Cá e lá
Enquanto em Lisboa o ex-musico rock Bob Geldof gelava uma plateia de empresários com uma afirmação seca - Angola é governada por um “bando de criminosos” -, lá em Luanda o criminoso era afinal um indivíduo que saltou da assistência do Festival Internacional da Paz para roubar uma jóia valiosa do pescoço do rapper (obrigado pela correcção, Alexandre) norte-americano 50 Cent.
Algumas diferenças, no entanto:
Bob Geldof disse o que disse... porque pode. Não tem empresas a negociar com Angola, não deve nada a ninguém nem espera receber, para lá do cachet, generosos fundos pelas suas palavras doces ou amargas. Bob Geldof guardou do rock esse espírito livre que lhe permite dizer o que pensa. É raro – mas mais raro é este “género humano” ter acesso a plateias de empresários e políticos e poder provocar uma ligeira onda de choque. Percebe-se o incómodo geral, depois da promoção à volta da conferência e da plateia que Geldof obviamente conhecia.
Já o ladrão de jóias que decidiu operar num festival de música, fê-lo porque não podia de outra forma aceder a tal riqueza. Deve certamente alguma coisinha às autoridades. Tem do rock uma noção mais livre do que espiritual, e o facto de ter acesso a um recinto de espectáculos não faz dele o artista principal do dia, até porque não foi anunciado como tal.
Julgo que ninguém pagou para o ver actuar. E apesar de ter feito o que quis, o que ele quis fazer não faz parte do que se pode fazer. Pelo menos nos países civilizados...
Ambos podem estar errados, embora só um deles esteja legalmente errado. Ambos podem – se alguém os acusar formalmente - ser julgados pelos seus actos. Ambos são livres – até para a asneira.
Mas entre os dois não há mais do que aquilo que liga a Rosa do Canto ao canto da Rosa: jogos de palavras. O resto são as verdades que queremos ou não encontrar pelo caminho.