Vozes livres
Não estou de acordo com boa parte do que Mário Soares disse ontem na TVI-24. Exagera factos, aproveita o descontentamento generalizado para empolar ideias, e até reescreve a História quando esquece o tempo em que nos mandou apertar o cinto às ordens do mesmíssimo FMI. Pior do que isso: fez um paralelo com a ditadura e afirmou que este tempo é pior do que o de Salazar, quando em Portugal sobrava em miséria o que faltava em liberdade. É de uma infelicidade sem nome - e até se vira contra o militante político que resistiu a esses tempos obscuros.
Mas...
... Mas gosto que sobrevivam pessoas sem papas na língua, que digam o que pensam, que provoquem reacção, que evitem os paninhos quentes de que vive, quase sempre, o regime e quem a ele se cola. Precisamos de quem abane consciências sem ser à força de petardos. Precisamos de quem se manifeste sem que disso precise para viver. Precisamos de vozes livres, venham de onde vierem.
É também por isto que gosto de Mário Soares, mesmo com os dislates ocasionais. Ou de Adriano Moreira. Que não dispenso Vasco Pulido Valente, ou Miguel Sousa Tavares. E tenho saudades de Maria José Nogueira Pinto.