22
Set08
Um domingo bom
Há fenómenos que, por mais tempo que passe, e por mais que o tempo passe, não deixam de vir ter comigo nos momentos cruciais. Vinha de regresso a Lisboa, depois de passar dois dias num cenário idílico e romântico a testemunhar e aplaudir e festejar o amor de uma grande amiga de sempre, e parei numa estação de serviço para tomar café. Apercebi-me de que, com a correr do fim-de-semana, nem tinha comprado o jornal. Fui buscar o “Público”. Ao ver o destaque que o jornal fez ao nome da Anabela Mota Ribeiro e ao começo de uma colaboração com a “Pública”, senti uma espécie de frio doce na barriga e outra vez aquela pontinha de orgulho que me deixa meio sem jeito. Neste caso, resulta de um passado em que recebi a Anabela de braços abertos no DNA e vivi feliz com os seus mails cheios de ideias e de perguntas e de olhos abertos para o Mundo. A Anabela foi sempre a mais perfeita das colaboradoras – porque cumpria em silêncio, sem ondas, com humildade e dedicação. As suas ideias eram tão boas quanto subliminares, por isso sempre aceites. O seu entusiasmo era irresistível, mesmo quando não havia dinheiro para pagar. Como senão bastasse, ela sabia/sabe levar a água ao seu moinho, o que neste caso significa levar as palavras ao seu entrevistado e dele sair uma vida inteira.
A Anabela nunca deixou de escrever e publicar desde esse tempo cúmplice - mas sempre pensei que ela merecia mais. Merecia ter o nome na primeira página do jornal. Merecia que esse nome traduzisse o que ela faz: algumas das melhores entrevistas de imprensa que se publicam entre nós (e que contribuíram, mais do que se julga, para que o DNA ainda seja recordado com saudade...).
O fenómeno da “pontinha de orgulho” é disparatado, eu sei. Mas verdadeiro. Vi o seu nome na primeira página do “Público” e senti que o talento, o trabalho e a paixão ainda têm um lugarzinho pontual na imprensa que há.
E assim o meu domingo continuou em paz até ao fim do dia.