Pedido de Desculpa
Este é, em primeiro lugar, um pedido de desculpas ao historiador Rui Ramos e à equipa que, com ele, coordenou e escreveu a História de Portugal que a editora Esfera dos Livros publicou, há algum tempo, e o jornal Expresso decidiu oferecer, em fascículos, ao longo deste Verão. Mas é também, e especialmente, um pedido de desculpas aos leitores deste blog.
No passado dia 17 de Agosto postei o texto que aqui se pode ler. Ao contrário do que noutro blog escreveu o jornalista José Manuel Fernandes, não estava a brincar com a obra – estava a coleccionar os fascículos da História de Portugal (HdP) de Rui Ramos com o objectivo de a enviar ao meu filho, que está a estudar longe daqui -, e o meu post resultou exclusivamente da leitura de crónicas que o historiador Manuel Loff publicou no diário Público. Tomei então como certas algumas considerações que prefiguravam uma grosseira reescrita do nosso Século XX: a acreditar na conjugação entre citações do livro e opiniões de Manuel Loff, a HdP de Rui Ramos classificava a ditadura de Salazar como uma suave monarquia constitucional, ignorava a PIDE, as prisões politicas, a tortura, as mortes no Tarrafal, e dava como certa a existência de eleições livres. Não falando da Guerra Colonial e dos partidos políticos e sindicatos clandestinos.
Como venho agora a comprovar, depois de ler os capítulos que são dedicados a este período da nossa História, precipitei-me e errei. Como blogger, fui a chamada “Maria vai com as outras” – e como jornalista (ainda que aqui, no blog, eu seja apenas o cidadão Pedro Rolo Duarte, não deixo de ser sempre um jornalista...) ignorei olimpicamente as mais básicas regras da minha profissão, confiando na construção (que venho a verificar ser esfarrapada e lamentável) do colunista do Público..
Na verdade, Manuel Loff manipula, extrapola, inventa e deturpa, de forma rasteira e sem pingo de vergonha, o que Rui Ramos escreve. O Estado Novo é descrito ao longo do livro com rigor, ainda que sem militância, como aliás deveria sempre ser. Não se diaboliza a ditadura – como não deixa de se lembrar os males que nos trouxe, chegando a ser comparada com o regime de Mussolini em Itália. O que Rui Ramos fez de diferente em relação a outros tratados sobre a História portuguesa do século passado foi justamente não alinhar nos lugares-comuns da esquerda ou da direita, e deixar antes uma perspectiva enquadrada, distanciada e factual do regime anterior à revolução de 1974, acrescentando ainda um olhar também desapaixonado sobre os anos de 74 a 76, PREC e descolonização incluídos.
Tudo o que Manuel Loff escreveu e criticou no Público pode ser contraditado, desmentido, desmontado, linha a linha, nas páginas da HdP. Talvez valha a pena ler a resposta do próprio Rui Ramos, aqui, para que se perceba até onde foram enganados e manipulados aqueles que leram ingenuamente, como eu, a crónica de Manuel Loff.
Confesso que, a meu favor, só tenho dois argumentos: a assertividade e convicção da prosa de Loff convencem facilmente o leitor mais incauto; e o facto de ter sido editada num jornal de referência, com a qualidade do Público, oferece à partida garantias que não julgava poderem estar em causa.
Nenhum destes factos, porém, muda o essencial: ao embarcar, sem os cuidados necessários, na falácia de Manuel Loff, acabei enganando-me a mim próprio e enganando os leitores deste blog. Fui alvo de duras críticas em diversas plataformas – e, descontando os exageros que assinalei em diversos posts, não deixei de abrir portas a um pedido de desculpa.
Ele aqui está. Com humildade mas, paradoxalmente, com orgulho. Só não parte um prato quem não mexe na loiça.
(E uma certeza: mal o Expresso acabe de oferecer os fascículos que compõem o livro, ele segue para a morada do António Maria lá do outro lado do Mundo. Tranquila e livremente, lerá quando lhe der vontade de “passear” um pouco pelo seu país e pela História que nos trouxe até aqui, e a ele... até lá!)