Aritmética sexual
O Expresso começou este fim-de-semana a apimentar a nossa vida com um assunto – por fim... – mais interessante do que a crise: a vida sexual dos portugueses. Um mega-estudo, o maior jamais feito na nossa imprensa, que vai encher a revista de sonhos, frustrações, revelações, e as eternas comparações que fazem as delícias de toda a gente.
“O quê, 18,8% dos portugueses só faz amor uma a três vezes por mês? Vês, querido, nós estamos bem acima da média...”
Imagino as conversas que o estudo vai dar...
Por mim, confesso, o que me entristeceu foi o gráfico sobre a satisfação sexual da pátria, cuja curva descendente é de tal forma proporcional à idade que já entrei na tristonha fasquia dos “abaixo de 40%”. O caminho não é famoso, e é sempre a descer. Se soubesse desde a juventude o que o Expresso agora me revela, tinha aproveitado melhor a vida entre os 18 e os 24 anos...
Dito isto, fiquei com ideia que somos pouco imaginativos, temos poucas fantasias e, numa escala de caracterizações sumárias, diria: somos uns caretas. Não falo da minha intimidade, por isso não vos digo se a vida me tem mostrado tal retrato, mas isto é o que vem no Expresso. E foi estudado.
Ainda assim, mesmo sabendo que, neste tipo de matérias sensíveis, há muita mentirinha nas respostas dos inquiridos, e ressalvando o fraco talento que tenho para a aritmética, não consegui ultrapassar uma dúvida metódica.
A saber: em Portugal há mais mulheres do que homens, é verdade, mas a desproporção é pouco significativa - 100 homens para cada 107 mulheres.
Ora, o estudo do Expresso revela que 12% dos homens já teve mais de 10 parceiras sexuais, enquanto apenas 1,2% das mulheres teve mais de 10 parceiros sexuais. Contas básicas, isto daria 550 mil homens com mais de 10 parceiras, e cerca de 70 mil mulheres com o mesmo quadro de honra. Não bate certo...
A dúvida é esta: ou eles partilham um reduzido número de loucas que têm milhares de parceiros, andam sempre em tournée, e não respondem a inquéritos do Expresso, ou... Eles praticam sexo uns com os outros.
Ou então alguém aqui não disse toda a verdade.
Gosto de inquéritos sobre a vida sexual porque... lá está: deixam margem para todo o tipo de fantasias...
PS – Ah, uma ideia para o Dr. Gaspar e o Dr. Coelho: com mais de 40% de inquiridos a revelar que tem relações sexuais uma ou mais vezes por semana, não seria de considerar uma taxazita sobre o sexo? Um imposto equitativo, claro: não há quem não pratique...