Do direito à greve
Tenho descoberto nos últimos tempos mais uma característica peculiar (e muito estranhamente ridícula) do nosso mundo social e político: uma greve só é legítima, aceitável, respeitável e defensável quando diz respeito à nossa classe profissional, à nossa tendência política, ou ao jeitinho que nos dá. Fora isso, é oportunista, interesseira, contra os interesses nacionais, ou apenas pouco razoável.
Eu, que até aprendi o materialismo dialéctico logo em 1976, li o “Capital” em 78, e raras vezes concordei com Friedman, sou chamado de neo-liberal (e aqui “chamado” é mais ou menos como “lamentavelmente apelidado”, e aceito porque vem do padrinho do meu filho...).
Mas acho que todas as classes profissionais têm direito à greve, defendo o Serviço Nacional de Saúde (tal como foi criado pelo PS, mas actualizado, por forma a que pague qualquer coisa quem qualquer coisa pode pagar, e pague mais que isso quem mais que isso possa pagar, e nada mais...), e não consigo ver onde está o “crime” de lesa-pátria da paralisação dos médicos.
As greves constituem a forma legal dos trabalhadores fazerem valer as suas posições e reivindicações - já que não podem dar títulos académicos a ministros, terrenos a empresas e negócios a empresários. A lei até aconchega a vida dos cidadãos, garantindo serviços mínimos. Por que raio não se respeita de forma mais linear e básica uma manifestação de classe?
Há coisas, nisto da democracia, que não percebo por que motivo se ignoram. O respeito, sim, o respeito é a mais básica de todas.