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Pedro Rolo Duarte

11
Set08

Luis Rainha "deixa-me escrever", o que é bastante simpático da parte dele

 

Então eu escrevi um post inocente e ingénuo sobre uma entrevista que tinha lido com Patrick Michaels. Ele discutia a questão do aquecimento global e punha em causa o politicamente correcto. Entre outros argumentos, usava este, sobre as previsões meteorológicas: “Basta olhar pela janela e comparar a realidade com a previsão do tempo divulgada dias atrás. Se os erros são tão frequentes no curto prazo, imagine quanto se pode errar em um período mais longo”.

Dado que este Verão foi um pouco merdoso, depois dos alarmes disparados sobre uma estação seca, quente e ameaçadora, achei a ideia interessante e escrevi sobre isso, para concluir em tom de conversa de café: “«Eles» nem sabem “adivinhar” o Verão, quanto mais o futuro...”

Logo Luis Rainha, autoridade do blog 5 Dias, apontou o dedinho: “Pedro Rolo Duarte decidiu escrever sobre o aquecimento global. O resultado, como seria previsível, não é famoso”. E depois explicou o que pensa sobre “temas importantes” que presumivelmente terei misturado “com ideologia e patrocínios comprometedores”.

Depois de um belo dia de praia, comentei o post. Dirigi-me directamente a Luis Rainha: “Acho que perde demasiado tempo comigo. A sério. Eu sou um tipo irrelevante que tem um blog. Escrevo para mim, para a família e os amigos. E tudo não passa de prosa quotidiana sem história nem ciência. Menos ainda religião. O Luís, que é um tipo importante, e tem certamente muito que fazer, pode pensar neste conselho: mude de irritação. Afinal, devemos escolher os nossos inimigos e as nossas embirrações com critério e rigor - porque elas dizem muito sobre nós…”.

E não é que ele me respondeu? É.

E disse: “Não se subestime. Caramba, tem o seu blog, eu e mais uns quantos até o lemos e, imagine-se, acontece o normal na blogosfera: uns gostam, outros não. Uns criticam, outros louvam. Isto não é perder tempo (sei que achava há uns anos que os blogues só faziam perder tempo, sobretudo aos madraços dos seus subordinados) é sim diversão ocasional. Nada de mais. Eu deixo-o escrever à vontade, você deixa-me divertir-me um pouco. Que tal?”

Foi neste momento que percebi – depois de notar, desanimado, o duvidoso e improvável português do “deixa-me divertir-me” - por que razão me sinto cada vez menos de esquerda, e me interrogo sobre se alguma vez estive verdadeiramente à esquerda na vida. É que, entre outras diferenças* que me afastam irremediavelmente de pessoas como Luís Rainha, não me passa pela cabeça dizer a quem quer que seja, mesmo sob a capa de pretensa ironia, “Eu deixo-o escrever à vontade”, algures entre o tom paternal e aquela pose blasée de quem permite, dá a oportunidade, autoriza. Nem com os tais “madraços meu subordinados” alguma vez usei o verbo “deixar” no sentido de permitir… Não digo que “deixo” nem que quero “deixar”. “Deixem lá isso…” – sim, isso eu digo muitas vezes…

Neste caso: Luis Rainha, deixe lá isso. E “faça-me o obséquio” de persistir na “origem antropogénica” do aquecimento global. Alguém tem de o fazer. Eu, como já percebeu, “é mais bolos”. E praia amanhã outra vez.

 

* Entre essas diferenças está também a recorrente referência a um episódio que os leitores do 5 Dias não conhecem, deixando a suspeita do "mau da fita" a pairar sobre mim e a inocência sobre o “subordinado” (e que, por decência, não vou esclarecer, porque isso envergonharia o “subordinado” e não me apetece lavar roupa suja na rua). E está ainda outra diferença: posso ser susceptível, mas não me levo demasiado a sério e sei rir de mim próprio. O que faz toda a diferença.

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