O espelho e a sombra
Há uma coisa que me parece óbvia: o povo tende a responder mimeticamente a quem o governa. O espelho não reflecte apenas a luz, mas também a sombra. Tal como sucedeu no último executivo de Cavaco Silva, parece que a história tem vontade de se repetir com José Sócrates: à arrogância, à prepotência e ao autismo político, o povo, neste caso “representado” pela classe dos camionistas e seus patrões, responde com arrogância, prepotência e autismo. Diria que estão bem uns para os outros, não se desse o caso de eu estar entre uns e outros. E de não me agradar uns e outros e os seus tiques autoritários.
“Dar-se ao respeito”, uma expressão antiga que infelizmente volta a fazer sentido, não é sinónimo de ser cego, surdo e mudo em simultâneo. Do mesmo modo, mostrar indignação não é fazer valer o poder da tonelagem sobre os direitos dos restantes cidadãos.
Esta é uma triste história de abuso de poder – e tanto abusa aquele que tudo faz em nome da chamada legitimidade democrática, como o que apenas pode hastear a bandeira da legítima revolta.