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Pedro Rolo Duarte

28
Jul14

Voltar a um lugar antigo

 

Lá dentro, em 1995...

E cá fora, hoje:

 


E de repente dei comigo a passar no mesmo lugar onde, há quase 20 anos, apresentei o “Canal Aberto”, programa da RTP que ficou mais popular pelas pessoas que se plantavam a ver-nos na montra do rés-do-chão do edificio da 5 de Outubro do que propriamente por aquilo que debatíamos no estúdio improvisado…
Não interessa: ao tempo, foi inovador, deu que falar, e ganhei uma estaleca (diário e em directo…) que ficou para sempre. E ainda nos deus duas nomeações para os Globos de Ouro…
Duas décadas mais tarde, aquele rés-do-chão é parte de um hotel e, tanto quanto sei, é o SPA daquela unidade. Ora, se já no meu tempo se transpirava ali a valer, presumo que a sauna continue, agora mais profissional que nunca…
Gostei de passar ali, parar um bocadinho o tempo, fazer um rewind rápido, e seguir de sorriso aberto. A vida, felizmente, continuou.

26
Jul14

Cusquices

(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman. A deste mês saiu ontem e está excelente)

 

(Por acaso, o ultimo parágrafo está - felizmente - ligeiramente desactualizado...)

É claro que há uma porteira cusca dentro de cada um de nós. Por mais que digamos isto e aquilo, e falemos de respeito e “não tenho nada a ver com isso”, se nos deixam uma ponta da janela aberta, nós espreitamos; se nos põem a revista à mão, nós coscuvilhamos; se nos deixam ouvir uma história cabeluda, nós ouvimos.
Pronto. A generalização deu-me jeito para contar uma história que demonstra, uma vez mais, como as ideias pré-concebidas e os estereótipos são enormes tolices que tomam contam das nossas vidas. Uma profissão dita um estilo; uma imagem determina um conteúdo; Uma palavra define uma pessoa. E no entanto…
… E no entanto aconteceu-me assim.
Ía no metro, que estava cheio, e encostei-me de pé num canto. À minha frente estava um jovem de menos de 30 anos, fato e gravata entre o cinzento e o preto. Podia ser bancário. Ou engenheiro informático. Ou nada disso, lá estou eu já a pré-conceber uma ideia a partir de uma imagem. Estava então um jovem de fato e gravata presumivelmente a caminho de casa. Eram sete da tarde de um dia sem história.
O telefone dele emite um sinal, tira o telefone do casaco, abre, e de repente o écrã está tão de frente para ele como de frente para mim. É aqui que o cuspa acorda. Se fosse educado e respeitador, eu viraria a cara para o lado - mas a tentação foi maior e eu li a mensagem que ele acabara de receber. Dizia mais ou menos isto:
Já estou em casa. E tu, como correu a reunião? Vens cedo?
Não resisto normalmente à minha voadora e excessiva imaginação. Comecei a imaginar uma rapariga, na sala de um apartamento modesto nos arredores de Lisboa, a escrever esta mensagem, à espera do marido. Certamente casados há pouco tempo, a aliança dele brilha na mão esquerda. Uma vida normal, casa-trabalho, trabalho-casa, e a rotineira troca de mensagens ao fim do dia, o jantar, “compras cebolas?”, “sexta jantamos em casa da minha irmã”, “não te esqueças de telefonar ao teu primo, faz anos hoje”. Tudo o que não desejamos quando temos, e invejamos quando nos falta.
Enquanto a minha imaginação ía e vinha, as mensagens continuaram. E eu, o cusco atrás do rapaz, a ler. Respondeu ele:
A reunião foi uma seca, já calculava, mas correu bem. Estou no metro, a caminho.
E ela:
Que bom, ainda é cedo.
Imaginei um sorriso doce, dela, e procurei adivinhar a resposta dele. Iria escrever algo como “até já, amor”. Apostei comigo próprio, num jogo já completamente descarado de espectador do alheio.
Mas não foi assim. O rapaz, sem perder o ar seráfico, a expressão cerrada e banal, o mais banal dos olhares para um telefone, escreve o seguinte:
Estou desejoso de chegar a casa, agarrar-te com força, arrancar-te a roupa toda no meio da sala até te ter toda nua e te…
… Bom, daqui para a frente, a linguagem entra no domínio do XXX, e não posso reproduzir o que li, mas vos garanto ser uma declaração sexual de uma intensidade e com uma força que, por si só, constituiriam clímax para qualquer humano sensível.
Varado, eu olhava para a cara do homem e para o telefone, e via dois filmes distintos: no filme real, ali, no metro, um homem teclava no seu telefone como quem paga a conta de luz ou confirma a consulta médica via SMS; no ecrã do seu telefone, eu testemunhava (envergonhado, admito, pois repentinamente senti-me realmente voyeur…) um momento fortíssimo de sexo virtual e a revelação de uma personalidade que não batia de todo certo com a imagem que exibia.
Felizmente chegou a minha estação de saída e acabou ali o meu encontro com as ideias pré-concebidas. E o que ficou foi algo bem mais bonito e profícuo: o reconhecimento de que aquele rapaz me deu uma lição de humildade e um remédio santo para a tentação do julgamento prévio.
E mais: por detrás do seu fato e da gravata, e da aparência de uma vida sem história, ele tinha a quem mandar aquela mensagem cheia de vida. E eu não. Engoli em seco.

20
Jul14

Uma sanduíche perfeita



Uma das mais geniais invenções do ser humano, no que à gastronomia diz respeito, foi a sanduíche. A ideia de uma acumulação de sabores entalada entre duas fatias de pão deixa tanto espaço em aberto para a criatividade que parece não ter fim. Gosto de criar as minhas sanduíches, e julgo não me sair mal na função, a ver pelas reacções de quem as prova. E gosto das clássicas que os clássicos nos guardam - e de entre todas, a de patê com pickles em pão de centeio, no Gambrinus, a minha eleita.
… Mas nas ultimas semanas descobri uma sanduíche que me tem enchido as medidas. A ignorância impedia-me de saber que os dinamarqueses comem sanduíches abertas, com duas fatias de pão torrado separadas. Já aprendi. Mas o melhor foi mesmo descobrir esta mistura improvável, porém elegante e saborosa: em cima do pão torrado vai uma suave passagem de pasta de pimento vermelho, salmão fumado, caviar de algas, funcho, cebolinho, tomate cherry, alface e rúcula. Se bem percebi, um toque de tempero de vinagrete. O resultado é perfeito - e a fotografia fica a léguas da delicia desta sanduíche (aberta) que se fecha em nós sem mácula.

(Encontram-na na Bi+Ca, em pleno Lx Factory. Hoje, domingo, até às 19:00... Eu, é mais aos dias uteis a horas esquisitas, tipo quatro da tarde...)

14
Jul14

De bestial a besta

Tenho lido, estupefacto, tudo o que se tem escrito, sob a forma de editorial, comentário, palpite, opinião, a respeito da “revolução” (foi o mínimo que lhe ouvi chamar) no mundo da banca e dos negócios por conta da crise no Grupo Espirito Santo.
Dizem-me que esta crise vai mudar o paradigma dos negócios em Portugal, oiço falar em “purga” essencial da economia, e há mesmo quem garanta que estamos perante um 25 de Abril no ambiente viciado onde poder, banca e empresas se moviam até à implosão do “universo” Espirito Santo.
Admito que todos estes comentadores e jornalistas tenham razão.
Porém, como diria a Rita, “não se me acaba o espanto” quando verifico que até há poucas semanas nunca um jornal ou revista tenha revelado quão era, afinal, pernicioso o ambiente nos negócios, nem pedido a cabeça de Ricardo Salgado, nem se tenha convocado uma revolução que fizesse a tal “purga” agora tão elogiada. O Grupo Espirito Santo foi, desde que me lembro de ser gente, raras vezes criticado, quase sempre poupado, e jamais “denunciado” enquanto causa e consequência de um lamentável pântano. Parece-me que foi preciso ver o bestial transformar-se em besta para sair meio-mundo à rua disposto a bater no (entretanto tornado) ceguinho.
Não sei se gosto desta estranha e súbita unanimidade sobre pessoas e empresas intocáveis até há meia dúzia de meses.

11
Jul14

O que conta

Há amizades que sabemos como nascem mas não sabemos bem como crescem e ganham raízes que parecem vindas da infância. Como se conhecêssemos aquela pessoa desde sempre. Ganhamos uma intimidade cuja origem é remota, mesmo não sendo, e falamos como se fossemos família. Tenho um caso desses na minha vida e o nome dela é Patricia Muller. Sim, falamos como se fossemos família, mas na verdade conhecemo-nos há menos de dez anos. E o tempo conta? Neste caso, não conta.
Quarta-feira, a Patricia lançou o seu primeiro romance, “Madre Paula”, baseado na história verdadeira da Madre Paula do Convento de Odivelas, amante do Rei D. João V. Quando me convidou para apresentar o livro, fiquei tão honrado quanto estupefacto com o convite, porque ela tem um generoso grupo de amigos e amigas que exerceriam tal função melhor do que eu, até talvez com mais propriedade.
Na véspera do lançamento, passei o serão de volta das notas que escrevo sempre que falo em público (recordando o meu pai, que citava alguém dizendo “o melhor improviso é aquele que se escreve previamente”…).
Lá tomei notas no corpo 18 do word: o que queria dizer, como queria dizer, o que não podia esquecer. Reli partes do livro. Tomei mais notas. Tive mais ideias - o que me obrigou a escolher umas em vez de outras, para não maçar os convidados com mais do que 10 minutos de apresentação. O dia virou.
Como sempre, transpirei nos primeiros cinco minutos na mesa. Depois passou, e parece que nada me escapou naquele momento que eu sabia ser tão importante para a Patricia - logo, igualmente importante para mim. Acho que correu bem.
Mas às 2:38 da madrugada já de quinta-feira, ainda acordado, dei comigo a pensar nisto: a minha maior alegria e satisfação não é o facto do lançamento ter corrido bem, cheio de gente, e com a Patricia feliz. A minha maior alegria e satisfação é ter uma amiga de toda a vida (porém chegada - atrasada! - há poucos anos), que tem um excelente primeiro romance que tanto orgulho me deu apresentar e convictamente elogiar.
O resto é como as gotas de suor que sempre me correm na testa nestes momentos: marcam posição mas não contam para nada.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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