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Pedro Rolo Duarte

30
Set13

Já que pensam rever a Lei Eleitoral…

 

… Talvez os senhores deputados se possam lembrar de contemplar a probabilidade de obrigar os candidatos autárquicos e honrarem os votos que receberam. Ainda que tenham perdido as eleições, os novos vereadores deveriam ser obrigados a cumprir, pelo menos, uma parte substancial do mandato para o qual foram eleitos. Se eu tivesse votado em Carlos Abreu Amorim e agora visse que o senhor virava descaradamente as costas ao meu voto, achava-o politicamente desonesto. E permitia-me dizer o que a voz popular gosta de dizer: “são todos iguais, querem é poleiro”…

Novos políticos deveriam primar por uma nova forma de estar na política. Nessa medida, Abreu Amorim, que me habituei a admirar e respeitar enquanto comentador, revelou-se apenas mais um no meio da massa habitual.

Uma desilusão, portanto.

30
Set13

Do que eu vi e ouvi...

  • António José Seguro conseguiu vencer as eleições e discursar como se fosse derrotado

  • Pedro Passos Coelho assumiu a derrota mas fez o discurso de quem ganha sabendo perder.

  • Um individuo que foi condenado e está preso (por crimes praticados no âmbito da sua vida autárquica) inspirou os eleitores, que votaram naquele que se apresentou como seu sucessor.

  • Rui Moreira é a face visível de uma ideia que talvez possa começar a fazer escola: as pessoas sabem distinguir os melhores, venham de onde vierem, e votar neles.

  • O Bloco de Esquerda é pobre e mora longe.

  • A CDU não vai desaparecer enquanto houver um PS indefinido, indeciso, incapaz.

  • António Costa tem o futuro nas suas mãos - se não aproveitar agora, nunca mais lá chega.

  • Estas eleições foram nacionalmente locais. Ou localmente nacionais. Disso nenhum dos partidos se livra.

29
Set13

A vida oblíqua



"Só agora pressenti o oblíquo da vida. Antes só via através de cortes retos e paralelos. Não percebia o sonso traço enviesado. Agora adivinho que a vida é outra. Que viver não é só desenrolar sentimentos grossos — é algo mais sortilégico e mais grácil, sem por isso perder o seu fino vigor animal. Sobre essa vida insolitamente enviesada tenho posto minha pata que pesa, fazendo assim com que a existência feneça no que tem de oblíquo e fortuito e no entanto ao mesmo tempo sutilmente fatal. Compreendi a fatalidade do acaso e não existe nisso contradição. (...) A vida oblíqua? Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem mais nada. Mas quase nos entendemos nesse leve desencontro, nesse quase que é a única forma de suportar a vida em cheio, pois um encontro brusco face a face com ela nos assustaria, espaventaria os seus delicados fios de teia de aranha. Nós somos de soslaio para não comprometer o que pressentimos de infinitamente outro nessa vida de que te falo.
E eu vivo de lado — lugar onde a luz central não me cresta. E falo bem baixo para que os ouvidos sejam obrigados a ficar atentos e a me ouvir".

Clarice Lispector, encontrada aqui.

27
Set13

O fim da idade

(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman. A deste mês já está aí nas bancas...)

 

Quando tomei consciência de mim, a idade era um posto. Era uma referência. Era um sinal de stop. A idade que nos distinguia dos mais velhos obrigava a respeito e deferência. A idade que nos afastava dos mais novos fazia de nós gente. Dizia-se “no tempo dos nossos avós”. A expressão “no meu tempo” era desejada logo que a adolescência chegava. Lembro-me de ter 18 anos e dizer aos meus pais, à mesa de jantar, qualquer coisa como “no meu tempo havia muito menos variedade de Legos do que há hoje” – e eles riam-se a bom rir (repetindo e imitando-me: “no meu tempo….”), como se fosse um enorme disparate. E era. O meu tempo era curto, não era ainda tempo.

Agora, aproximo-me a passos largos do meio século de vida e sim, já posso dizer “no meu tempo” sem provocar gargalhada geral. Já posso contar histórias às sobrinhas, ao meu filho, aos filhos da minha namorada, sem parecer ridícula a distância temporal. Porém, algo mudou entretanto. Não chega, numa roda de amigos, ou à miudagem reunida na praia, dizer “no meu tempo”, ou contar uma história começada por “tinha eu 24 anos…”. Menos ainda ousar um “há quinze anos”… Eles não fazem contas. Acima de tudo, eles não fazem ideia…

Essa forma de contar o tempo, tendo a idade como referência, é coisa morta e enterrada. Hoje, é preciso sempre acrescentar “sendo certo que naquele tempo não havia telemóvel”, ou “era o tempo do fax”. Já ouvi pessoas medirem o tempo com um “antes do iPhone” ou do iPod. “Quando a Vodafone era Telecel” parece rebuscado, mas identifica claramente um momento. Já ninguém fala de tabaco sem recordar o tempo em que se fumava em todo o lado. Lembrar o tempo em que só havia RTP, ou o “antes e depois” da Coca-cola em Portugal (Chegou em 1977…) equivale ao que, no passado, significava o antes e o depois da morte dos avós.

Um desencontro entre duas pessoas sem o complemento directo – “no tempo em que não havia telemóvel” – é como descrever uma viagem a Madrid no século XIII sem sublinhar a ausência de automóveis, aviões e comboios.

Estas novas referências acabaram de vez com a idade. Que idade tenho? Não interessa nada. Indiferente se são 30 ou 70 anos – interessa se vivi o tempo do telefone fixo ou os filmes em VHS, se me lembro dos autocarros verdes de dois andares ou o ecrã de TV com o “letreiro” “pedimos desculpa pela interrupção, o programa segue dentro de momentos”. Os anos passam, nós passamos com eles e vamo-nos habituando a estas novas medidas. Os mais novos deliram com a ideia de um tempo sem smartphones com Internet e Facebook, como se isso fosse pré-histórico, mas na verdade eles estão a determinar uma nova imagem do calendário: o tempo é mais rápido do que a nossa capacidade de o viver. Ou pelo menos absorver.

Nesta voracidade, perde-se o pormenor, o cuidado e algum romantismo. Ganha-se capacidade de viver a vida em multiplataforma e não perder o essencial do que já de si é, como dizia o escritor, a “espuma dos dias”. Talvez também nos fuja um pouco o pé para o chinelo no respeito pelos mais velhos. E desperdiçar o sábio que está dentro de cada velho é como deitar ao rio exemplares únicos (e sem “backup”...) de enciclopédias.

Pergunto-me se nessa diferença entre o tempo em que a medida era a idade e este em que a medida é um “antes e depois” de qualquer coisa, se perde o encanto do amanhecer e do anoitecer, o mistério de uma ruga que tem uma história, os nossos mais queridos familiares e amigos como marcos de referência? A ideia de ter acabado essa unidade de medida pode ser um delírio feliz. Mas também pode ser, tristemente, o fim de um tempo. O tempo em que cada um de nós contava para o outro. Sem resposta para a dúvida, cedo e rendo-me: o tempo dirá.

26
Set13

Indigências & cidadania

 

Quando o Liceu de Camões fez cem anos, eu voltei à Praça José Fontana e, apesar de Cavaco Silva, disse “presente!” ao edifício que tanto me diz. Cavaco, há que reconhecer, não foi muito bem recebido na escola, e o estudante encarregue do discurso (em nome dos alunos) tratou de sublinhar tal facto. Para alguns terá sido constrangedor. Para mim, admito, normalizou a cerimónia e lembrou-me os tempos em que frequentei aqueles pátios e a maioria das salas de aula, descobri a politica, o amor, e a rebeldia…

De regresso ao meu liceu, fotografei os azulejos (de que só me lembrei quando os vi…), os pátios, e a porta de uma das minhas salas de aula (a que fica hoje aqui). Claro que o Camões me pareceu mais pequeno do que a minha memória definiu – mas há anos que me confronto com essa evidência…

Agora, há poucos dias, fui desafiado para alinhar na “Gala de solidariedade e cultura: Camões, a nossa escola”. No Coliseu de Lisboa, dia 12 de Novembro. Dizem os organizadores: “Este será um momento de crucial importância para lançarmos um imperioso alerta a todos os agentes sociais e instituições de Estado para a necessidade urgente de obras de recuperação neste edifício. (…) O objetivo central – que se prende com a nossa vontade de união e festa – é tentar tudo para conseguirmos, em conjunto, reparar uma grande injustiça: o nosso querido e histórico liceu está degradado e incapaz de proporcionar aos seus alunos as condições para a concretização do aproveitamento académico de excelência que todos desejamos: o ginásio –  histórico! – em risco de ruína; os laboratórios carenciados e em que as experiências não se realizam sem risco; os telhados e paredes, onde buscamos proteção e abrigo, cheios de infiltrações, etc. E isto tudo num edifício classificado e de beleza ímpar. Um dos primeiros lyceus da capital, ínclita casa de tantos ilustres da nossa história. É necessário pôr cobro a esta gritante injustiça. A Escola Secundária de Camões foi vítima das “circunstâncias da crise” – nas vésperas de começar o seu plano de recuperação no âmbito da Parque Escolar, uma crise cega, que não distingue pessoas ou instituições pelo seu mérito ou demérito, travou a planeada recuperação desta Escola. Confiamos na sociedade civil para reparar as injustiças que o poder político não pode ou não quer reparar. O nome das entidades e empresas que vierem a associar-se a esta causa ficará para sempre ligado aos corações de todos os que frequentaram e virão a frequentar Escola Secundária de Camões”.

Por amor ao meu passado, alinho e estou com os organizadores. Mas nem por isso fico menos triste, indignado e desalentado por viver num país onde, apesar do aspirador de impostos em que o Estado se tornou, termos de ser nós, os comuns mortais, com o nosso dinheiro ou a nossa boa-vontade, a substituir esse mesmo estado em coisas tão básicas como a recuperação de uma escola publica.

Isto, claro, ao mesmo tempo que indigentes de toda a espécie persistem nos seus lugares públicos, nas reformas que fazem manchetes dos jornais do dia, nas aldrabices das pensões vitalícias, ou apenas na clássica cunha que dá ao filho de alguém o lugar de quem realmente o merecia. E com isso enterra as finanças públicas ao ponto que vamos conhecendo assim, suavemente, entre falências, cortes, ou galas para reunir o dinheiro que alguém injustamente gastou.

Raio de país, este.

21
Set13

100 anos

 

Claro que vem aí livro, e colecções de postais, e posters, e tudo a que tem direito a melhor revista de sociedade do Mundo – sociedade, que é como quem diz jornalismo de investigação, jornalismo ligado às pessoas, às histórias, ao que mexe com a vida de todos nós, ao que nos fascina, ao que nos apaixona, ao que nos liga e ao que nos ligamos. A Vanity Fair faz 100 anos este mês – e mesmo sabendo que este século teve várias versões do mesmo título, não adianta desvalorizar o número redondo. São 100 anos de vida.

No outro dia lia um texto do meu amigo Manuel Falcão em que ele confessava que a Vanity Fair era, a dada altura, a revista que ele gostava de ter feito. Não tenho medo de deixar aqui a confissão: a Vanity Fair, adaptada e recriada para o mercado nacional, é a revista que me falta fazer depois de tudo o que fiz (e é o modelo em que acredito mesmo num mercado em crise…). Sem falsas humildades nem soberba ou vaidade. Dito isto, voltemos à realidade…

… Enquanto não chega o livro, temos a edição de Outubro da revista (da original, note-se, porque a Portugal também chegam a excelente edição espanhola e a muito boa e recente edição francesa), que assinala o aniversário com esta Kate Upton, fotografada pela incontornável Annie Leibovitz, a soprar a vela. Um luxo e um prodígio – no olhar pelas décadas passadas e quem o assina, nas imagens e nas memórias que abrem o apetite para essa viagem no tempo. E nesta ideia simples: sem a Vanity Fair, o mundo do jornalismo teria sido, seria, algo muito próximo da maçada e da chatice. Por melhor que fosse. E não era.

19
Set13

A poucos dias das eleições autárquicas

(Para mim, a poucos dias das eleições em Lisboa)

Estava a ler na página de Facebook da Laurinda Alves: “Esta cidade está um arraso. Os lugares de encontro para desportos ao ar livre, artes e festas multiplicam-se por todo o lado, desde a beira-rio aos jardins, coretos, praças e pracetas, e em cada esquina se improvisam performances e iniciativas mais ou menos inéditas. (…) Esta cidade parece Berlim, sempre em festa!”.

Concordo com a Laurinda, e não foi por acaso que aceitei, mais uma vez, pertencer à Comissão de Honra da candidatura de António Costa. Lisboa é hoje uma cidade mais viva do que nunca, mesmo no olho do furacão de uma crise profunda e sem grandes meios de financiamento. É de louvar esta resistência à depressão - e basta uma volta ao fim de semana pelo novo Intendente para se perceber de que falo quando falo de pouco dinheiro e muita vontade.

Ainda assim, não posso deixar de dizer que acho a solução para o Marquês de Pombal/Avenida um absurdo, cujos benefícios ambientais são francamente mais pobres do que a confusão generalizada criada no trânsito que rodeia toda a zona; como acho que Lisboa continua a ser uma cidade pouco limpa, pouco cuidada; como sinto na pele os efeitos das ruas mais esburacadas da Europa; como sinto o trânsito na cidade mais caótico do que nunca.

Sei que não se faz tudo ao mesmo tempo, que há prioridades, e que o dinheiro escasseia. Nessa medida, ainda acredito que António Costa geriu melhor o mal maior do que os seus opositores fariam – e persisto nesse crédito. Mas espero que, nos próximos anos, a equipa socialista saiba “limpar” melhor a cidade, recolocar o Marquês do Pombal no seu lugar de honra (basta-me pensar na saudável balburdia das grandes rotundas de Paris para me envergonhar da praça do Marquês de Pombal reduzido a um, diria o meu pai, “bidé da marquesa”…), e fazer renascer a baixa e a Almirante Reis como soube fazer no Chiado e na Avenida da Liberdade.

Gosto hoje mais de Lisboa do que gostei no passado – mas ainda gosto menos do que queria. Talvez seja esse o desafio maior – e ainda que critico, é com honra que manifesto o meu voto. Dito.

17
Set13

Agenda para esta terça-feira...

 

As conversas Voxmar são informais, livres, e só têm um objectivo: procurar no mar o futuro que nos parece faltar em terra firme.

Apareçam  - vale a pena conversar livremente sobre o que nos move. Hoje é mais um dia Voxmar e vão passar por lá Bruno Bobone, Presidente do Fórum Empresarial da Economia do Mar e do Conselho de Administração do Grupo Pinto Basto; Frederico Spranger, Presidente da Comissão Executiva da Lisnave; e Manuel Tarré, Presidente da Gelpeixe.

A conversa é aberta...

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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