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Pedro Rolo Duarte

30
Jul16

12 Mandamentos para os próximos dias

mar desfocado.jpg

Um. Não hesitarás sempre que uma sardinha sorrir para ti.
Dois. Não evitarás a onda, só porque a água está fria (estará sempre, e tu sabes disso há mais de 50 anos).
Três. Não interromperás a leitura do livro por causa de um titulo divertido de jornal.
Quatro. Tomarás decisões radicais, sabendo que não concretizarás a maioria delas.
Cinco. Todos os teus pensamentos conduzirão a um mesmo lugar: a praia.
Seis. Sabes que vais perder todos os jogos com o teu filho, mas jogarás para ganhar, como sempre.
Sete. Guardarás uns minutos de cada dia para procurar respostas a esta pergunta: e este ano ainda não porquê?
Oito. Guardarás outros tantos de cada dia para definir o caminho: para a frente, sem hesitar.
Nove. Por cada mergulho, apagarás um momento infeliz; por cada onda, acordarás para o que se segue.
Dez. Não cobiçarás a caipiroska alheia - pedirás uma para ti.
Onze. Não pensarás se o caracol sofre quando é cozinhado - pensa antes no que sofres quando te dizem que hoje já não há mais.
Doze. E nunca te esqueças: se a vida te dá limões, guarda-os para o gin tónico.

28
Jul16

Uma brincadeira séria

(Hoje, quinta, na plataforma Sapo24)
Subitamente, num Verão manchado pelo sangue e pelo terror, um jogo veio abanar as vidas de milhões de pessoas e, ainda que por minutos, deixá-las fora da loucura que nos rodeia e entrar numa bastante mais pacata aventura: apanhar, com um telemóvel, bicharocos que julgávamos desaparecidos.
Eu, pelo menos, julgava. Se me dissessem, há um mês, que os Pokemóns, que dominaram o universo infantil do meu filho no final dos anos 90, iriam voltar com mais força, mais vida, e agora iam arrebatar os mais novos e os mais velhos em simultâneo, não acreditaria. Mas, cada vez mais, o mundo é inacreditável - e no entanto, existe…
O jogo “Pokemon Go”, que está a dar a volta à cabeça de meio-mundo por todo o globo, batendo recordes de downloads de uma aplicação em escassos dias (mais de 75 milhões em apenas 20 dias, sendo certo que está disponível em apenas 32 países), é um caso de estudo - por todos os motivos, incluindo os mais inesperados, como a sucessão de notícias que motivou em todos os media. O sucesso do jogo, e a figura dos jogadores, na rua, de telemóvel em punho, junto com os faits-divers do costume (da igreja que atrai fieis com Pokemóns, à PSP empenhada em também os “caçar”…), criaram rapidamente uma onda de gozo e até de maledicência sobre o jogo. Nada de novo. Sempre que há um fenómeno viral, há logo um grupo de intelectuais desconfiados…
… Nada mais precipitado e sem sentido. Descarreguei o jogo para perceber o fenómeno - mas talvez convenha avisar previamente que nunca gostei de jogos de computador, consola ou telefone; e continuo a não gostar nem praticar. Que me lembre, o único a que achei alguma graça foi o “Guitar Hero”, da Playstation, porque me permitiu voltar a uma paixão de infância: a bateria! Dito isto, a “app” que fez renascer a Nintendo - em todos os sentidos, a começar no seu valor comercial… - constitui a primeira aproximação entre a virtualidade dos jogos e a realidade dos lugares por onde andamos. Nesse sentido, é muitíssimo bem conseguido, porque mistura o puro entretenimento - apanhar bonecos que não estão em lado nenhum, mas estão nos nossos telefones… - com conhecimento sobre a cidade onde nos encontramos. Descobri, por exemplo, o significado dos símbolos que estão incrustados na parede do edifício onde vivo, como descobri que há um castelo de brincar, para crianças, aqui no bairro…
Por outro lado, e numa reflexão mais séria, “Pokemon Go” faz os jogadores saírem do ninho, do seu reduto. Traz as pessoas para a rua - e ao misturar virtualidade com paisagem real, humaniza o jogo e quem o joga. Com isso, abre portas para toda uma nova filosofia no que aos dispositivos móveis diz respeito: não são mais objectos fechados onde mergulhamos em mundos muitas vezes inexistentes, tornam-se parte da realidade de cada um. E são estas evoluções, ou novidades, que ajudam a tornar tão popular - e instantâneo… - o que seria apenas mais um jogo para telemóveis.

23
Jul16

Mar, com ou sem poesia

ab nov 2016.jpg

Se, por um qualquer azar (ou sorte, se vir o tema de outro ponto de vista…), tivesse de ir viver para outro lugar, a ausência que mais me custaria, além dos amigos e da família, era a deste mar. Na vista como no corpo.
Nasci e cresci a enfrentar as ondas fortes da Praia Grande, mais tarde adoptei a Costa Alentejana, quando me custou demasiado o Penedo sem o meu pai.
Comecei por Mil Fontes, depois Zambujeira, e nos últimos anos subi e apaixonei-me por Melides, pela Aberta-Nova, e tudo à volta. A água fria limpa e desintoxica, o espaço e o tempo crescem e parecem não ter fim, e sinto-me longe - estando, afinal, bem perto.
Esta semana passei por lá. Mergulhei no mar da Aberta-Nova, que estava doce e acolhedor.
Nunca deixo de me lembrar de Pablo Neruda, que foi um dos grandes poetas do mar, ainda que só há poucos anos disso me tenha apercebido… Na minha delirante falta de memória, mesmo assim, pairou um bocadinho de um poema de Neruda (e tive de ir procurar o original, para não asneirar…): “Necesito del mar porque me enseña / no sé si aprendo música o conciencia”.
Com o mar aprendo a ser humilde. A reduzir-me à justa dimensão. E a dar valor ao que realmente tem valor. Se soubesse escrever um poema, como ele, seria por aí…

18
Jul16

A montanha-russa

Nunca percebi esta lógica, mas também não é agora que me vou dedicar a ela: em muitos países, o domingo é considerado o último dia da semana - mas em Portugal, como no Brasil ou na Grã-Bretanha, é o primeiro dia da semana… Isso explica que hoje seja segunda-feira e não, como se esperaria, “primeira-feira”; mas não explica que o primeiro dia da semana seja, afinal, um dia de descanso…

Adiante.
Queria apenas deixar uma reflexão breve, seguramente abalada pelo calor mortal de Lisboa, sobre a montanha-russa que uma só semana nos pôs a percorrer. Há oito dias, no domingo, vivíamos a euforia de sermos campeões europeus de futebol, e gozávamos de toda a forma e feitio a França e os franceses. Quatro dias depois, estupefactos, assistíamos quase em directo ao terror de Nice e não podíamos fazer mais do que estar ao lado daquele povo que sofre, em pouco tempo, por três vezes, a barbárie da intolerância e do fundamentalismo.
Ainda na ressaca dessa noite de 14 de Julho, da Turquia chegavam imagens de um país a ferro e fogo, centenas de mortos, milhares de presos, e um regime que poucos se atrevem a enfrentar.
Pelo meio, mais vitórias portuguesas no mundo do desporto, mais tragédias, mais notícias absurdas sobre sanções ainda mais absurdas.
Aqui chegados - segunda-feira, primeiro ou segundo dia da semana, como queiram -, olho a semana passada e não consigo ordenar as ideias. Como quem sai de uma montanha-russa, sinto-me mareado, nauseado, e oscilo entre a incapacidade de sorrir e necessidade de resistir e não deixar de sorrir.
Vivemos tempos que julgava impossíveis. Mas, ao mesmo tempo, confirmam o que a vida me tem ensinado: não há impossíveis na vida. Para o melhor e para o pior.

15
Jul16

Nice

Como diz a minha amiga Sofia, por mais liberais que sejamos, há ainda, e sempre, para quase tudo, um lado certo e um lado errado. Assisto, estupefacto e chocado, à tragédia de Nice, e consola-me um único facto: a maioria de nós persiste no lado certo. A tentação pode ser grande, mas não podemos ceder ao lado errado.

13
Jul16

Calem-se!

Há coisas que não se explicam. Um dia, em algum momento menos feliz, alguém deve ter feito uma qualquer bruxaria que me condenaria a uma pena perpétua: viver rodeado de ruído. Quem quer que me tenha condenado, está de parabéns. Conseguiu. Há 15 anos que sou perseguido pelo ruído, o que me tem feito mudar de casa com metódica regularidade, mas sem qualquer sucesso.
Já vivi em apartamentos velhos que começaram a sofrer obras de renovação no dia em que me instalei; já vivi em apartamentos aparentemente conservados, mas que ainda assim levaram obras poucos tempo depois de me mudar; nos últimos anos, e bem enganado pela aparência exterior do prédio e pelo estado do meu iminente terceiro andar - todo ele novinho em folha, num edifício dos anos 50… -, achei que tinha chegado ao paraíso, com o Parque do Inatel em frente e passarinhos a cantar pela manhã.
Redondo engano: o meu apartamento foi o primeiro de (pelo menos) seis que viriam - e estão… - a sofrer obras de remodelação total nos últimos quatro anos. Significa, por cada apartamento, três meses de ruídos que vão do martelo pneumático às oito da manhã ao despejo de entulho pela tarde…
… Como se não bastasse, a tranquila varanda onde tomo o pequeno-almoço e tento ler à noite, vira-se para um campo de futebol de cinco onde as equipas que o alugam vibram umas com as outras aos gritos, palavrões e insultos. Quanto mais velhos os utilizadores, pior a banda sonora, mais grunha a linguagem. Se porventura se acalma a futebolice, logo vem o tratador da relva e a sua máquina, ou a feira alternativa e o bater dos tambores esotéricos, das taças tibetanas, ou o canto desafinado de meditações impossíveis. E evito falar da deficiente insonorização do prédio, que torna todos os vizinhos mais íntimos do que é suposto, mesmo quando o tema é “vai-te embora, isto acabou!”.
Viver na cidade é fantástico - mas viver no meio do ruído é mortal. Eu só queria que se quebrasse o feitiço e voltasse a paz, o silêncio, a possibilidade de acordar sem ser a golpes de martelo, ou de ver um filme sem ter como banda sonora uma cópia reles de um Benfica-Sporting. Não peço mais do que a oportunidade de escrever, em casa, durante o dia…
Às vezes pergunto-me se será por causa desta ruidosa forma de viver em silêncio que, tantos anos depois de me divorciar, continuo a viver sozinho…
Não é. Mas há dias em que até parece.

10
Jul16

Preguiça

Olho aqui para o blog, e confirmo o que já suspeitava: ando preguiçoso… Publico crónicas e textos que escrevi para outras plataformas, deixo citações e pensamentos de outros, aqui e ali um video, uma canção - mas textos originais e exclusivos para a minha sala de estar, poucos, muito poucos.
A razão é nenhuma, ou talvez seja um bocado mais de trabalho noutras frentes, as obras no prédio (que me dão cabo dos dias como se de uma tortura impiedosa se tratasse), o Europeu de Futebol (óbvio, pelo menos hoje…), e a ideia de que é Verão. Tem sido, mas só mesmo nos últimos dias…
Também tenho dedicado um bocadinho de tempo livre a projectos não-encomendados. É a soma de tudo isto, digo eu, numa espécie de diagnóstico justificativo.
Mas, alimentando uma coerência indesejada, encontrei este “Poeminha de Homenagem à Preguiça Universal”, que Millôr Fernandes escreveu. Preguiçoso, claro, aqui o deixo. Como se tivesse trabalhado para alimentar o blog, que não tarda entra no décimo ano de vida…
Preguiça, é só disso que se trata. Vai passar…

“Que nada é impossível
não é verdade;
todo o mundo faz nada
com facilidade”

07
Jul16

Lisboa que sobe e desce

(Crónica desta quinta-feira na plataforma/newsletter Sapo24)

Anualmente, a prestigiada e atenta revista “Monocle” dedica parte de uma edição ao ranking das melhores cidades do mundo para viver. A lista é elaborada a partir de uma série de critérios, nem todos óbvios, mas todos ligados à vida quotidiana das cidades: desde a facilidade em jantar depois das dez da noite às horas anuais de sol, passando pelo nível de aceitação de animais domésticos nos espaços públicos, a revista considera itens como estes ao lado dos clássicos desemprego, população, integração religiosa, etc.
Lisboa faz parte das 25 cidades “top” há vários anos, tendo vindo a subir na tabela: em 2014 estava no 22º lugar, em 2015 subiu para o 18º, e este ano ficou no 16º. O comentário do jornalista encarregue de justificar a classificação sublinha a cada vez maior convivência entre o lado histórico da capital portuguesa e o seu crescente cosmopolitismo e modernidade. No fim, nas recomendações para melhorar a qualidade de vida, fala de dramas verdadeiramente assustadores para todos, como os números do desemprego jovem (34,4%), e do caos do trânsito na cidade, que faz a cabeça em água, a muitos de nós, diariamente.
Tenho um especial interesse por estes olhares que vêm de fora e surpreendem com pormenores que nos escapam, mas também se equivocam com aparências sem fundamento. Nesse sentido, a classificação de Lisboa no ranking da “Monocle” mostra uma verdade - uma metrópole em mudança -, mas passa ao lado de uma ameaça real para quem vive na capital: cada vez é mais fácil ser turista na cidade, na mesma proporção em que é cada vez mais difícil viver nela.
É indiscutível que os últimos anos trouxeram vida a Lisboa, espaços públicos de qualidade, oferta cultural, requalificação de bairros, comércio cosmopolita, e uma diversidade de eventos e iniciativas que chegam a deixar-nos perdidos, de tanta oferta. Mas, ao mesmo tempo, além de se deixarem morrer ícones que faziam parte da nossa História e do nosso Património (ainda esta semana fechou mais uma loja clássica, a bicentenária “Tavares”, da Rua dos Fanqueiros…), tornou-se de tal forma prioritária a oferta turística que se negligenciaram as necessidades de quem vive e trabalha aqui. Lisboa é hoje uma cidade difícil para os lisboetas. Difícil na deslocação em transportes públicos, caótica no trânsito, cara na economia do dia-a-dia, escassa na possibilidade de habitar o centro da cidade. Em vez de servir os lisboetas, o poder local parece querer mandá-los para longe…
Quanto mais nos abrimos ao exterior, mais esquecemos quem já cá estava. Nessa medida, a qualidade de vida de Lisboa deteriora-se ano a ano, ao contrário do que faz crer o olhar distante e simpático da “Monocle”. Estamos a subir no ranking de quem nos visita - mas vamos a pique no coração de quem acorda todos os dias naquela que já foi, e cada vez menos é, a nossa “menina e moça”…

PS - Se calhar seria de esperar que escrevesse sobre o tema do dia, a passagem de Portugal à final do Euro 2016. Um orgulho para todos, sem dúvida. Mas eu não sou um especialista em futebol, sou apenas um espectador entusiasmado. E se passo a vida a criticar os “achistas” que enxameiam Portugal palpitando sobre tudo e todos, não quero ser mais um treinador de bancada a dizer o que me vem à cabeça. Só espero que domingo haja festa!

Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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