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Pedro Rolo Duarte

08
Out15

Lx, 25 anos depois

cml 25.jpgA Agenda Cultural da Câmara Municipal de Lisboa festeja agora os seus 25 anos. E bem. Se há por aí muitos municípios que produzem uma agenda sem agenda, cultural sem cultura, a da CML tem sido excepção -  agendando e "culturando" com o muito que ocorre na capital. Nos últimos anos, o desenho gráfico da equipa de Jorge Silva foi mesmo a cereja em cima do bolo. Gosto.
Uma vez, há muitos anos, pediram-me uma crónica para a Agenda, e eu escrevi. Nunca mais me esqueci desse texto, porque todo ele era sobre os nomes das ruas da cidade, com um único fim: desabafar que lamentava que o meu pai não tivesse o seu nome numa rua de Lisboa, a sua cidade. Tive esperança de conseguir esse meu secreto desejo. Até hoje, nada.
Por isso, quando agora a Agenda Cultural da CML fez 25 anos e solicitou a minha colaboração, hesitei. O meu pai não tem o seu nome numa rua, e merecia.
Ainda assim alinhei, e respondi ao inquérito sobre os anos 90. Perguntaram-me o que fiz de essencial nessa década, e eu respondi: autor/apresentador dos programas Canal Aberto (RTP-1) e Falatório (RTP-2), editor da revista K, criador e director do suplemento DNA do jornal Diário de Notícias. Também escrevia semanalmente na Visão.
Depois, foram estas as perguntas, foram estas as respostas…

 

Como caracteriza a Lisboa do início dos anos 1990, no panorama cultural?
Uma cidade em revolução, descoberta e renovação: as grandes festas do Frágil, a abertura do “Lux” e da “Bica do Sapato”, os anos de ouro da Moda Lisboa, a maturidade da geração de 80 do Bairro Alto. Ao mesmo tempo, a imprensa, a rádio a a TV em expansão, com novos projectos (quase todos muito urbanos: CMR e Rádio Energia, revista K, revista Ícon, etc), e uma clara ascensão da ideia de movimento urbano, cultura e moda em conciliação. Foram dez anos de glória, coroados pelo sucesso da Expo-98.

 

Qual foi o momento, ideia ou evento mais relevante da década?
Para a cidade, a Expo-98. Para mim, a abertura do “eixo” Lux-Bica do Sapato-Casa Nova-Delidelux. E se me perdoarem o excesso de personalização, o nascimento do meu filho, mesmo a meio da década, em 1995.

 

Quais as transformações que sentiu no ambiente cultural ao longo da década?
Senti que ao mesmo tempo que entravam em decadência ideias clássicas da cidade - cinemas como o Quarteto ou discotecas clássicas situadas na 24 de Julho ou junto ao rio, que não conseguiram superar a mudança em curso -, nasciam e cresciam alternativas que viriam a conduzir à Lisboa de hoje: cosmopolita, variada, vibrante. Para tudo isso contribuiu também uma terrível infelicidade que veio dos anos 80: o incêndio do Chiado - que tendo sido uma catástrofe, obrigou a renovar e recuperar todo o centro de Lisboa, com os felizes resultados que hoje estamos a ver.

 

O que ficou por cumprir, aos olhos de hoje?
Ficou por cumprir a cultura de bairro, a manutenção de espaços que podiam hoje conviver com a modernidade. Já falei do Quarteto, posso falar do cinema Londres, de alguns teatros, do Parque Mayer, da Feira Popular. E a baixa de Lisboa ainda está longe do que deveria ser, e o Chiado já é.

 

Qual o seu local preferido, dessa época, para sair ou estar em Lisboa?
Já respondi: Bica do Sapato, Lux, Pap’açorda, Casanostra, Casanova, Bar do Rio. Se fosse hoje, falaria da renovação da frente ribeirinha, que muito me tem convocado como lisboeta amante do Tejo.

 

Escolha um objeto que simbolize, para si, os anos 90 do século passado.
O telemóvel.

07
Out15

Está tudo doido

Ou efectivamente não percebo patavina disto, ou há qualquer coisa de perverso no debate que vai por aí: o facto dos partidos de esquerda, desunidos e cada um a falar para seu lado, terem mais votos e mandatos do que a coligação do PSD com o CDS, não altera a verdade factual. E essa verdade diz-nos que o PAF ganhou as eleições. É natural, por isso, que o seu líder seja convidado a formar governo. É simples como água.
Se a coligação conseguirá depois governar em minoria, é outro problema. Que não diz respeito a Cavaco (embora ontem parecesse…) nem aos partidos da oposição (que devem obediência aos seus programas e eleitores, e não a essa ideia gasosa de estabilidade) - diz respeito, isso sim, à capacidade que a coligação vai ter, ou não, de ser flexível nas opções de futuro e conseguir cumprir o seu programa sabendo que nem tudo vai ser “limpinho, limpinho” na Assembleia da Republica. Não é um exercício fácil - mas é essa a sua missão.
O resto são aritméticas sem nexo. A sensação que dá é a de que o facto de não ter havido uma maioria absoluta alterou os números e deu vitórias a quem não ganhou e derrotas a quem não perdeu. Está tudo doido.

04
Out15

Lido

As redes sociais têm destas coisas: no meio de poluição, ruído e lixo, há quem tenha a palavra certa, o desabafo adequado, no momento oportuno. É por isso que não tenho muito a dizer sobre as eleições deste domingo. Cito dois posts em que tropecei no Facebook e que, de alguma forma, sintetizam o que penso…
Eduarda Abbondanza:
“Os portugueses escolheram!
Uma parte importante "baldou-se" como sempre.
Há sempre um lado bom em tudo e neste caso será "o fim das greves e das manif", certo?
Agora quem quer trabalhar vai poder fazê-lo em paz porque o povo decidiu que é assim que está bem!
- albarda-se o burro à vontade do dono -
Amanhã é um novo dia!
Entrem com o pé ‘direito’."
Outro, o de Carmo Afonso:
“Costa pode ser o próximo primeiro-ministro se a esquerda se entender. Esse é o interesse da esquerda e da maioria absoluta dos portugueses que foi votar. Mas parece não ser o interesse do aparelho do PS”.

Por agora é isto.

04
Out15

Em dia de voto

Ontem foi o chamado “Dia de Reflexão”: jornais, rádios e televisões estiveram impedidos por lei de noticiar o que quer que seja relacionado com o acto eleitoral de hoje. Confesso que me agrada a ideia de um dia sem o ruído das arruadas e a gritaria dos líderes - mas é apenas pelo lado sonoro. Podia também haver um dia em que os empregados de café fossem proibidos de empilhar chávenas e pires como se estivessem a baralhar cartas num jogo de sueca…
… No resto, acho a lei desfasada do mundo real. Na verdade, se o DN ou o Público decidirem falar de eleições e partidos, serão seguramente condenados a multas pesadas. Já eu, individualmente, no meu Blog, ou no twitter, ou no Facebook, posso dizer o que quiser, que nada me acontece. Ou seja: o universo digital, nas suas diversas frentes, não está legislado (e ainda bem…), o que vicia as regras. No limite, um jornalista ou director de jornal pode, no seu espaço individual de internet, fazer campanha ou análise ou reportagem no dia de reflexão - a mesma pessoa, se publicar esse texto ou o passar na rádio ou TV, viola a lei e é punido. Mesmo que tenha 100 mil leitores na net e apenas 10 mil no jornal…
Pode parecer um paradoxo irrelevante, mas não é. São mais livres, por inimputaveis, os que se movem na rede, do que aqueles que usam os meios de comunicação tradicionais.
Algo me diz que isto não vai durar muito tempo. Em geral, o mundo politico não convive bem com o “excesso” de liberdade. Deixa-o doente. Quando assim é, como se costuma dizer, “trata-lhe da saúde”…
… Mas isso agora não interessa nada: vamos lá votar.

02
Out15

O mail de um eleitor

(Crónica de ontem na plataforma Sapo24)

Façam de conta que recebi este mail:
“Caro Pedro,
Não nos conhecemos e, talvez por isso, achei que podia desabafar consigo. É como na psicoterapia: terminada a sessão, esqueço-me do terapeuta e ele esquece-se de mim e passa ao seguinte. Tome o meu desabafo assim, apenas como o testemunho de um eleitor comum, cidadão comum, perante um jornalista.
Para vos dizer, e tomo o Pedro como mensageiro para a sua classe, que vocês, jornalistas, não têm feito um bom trabalho. Falo por mim. Quando a pré-campanha começou eu não sabia em quem votar, nem tinha a certeza de ir votar. O voto em branco era o mais provável. Passei as passas do algarve nos últimos quatro anos, mas ainda não me esqueci do PS nos anos anteriores. Esta memória bastaria para o tal voto em branco.
Mas é pior. Não me revejo nos grandes partidos, que sistematicamente me enganam desde 1975. Não me revejo nos pequenos, por não lhes dar crédito ou não terem tempo de antena suficiente para me convencer. O sistema está montado para funcionar neste vácuo… Nunca os pequenos serão grandes, nunca os grandes deixarão de o ser. Vocês, jornalistas, contribuem para que este estado se perpetue… Uma vez mais, nesta campanha, seguiram a lógica do grande espectáculo e do pequeno soundbyte.
Porém, acrescentaram-lhe um pequeno/grande elemento, que fez toda a diferença: as sondagens diárias, em várias frentes, e com resultados nem sempre semelhantes. Esta inovação da “corrida diária” ía dando comigo em doido: por ver a coligação governamental subir, ponderava um voto útil; por ver o PS subir, ponderava o voto em branco; por ver os pequenos partidos ganharem alguma dimensão, ponderava escolher um deles. Os meus dias transformaram-se num inferno de duvidas,  num mar de interrogações, acima de tudo numa insanável certeza de que qualquer voto é, na verdade, um voto no escuro.
E é assim que chego a esta quinta-feira. No escuro. Sem saber de quem desconfio menos, sem saber quem me vai enganar melhor, sem saber que raio de valor tem o meu voto (até podem mais votos e menos deputados dar um governo diferente…).
Caro Pedro: eu sei que é mais fácil e tentador matar o mensageiro do que procurar a origem da mensagem. Há séculos que assim é. Mas sem querer ser injusto, deixe-me que lhe diga: na próxima segunda-feira, além dos berbicachos que o Prof. Cavaco Silva vai ter de resolver, talvez vocês, jornalistas, devessem obrigar-se a um trabalho de casa. Olhar para o trabalho feito e pensar um pouco sobre ele. Perceber até que ponto se deixam enredar nestas teias que os partidos tecem para se manterem à tona da água.
Só para acabar: eu até acho que o nosso jornalismo é livre e tem um razoável módico de independência. Mas não deixo de sentir que, por falta de dinheiro ou vontade, alinha mais vezes do que devia na tal “espuma dos dias” que nos deixa assim, às escuras, nos momentos cruciais”.
Pronto. Imaginem que recebi um mail assim.

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