23
Nov07
A palavra: muletas
Há anos que eu procurava a mais pura e rigorosa definição para os subsídios do Estado a filmes que ninguém vê de cineastas inexistentes ou, como diria o meu pai, “índios chupistas”. Quem diz filmes, diz peças de teatro sem espectadores e projectos culturais sem pés nem cabeça.
Cresci profissionalmente em meios não subsidiados – os jornais, os livros, os discos – que nem por isso deixaram de se desenvolver e dar dinheiro (Ou lucro, conforme os gostos...). O sucesso da indústria livreira é o mais claro exemplo de um negócio não subsidiado que saiu sozinho do vermelho num país onde o caminho mais fácil seria pedir “ajuda” em nome da cultura e da instrução.
Trabalhei em meios que foram apoiados mas nunca sustentados, porque sempre tiveram publicidade e medições de audiência (rádio e televisão), ou foram aceites como serviços públicos. Nunca entendi a protecção ao cinema e ao teatro, na medida em que verifiquei que o que é bom tem receitas, público, e pode bem viver no (e do) mercado.
Dizia então: há anos que eu procurava uma definição perfeita para esta subsidio-dependência em que vive uma certa cultura em Portugal. Estava a ler o El Pais de ontem e encontrei a palavra, numa matéria sobre a nova Ley del Cine. Título da matéria: “Más muletas para el cine español ”.
Muletas, senhores. É de muletas que sempre andou e continua a querer caminhar esta cultura do subsídio. Muletas. A palavra.
Quando voltar a ver um filme subsidiado, e mau, não deixarei de dizer: cá vai um filme com muletas. Quem diz filme diz peça. Diz o que tiver de dizer. Mas das muletas não me vou esquecer.