma forma que me interessei por futebol não pelo facto de ser um desporto de homens, mas pela prosaica razão de ter um filho que gosta de futebol. A vida, às vezes, é mais simples do que parece.

22
Ago13

Na varanda de uma grande amiga, ontem, uma noite perfeita...



"Sou um visual. O que na memória trago, trago-o visualmente, se susceptível é de assim ser trazido. Mesmo ao querer evocar em mim uma qualquer voz, um perfume qualquer, não evito que antes que ela ou ele me vislumbre no horizonte do espírito, me apareça à visão rememorativa a pessoa que fala, a coisa donde o perfume partiu. Não dou isto por absolutamente certo; pode ser que, radicada em mim de vez a persuasão de que sou um visual, no lugar final do sofisma que é a escuridão íntima do ser me fosse desde então impossível evitar que a ideia de que sou um visual não levantasse imediatamente uma imagem falsamente inspiradora. Seja como for, o menos que sou, é um visual predominantemente. Vejo, e vendo, vivo"

Fernando Pessoa (tirado do site Citador)


(A fotografia é minha, por iPhone e mexida no Instagram, com conselho avisado da P.)

19
Ago13

Rodrigo Leão, um português excepcional

Há portugueses excepcionais que, além de o serem, fazem questão de manter recato e discrição na atitude, mesmo quando o sucesso é incontornável e salta fronteiras. Portugueses assim merecem tudo, num país que adora viver entre a maledicência e a intriga - mas merecem especialmente que gritemos por eles, já que o não fazem, por feitio e modo de estar, nos momentos especiais que vivem. Rodrigo Leão é um desses portugueses.

Não espanta, dado esse modo de ser discreto dele, que tenha sido num site norte-americano que soube deste facto extraordinário: Rodrigo é o autor da banda sonora do filme “The Butler”, de Lee Daniels (nomeado para os óscares, há anos, pelo filme "Precious"), um dos sucessos maiores que Hollywood lançou nas últimas semanas. O filme conta a história (verdadeira) de Eugene Allen, o mordomo negro da Casa Branca que serviu vários Presidentes diferentes na segunda metade do século XX. Entre os actores/figuras publicas que entram no filme – o protagonista é interpretado pelo excelente Forest Whitaker – estão nomes como os de Oprah Winfrey, John Cusack, Jane Fonda e Mariah Carey.

Pelo que percebi, o realizador terá conhecido há poucos anos, acidentalmente, o trabalho de Rodrigo Leão, e a rendição foi imediata. A banda sonora do novo filme é toda dele (comprei-a agora mesmo no iTunes…), e é mais um daqueles monumentos sonoros a que Rodrigo nos habituou. Confesso-vos com sinceridade: por mim, nem precisava de filme. Mas já que virá, vou ver…

Entretanto, fica esse orgulho maior pelo Rodrigo e pela sua música. Há portugueses excepcionais. Que alegria, nestes tempos de tanta tristeza.

 

17
Ago13

Ver o mar

 

Vergílio Ferreira, "Pensar".

 

Quando, há dias, olhei "o mar do alto de uma falésia", lembrei-me deste bocado de génio. Cá fica. O Verão ainda não acabou.

08
Ago13

Pequeno momento de Verão (muito português)

 

A foto acima exibe a esplanada que anima o Jardim Fernando Peça, ali na Avenida de Roma, junto ao edifício que alberga a Assembleia Municipal. O espaço, certamente concessionado, já foi elogiado pelas revistas da praça e é verdade que é muito simpático tomar ali um café em certos dias de Primavera.

Ontem, porém, era um dia de Verão e estava calor. Algum vento, sim, mas calor. Ao chegar perto da esplanada, estranhei estar deserta, ainda que algumas mesas, junto às árvores do jardim, estivessem ocupadas, e acabassem por preencher as escassas sombras disponíveis.

Fui ao balcão e pedi ao empregado que abrisse um chapéu de sol para que me pudesse sentar e ter sombra. “Nem pensar nisso”, respondeu ele indignado e escandalizado – “os chapéus não se podem abrir porque o vento pode deitá-los abaixo” e depois não há quem pague as cabeças partidas…

Ainda perguntei ao rapaz se fazia mesmo questão de ter o seu negócio falido, mas acho que ele não percebeu a ironia, ou a pergunta.

E fui à procura de um lugar onde a sombra fizesse parte do Verão lisboeta.

 

(É nestes dias que tenho a certeza de que fazia com jeito e talento qualquer coisa no mundo da hotelaria…)

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Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

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