A semana começou com o regresso ao pedaço de Paulo Portas, directamente da Mota-Engil e da petrolífera mexicana PEMEX (serão assim tão diferentes da Goldman Sachs de Durão Barroso, que aliás o convidou?), para nos iluminar sobre globalização, Trump, referendos, eleições e os caminhos ínvios da Europa.
Com a inteligência e o talento que lhe reconhecemos para o soundbyte, e que vem do tempo das manchetes do bom velho “O Independente”, o ex-líder do CDS deixou provocações, frases cheias de sentido, e mensagens bem dirigidas para dentro e para fora da sua família política. É verdade que não se meteu nos pequenos sarilhos da caserna, mas tudo o que disse foi (também) sobre Portugal, e para os portugueses.
Porém, não foi isso que a “pós-verdade” mais perigosa – a que até parece ser verdade, porque na realidade não é, na aparência, mentira... – veio revelar. Cito o insuspeito “Público”, no texto de Sofia Rodrigues: “Nem uma palavra sobre política nacional. Assim têm sido as intervenções públicas de Paulo Portas desde que deixou a liderança do CDS. São conferências e comentários televisivos (esporádicos) mas sempre sobre assuntos internacionais”. E a seguir: “Quando há um ano passou o partido a Assunção Cristas, Paulo Portas prometeu deixar a política e mudar de vida.”
Ora, lendo o que Paulo Portas veio a Lisboa dizer, seja criticando o que entende ser um “excesso” de referendos, eleições primárias e directas, seja afirmando que a Europa é um “continente com graves problemas demográficos, sistemas políticos muito vulneráveis, que sai para a rua a toda a hora a defender direitos adquiridos, e agora ainda é contra o livre comércio”, do que se trata é, sem margem para dúvidas, de política nacional, no que tem de mais relevante e fracturante. Deixámos há muito de ser uma nação “independente” – logo, quando se fala da União e do seu estado, fala-se de Portugal e da forma como as diferentes forças conjugam o verbo europeu. Não seria preciso ir muito longe: a “geringonça” e o modo de gerir a economia foi radicalmente diferente da que a coligação PSD/CDS adoptou – e os resultados, também conhecidos esta semana, foram igualmente divergentes.
A História dos últimos 30 anos do nosso país recomendariam que se deixasse de ver Portugal à margem do continente onde se insere – mas a nossa atávica forma de estar persiste em empurrar-nos para o “fingimento”. Tanto fingimos que somos diferentes, como fingimos que somos iguais. Tanto nos achamos os reis do desenrasca como acordamos “europeus” e “nórdicos”. Tanto nos sentimos insultados por um holandês tolo como tomamos por elogio o marialvismo que tanto mal nos tem feito. Seremos bipolares?
Não sei responder. Mas tenho a certeza de que Paulo Portas não veio a Lisboa pelos lindos olhos de Durão Barroso... Veio marcar território, fingindo não falar de política nacional, e deixar rastilhos para os pequenos fogos que tanto gosta de atear. Nem mudou de vida nem deixou a política – adaptou o estilo aos novos tempos, tornou-se “conveniente”, e moderou a paixão pela intriga. Apenas isso.
Pior: afirmar criticamente, como fez, que gostamos (nós, europeus) de sair à rua para defender direitos adquiridos, é uma daquelas sentenças que mais parece uma acendalha na fogueira do descontentamento geral - em vez de constituir, como aparenta, uma tirada paternalista e ligeira de quem troca, por momentos, a sede do CDS pelo hotel de luxo que normalmente acolhe os ex-governantes bem-sucedidos. Ou que conseguiram passar pelo temporal desabrido sem uma molhadela, suave que fosse, ou um único pingo de chuva.
Paulo Portas vive no melhor dos mundos. Pode fazer de conta que anda longe, estando sempre por perto. Parece reflectir sobre generalidades, quando marcou alvos bem precisos. E até consegue que o levem a sério, na distância em relação à política nacional, quando apenas trocou a pequena trica pela grande angular da intriga “internacional”. Há vidas piores, mas não prestam...
Quando Pedro Passos Coelho confirmou o nome de Teresa Leal Coelho para a candidatura do PSD à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, garantiu uma série de premissas que podiam estar a escapar aos analistas: que Fernando Medina ganhou a “passadeira vermelha” para mais um mandato; que Assunção Cristas pode sonhar com um honroso segundo lugar; e que Pedro Santana Lopes fez bem em não se chegar à frente. Seria uma guerra dura para quem já foi Presidente - e enfrentar um actual Presidente que herdou “gratuitamente” o lugar, sem votos nem notoriedade, e chega ao acto eleitoral com uma cidade de sucesso oferecida de bandeja, ainda por cima “alindada” como há muito os lisboetas reclamavam, até se pode afirmar que seria injusto para Santana.
Na verdade, Lisboa está hoje mais “arranjadinha” que nunca. Confesso que tenho alguns receios sobre a factura a pagar, e sobre quem a pagará. Porém, há uma conta que já ando a receber: os eixos centrais da cidade tornaram-se, desde que António Costa mexeu no Marquês de Pombal, nas avenidas circundantes, e a coisa seguiu para bingo com as obras de Medina, insuportáveis para os automobilistas. Nunca mais me desloquei por essas vias, contornando a coisa pelas Praças de Espanha desta vida ou mesmo pelas desgraçadas Almirantes Reis do antigamente. O Presidente da Câmara responde, e bem, com o reinado do transporte público – mas a Carris e a confusão dos números dos seus autocarros, os caóticos percursos, os desfasados horários (os fins de semana são trágicos, parece que vivemos num deserto), os permanentes atrasos, e a disfuncionalidade operacional (basta ver os gigantes autocarros que circulam em ruas mínimas, em vez dos minibuses que a empresa também possui...), são suficientes para se perceber que o edifício, uma vez mais, começou a ser construído pelo telhado.
Se passarmos ao Metro, não é preciso recuar muito no tempo para lembrar a crise dos esgotados cartões “Viva Lisboa”, ou as sardinhas em lata em que o serviço se transforma pela manhã e ao fim da tarde. Como cliente regular do Metro, posso elogiá-lo, fora das horas de ponta, pelas estações cuidadas, na evolução inteligente ao longo dos anos, na clareza da sua sinaléctica, e até nas ideias que abriga, seja um concerto inesperado ou mesmo o muito criticado patrocínio comercial das estações, que achei sempre uma ideia feliz... Já não lhe perdoo as avarias sistemáticas nas escadas rolantes de estações “impossíveis” (como a baixa/chiado), ou a limpeza duvidosa das carruagens...
Carlos Barbosa, presidente do ACP, que nunca deixa o crédito por mãos alheias e diz sempre o que pensa, escreveu na sua página de Facebook, a propósito do renovado Cais do Sodré: “Bonito está, mas os sentidos de trânsito são mais uma borrada completa! Será que na CML não há nenhum Engenheiro de Trafego que tenha coragem para ir contra a "ditadura dos arquitetos"?”
Tem razão. E construir a casa a começar no telhado passa também por aqui. Além da melhoria e efectiva racionalização dos transportes públicos ser prometida para depois das mudanças que nos impedem de circular, parece que esta reforma de Lisboa, sem dúvida necessária e de aplaudir, foi determinada mais por desenhos de computador 3-D, lindinhos e perfeitos, do que por práticas de quem diariamente tem de andar pela cidade. Até mesmo de bicicleta.
Medina ganhará – mas espero que alguém o confronte com a pergunta mais simples de todas: depois da fachada, quanto tempo vamos esperar pelo interior do edifício que é a nossa cidade de todos os dias? Sim, aquela cidade onde há viadutos provisórios com 40 anos, que de vez em quando ameaçam o pior...
A entrevista que o Dr. Pedro Santana Lopes deu à TSF e ao “Diário de Notícias”, no fim de semana passado, tem momentos hilariantes – ou de chorar, conforme queiramos olhar a política “à portuguesa” -, mas é tudo menos insignificante (junta com a de Assunção Cristas ao “Público”), para perceber o que se passa à direita do PS.
O sucesso (pelo menos, até agora) da “Geringonça”, a forma “hábil” como actua o primeiro-ministro – a palavra “hábil” é bastas vezes usada por Santana para caracterizar António Costa - e a chegada de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência, com o formato que adquiriu e a surpreendente mão dada ao Governo, deixaram o PSD confundido, perdido, enredado num conjunto de nós que ninguém ousa desatar. A sensação de falta de rumo nota-se em Pedro Passos Coelho – a começar na pose, algures entre primeiro-ministro que se recusa a deixar o cargo, e líder da oposição que consegue ser mais trauliteiro do que se esperava de um ex-primeiro-ministro... -, nos tiros nos pés dos seus acólitos, e resulta em entrevistas como esta, onde Santana Lopes parece um analista independente e não um militante do PSD, mais preocupado com o poder do que com o país, e mais incomodado com Marcelo do que com António Costa...
A questão que ele coloca é mesmo a do poder: “Como é que o PSD e o CDS regressam ao poder? Parece que há aqui falta de diálogo ao meio, do sistema partidário. É a sensação que eu tenho às vezes, porque PSD e CDS fazerem por voltar ao poder sem algo de novo - não estou a falar de lideranças -, é complexo”.
Repare-se que Santana Lopes não fala em projectos nem ideias para Portugal, ou reformas por fazer – fala apenas de regresso ao poder, deixando-nos a sensação de que esse é o único desígnio que o PSD consegue afirmar. Pelos vistos, sem grande sucesso.
Mas o mergulho no charco não fica por esta “confissão” da falta de GPS quando o partido não está no governo. Vai mais longe quando praticamente ignora o estado da nação e prefere observar o social-democrata Marcelo na Presidência. Diz Santana, com alguma arrogância, para não dizer soberba, sobre um homem que fica, politica, cultural e eticamente, a anos-luz do presidente da Misericórdia: “É manifesto que Marcelo, às vezes, tem exagerado e, muitas vezes, tem feito de primeiro-ministro nas intervenções que faz, o que dá imenso jeito ao dr. António Costa”. E ao ser-lhe pedida uma nota para o Professor, a lata persiste: ”14,5. Entre o bom pequeno e o bom grande, mas acho que é mais bom grande. É 15, na prática. Eu só não digo que é muito bom por esse excesso e pelo equilíbrio com a oposição. Mas acho que tem feito um bom mandato, um bom primeiro ano. Mas também levo em linha de conta o facto de ser um primeiro ano”.
Estivesse Pedro Santana Lopes na liderança do PSD e eu diria que tinha perdido a cabeça. Estando afastado, mas “andando por aí”, como gosta de dizer, pensa o PSD com tal desdém e menosprezo que se dá ao luxo de sugerir que falta “algo de novo” (quem sabe outro Partido...), e que o Presidente da República, ainda que social-democrata, não cumpre a missão como seria expectável. Ou seja: perdidas as referências e o poder, está esvaziado o PSD, e com ele as ambições de quem por lá anda. Outro tiro no pé, e mais uma acha para a fogueira onde arde lentamente o fantasma em que o partido se tornou.
A resposta a tudo isto podia estar em Assunção Cristas. Mas a longa entrevista que deu ao “Público”, essencialmente preenchida com um “não tenho nada com isso, eu até ía a caminho da missa”, sobre o passado, o PSD e Marcelo, não ajudou à festa. Foi uma tentativa de fuga para a frente, que acabou por ter o amargo sabor de quem assobia para o lado.
É exemplar (no pior sentido) o estado em que está a oposição, e de como tal facto é meio-caminho andado para surgir quem, à direita, saiba aprender os efeitos do vazio. Não augura nada de bom. E isto, sim, é o pântano em todo o seu esplendor.
Sempre que oiço José Sócrates queixar-se da lentidão da justiça e das demais injustiças a que tem sido submetido, pergunto-me: este homem não foi primeiro-ministro de Portugal durante seis anos? O que fez para que a justiça deixasse de ser o que, pelos vistos, continua a ser? Ou está apenas a reconhecer que, desde 1987 (ano em que foi eleito deputado pela primeira vez), esteve mais preocupado consigo do que com aquilo para que foi sucessivamente eleito?
O homem é tão cheio de si que nem se apercebe de que dispara tiros nos pés sempre que critica o que ele próprio devia ter mudado e não mudou.
Esteve lá a fazer o quê, além do que é agora suspeito de ter andado a fazer?
Sempre que se fala da pós-verdade, que mais não é do que a vontade de tornar factual o que é mentira, e se exibem as “notícias” inventadas por Donald Trump e a sua claque, tenho tendência a recuar no tempo e recordar que, no Liceu, umas das raras lições que me ficou da matemática (a que era péssimo aluno), foi a explicação de uma professora sobre estatística. Era mais ou menos isto que a senhora contava: tenho em casa um belo frango assado; cheia de fome, enquanto o meu marido estaciona o carro e sobe ao nosso apartamento, decido comer o frango inteiro. Sobram batatas fritas e pão... Porém, para efeitos estatísticos, naquela casa cada frango é dividido por dois; ou seja, cada um dos elementos do casal terá comido meio frango. Mesmo que o meu marido tenha, em bom rigor, ficado esfomeado!
Esta ideia primária, muito aplicada na politica conforme o jeito que vai dando, constitui a antecâmara da tal pós-verdade. É usada para mascarar números sobre desemprego ou o investimento, como serve para as interpretações que demonstram o estado lamentável da nação.
O mesmo algarismo pode servir uma tão variada gama de interesses que é praticamente impossível encontrar um denominador comum numa operação aritmética. Onde está a verdade? Algures, a meio caminho entre todas as mentiras...
Talvez por isso, ando há algumas semanas a tentar digerir, sem sucesso, uma sondagem (da Intercampus, divulgada pelo jornal Público), que tentou “perceber” os jovens portugueses através de uma série de perguntas que vão do mais sério ao mais fútil. E se acredito que a maioria dos sub-34 escolha Marcelo Rebelo de Sousa como o mais sexy de entre os homens públicos – a longa distancia da mulher mais sexy, Assunção Cristas, ou de Joana Amaral Dias, a segunda classificada... -, parece-me pouco crível ou sequer aceitável que haja 48,8% de jovens a declararem interessar-se por politica, a que se acrescentam 15,7% de “muito interessados” na matéria...
Sejamos sérios: se fossem interessados na matéria, não teriam deixado à porta de uma Faculdade Jaime Nogueira Pinto, e uma conferência seguramente interessante, mesmo para quem com ele estivesse em desacordo.
A abstenção em actos eleitorais, e o caldo morno em que se movem estes mesmos jovens, diz ainda mais do desinteresse e indiferença que nutrem pelo mundo que os rodeia – facto confirmado por outra questão da sondagem, que revela uma maioria de 57% que confia nada ou muito pouco no Governo.
Não confiam em quem governa mas interessam-se por politica? Por um lado gostam, por outro lado ignoram sistematicamente as regras mais básicas? Há qualquer coisa que não bate certo.
E o que não bate é a tal ideia de verdade que dá jeito, conveniente, que estando na moda é um perigo letal. Faz lembrar a bomba de neutrões, num tempo de guerra fria que escaldava: mata por dentro deixando tudo intacto por fora.
Os números redondos, os números que justificam sucessos e fracassos, não são nem verdades absolutas nem mentiras descaradas. São quase sempre quadrados. São dados que, desde há muito, os especialistas desconstroem e os media, na sua função “tradutora”, explicam e esclarecem. Nesse quadro, é fácil perceber porque andamos tão perdidos, sem encontrar correspondência entre o que nos dizem que vivemos e o que efectivamente sentimos, entre o real cinzento dos dias e o sol que nos vendem, ou a tempestade que nos anunciam.
Nem os números são redondos nem os factos são óbvios – e não precisávamos que nos “dessem” um qualquer Trump para saber que, como na história do frango comido por um só, na sala onde estão dois, também 10% de desempregados, ou 2% de crescimento económico, não traduzem uma vida melhor nem garantem um desanuviado futuro. São apenas dados a ter em conta numa aritmética sempre duvidosa e pouco ou nada rigorosa.
Tal como a sondagem sobre os jovens, se a olharmos sob o prisma de quem impediu Nogueira Pinto de falar: eles podem até parecer, mas não são. Nem interessados nem interessantes...
Há uma expressão popular, muito usada para demonstrar a nossa confiança nos outros, que receio possa entrar em desuso para todo o sempre, seja em relação àqueles em quem acreditamos - mesmo sem conhecer, apenas por intuição e currículo -, seja em relação aos nossos familiares e amigos. É a clássica “ponho as mãos no fogo por...”.
Todos nós já pusemos as mãos no fogo por alguém – e nem todos nos queimámos, acredito. Mas os últimos tempos têm demonstrado que é pouco seguro brincar com o fogo, porque quase todos os dias aparece alguém por quem poríamos a arder as mãos – e o problema é que, subitamente, se o fizéssemos, ardiam mesmo.
Não brinco. O assunto é sério. Estou a falar de quando a excepção ameaça tornar-se regra, e de quando o que parecia ser uma ovelha fora do rebanho é afinal parte integrante do rebanho.
Deliberadamente, não vou referir um único nome. Não quero manchar suspeições, nem alimentar suspeitas por provar nas instancias competentes. Quero apenas notar que não há praticamente dia em que não nasça um novo suspeito, um novo arguido, um novo condenado - que vem juntar-se a uma lista cada vez mais vasta de figuras de todas as áreas politicas e profissionais -, quase sempre envolvido em praticas ilícitas que invariavelmente desembocam em corrupção, fraude, e acima de tudo no aproveitamento de cargos de poder e influência em beneficio próprio, com ou sem conluio e cumplicidade.
Durante anos, habituámo-nos à ideia de uma classe de gestores, empresários, empreendedores, cuja ousadia, inovação, competência e conhecimento deram ao nosso tecido empresarial uma dinâmica e uma imagem que teriam de uma vez por todas enterrado o passado de pequenez e contas de mercearia que marcara a ditadura (e mesmo algum tempo pós 25 de Abril...). Não foi há muito tempo que assistimos à renovação da banca nacional, à criação de marcas inovadoras em todas as frentes (lembram-se da “Nova Rede”? Do “BCI”? Da “TMN”?), às iniciativas de empresários que queriam “aconselhar” os Governos sobre os desígnios de Portugal, e ao lançamento permanente de novos nomes que orgulhavam a gestão, faziam as capas das revistas, e davam as entrevistas de fundo dos jornais. Sobre todos eles recairia sempre a pequena inveja em relação aos fabulosos rendimentos – mas, ao mesmo tempo, reconhecia-se que a competência e os lucros gerados justificavam os ganhos e as mordomias e o que mais houvesse.
Pior: acreditámos que tanta competência e saber, tanta boca cheia de “responsabilidade social”, e obviamente tão extraordinários vencimentos, eram mais do que suficientes para podermos “por as mãos no fogo” por eles. Não precisavam de mais...
Os anos passaram. Como numa peça de teatro que chega ao fim, o palco esvazia-se e já só mostra o vazio. Os actores despem os seus fatos e mostram-se como são. Somos repentinamente surpreendidos com a mais crua verdade: afinal, nada do que os podia distinguir, os distingue. Nada do que aparentou a diferença foi diferente. E o fogo fátuo que exibiram, se não nos queimou, também nunca chegou a arder...
Aqui chegados, sobra em desilusão e desencanto o que faltou em tudo o resto. No crédito que lhes demos sem merecerem, no exemplo de seriedade que todos os dias se põem em causa, e acima de tudo numa ideia de Portugal que, uma vez mais, era uma ilusão. Parecida com aquela que enganou os nossos pais, os nossos avós. Numa sina a que não chamo fado por respeito à canção – mas chamo tragédia, porque não é mais do que teatro. De vão de escada.
Blog da semana
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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