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Pedro Rolo Duarte

24
Jun15

O sexo onde ele deve estar…

(Crónica originalmente publicada na revista Lux Woman. A deste mês saiu hoje e está linda...)

Terá sido de propósito? Não sei. Mas é verdade: na mesma semana, uma noticia de jornal revelava um estudo segundo o qual os adeptos do Benfica eram potencialmente mais infiéis do que os dos outros clubes, enquanto uma revista lançava no Facebook um inquérito para tentar apurar qual o melhor bairro de Lisboa no que à sexualidade diz respeito. Praticada ou para praticar. Juro.
O inquérito da revista era mais brincalhão e falava da “casa dos bicos”, dos queques de Alvalade, do sexo nos Anjos, e até gozava com os inquéritos deste género, perguntando sobre o volume de respostas falsas que cada um dá (nomeadamente quando se pergunta sobre performance e sucesso sexual…).
Já o estudo que vinha no jornal não era, ao contrário do que supus numa primeira leitura, sobre infidelidade ao clube, mas sobre infidelidade conjugal. Tínhamos então o Benfica no topo da tabela, seguido do Porto e do Belenenses. Os apaixonados da capital do móvel, Paços de Ferreira, eram os mais fieis às suas e seus companheiros…
Na minha qualidade de Benfiquista, não gostei, até porque tenho da fidelidade uma ideia que está para lá da sua identificação sumária. Acho, sempre achei, que ser fiel é uma das formas de respeitar quem está connosco e de nos respeitarmos a nós próprios - logo, é uma das muitas maneiras de sermos verdadeiros, sinceros, sérios. Não menosprezo nem diabolizo o desejo que em dado momento possamos ter por outra pessoa, que não aquela com quem estamos, mas persisto em argumentar que isso se “resolve” da forma mais simples e prática: deixando a mulher/homem com quem se está.
Parece simplista mas não é. No dia em que uma terceira pessoa consegue entrar no nosso mundo emocional, algo está errado no quadro conjugal e é melhor desmontar a tenda, mesmo que mais tarde se volte a tentar montar. Nada mais a acrescentar.
Quanto ao inquérito dos bairros, percebi logo que Alvalade ía perder a corrida - e isso irrita-me, dado que é o meu bairro de sempre. Para mais, sendo lisboeta, sou um pouco “sem terra”, ao menos que possa ser um pouco bairrista…
É claro que depois parei para pensar um segundo e reconheci o ridículo da questão: quero eu, homem de Alvalade, que este bairro seja conhecido pela sua potência, apetência, ou mesmo voragem sexual? Oh meu deus, o mundo está perdido!
Mas não está. Felizmente, não está. Em ambos os casos, estamos a brincar com o que foi tabu tempo demais - a sexualidade, o sexo -, e em nenhum deles vulgarizámos o tema. Perguntei-me sobre se isto eram sinais de maturidade ou de banalização - e parece-me óbvio que, mesmo que em ambiente de brincadeira, é de maturidade que se trata. Capacidade de brincar com o sexo sem cair no estereótipo das diferenças entre homem e mulher, sem sexismos idiotas, sem preconceitos ultrapassados. Ser capaz de brincar com os assuntos ligados ao sexo, não ser taxativo sobre o assunto, parece-me o melhor caminho, ainda que frequentemente tenha a tentação de pensar que banalizamos tudo (o que vale é que logo a seguir acho que amadurecemos…). Tenho com este tema a mesma relação que tenho com o próprio sexo: quando termina, está apenas a preparar o recomeço.
Eu brinco e vejo o humor como lubrificante de todos os temas, todos os tabus. Mas respeito quem pensa de modo diferente e prefira manter alguns assuntos na prateleira dos intocáveis. Na duvida, talvez o melhor dos dois mundos: reduzir o Benfica ao futebol, o bairro onde vivemos ao nosso código postal, e deixar o sexo onde ele deve estar: algures entre a cabeça, o coração, e o resto do corpo.

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