Patamar intermédio
Assisti ontem a um momento que demonstra que o homem português comum, mercê de mais de vinte anos de integração europeia, não é mais o grunho habitual. Pelo menos este homem, que eu vi, não é mais.
Foi assim:
Eu estava encostado a uma parede, e parado, ele vinha caminhando da esquerda para a direita, e desde há cinco passos ensaiava aquele ruído clássico de quem vai cuspir violentamente para o chão. O ruído é em geral acompanhado de um esgar e de uma espécie de tomada de balanço da cabeça para o arremesso. E assim foi. Porém, no momento decisivo, o homem aproximou-se de um caixote de lixo de gelados da Olá e apontou lá para dentro. Para mais, acertou.
O grunho habitual subiu ao estatuto de grunho europeu. Ibérico, vá. É uma evolução, como outra qualquer.
Se desse para ensinar esta parte do caixote à maioria dos motoristas de táxi de Lisboa, poupavam-me muitas viagens que faço em agonia pré-vómito. Apesar do ruído ser incontornável.