Dúvida metódica
Sempre a tive.
Ontem, a ler um jornal francês, confrontei-me com factos objectivos e voltei a pensar no assunto. Que é este: com o fim do velho rolo fotográfico e o nascimento da fotografia digital, que torna praticamente gratuito o “disparo” da máquina, a multiplicação de fotografias pelo mundo foi brutal. Mas entretanto a coisa piorou, porque os telefones tornaram-se, eles próprios, potentes máquinas fotográficas, e são vendidos com o argumento comercial dos pixeis e da qualidade fotográfica – como ainda agora o lançamento do novo iPhone demonstrou.
Dizia o jornal que nos últimos dez anos se multiplicou por dez o número médio anual de fotografias tiradas pelo ser humano. Estima-se que em 2012 se tirarão qualquer coisa como 850 milhões de fotos (e nem consigo imaginar como se consegue chegar a um numero, mas enfim...)...
Por tudo e por nada, fotos. Viagens são fotografias, acontecimentos são fotografias, sentimentos traduzem-se em fotografias.
A minha dúvida é sempre a mesma, há muitos anos: quando desatamos a tirar fotografias não estaremos a deixar de ver e sentir o momento para, num golpe atirado à eternidade, adiarmos para ver e sentir mais tarde no sofá de casa?
Será que ainda somos capazes de apenas ver e sentir o que acontece, no momento em que acontece, sem nenhum filtro entre nós e o que acontece?
Parece-me que não.
Era isso.