No seu excelente blog, o comunista Vítor Dias exibia, no domingo, as primeiras páginas do DN e do Público para demonstrar que ambos passavam ao lado desse “grande” acontecimento que era o XVIII Congresso do PCP, no que constituía obviamente um atentado às boas práticas do jornalismo. Pelo contrário, a SIC Noticias encheu-nos o fim-de-semana com o congresso e deu-nos a ideia de que aquele era um acontecimento relevante do fim-de-semana.
Lamento discordar da SIC Noticias e de Vítor Dias, e estar de acordo com o Diário de Notícias e o Público: o evento não merecia primeira página de jornal – nem aqui, nem no deserto da margem sul...
Sejamos objectivos e claros: o Congresso do PCP só é relevante para os militantes do Partido e para os seus eleitores. Nas últimas eleições, o PCP, coligado com os verdes, recebeu o voto de 432000 portugueses – um quarto do número médio de espectadores da novela “Feitiço de Amor” da TVI (1, 5 milhões)...
Parece-me óbvio, portanto, que um acontecimento que mobiliza alguns milhares de participantes e mexe praticamente nada com a vida política portuguesa – a não ser, claro, como “case study” que provará que Portugal é tão pobre, tão conservador, e tão analfabeto, que ainda tem 430 mil almas a teimar num partido comunista... -, só é notícia de relevo pelo lado politicamente correcto de um jornalismo de quotas, com medo da ERC, e sentado no sofá quentinho da mais banal agenda.
Um congresso do PCP – o partido onde o “centralismo democrático” impede qualquer espécie de polémica, debate ou confronto – é seguramente interessante para reportagens sobre coisas que nos escapam, programas sobre o além, ou para o “Caia quem caia”. Mas não é, como aliás se viu, um acontecimento jornalístico. Além do mais, dá sono.
Adenda...
Vítor Dias, sempre atento, decidiu responder-me. Não tenho por hábito alimentar polémica aqui no blog, mas abro excepção por ter também estima por Vítor Dias e porque a sua resposta diz muito sobre a forma como no Partido Comunista se convive com a opinião alheia. E convive mal:
1. Em parte alguma do meu post se diz que as 320 mil pessoas que deram o seu voto ao PCP “sejam igual a zero”. 320 mil eleitores do PCP valem o que valem – só não constituem, por si, matéria de primeira página. Caso fosse esse um critério noticioso, a China seria manchete diária de toda a imprensa – já viu o Vítor Dias quantos são eles?
2. O critério jornalístico que norteia o meu pensamento é a síntese de 25 anos de trabalho e experiência. A relevância de uma notícia, que a leva à primeira página do jornal, resulta de um ou mais itens (conjugados ou isolados, conforme os casos): novidade, surpresa, revelação, choque, inovação, descoberta, polémica, exclusividade, denuncia, etc... Ora, o congresso do PCP foi ordinário (isto é, não extraordinário), não trouxe uma única novidade relevante, não foi surpreendente, não teve polémica, não mostrou nada que se não soubesse já. Foi curricular, normal, meridiano. Jerónimo de Sousa disse o mesmo que diz sempre – e desta vez nem houve um momentozinho animado de divergência ou dissidência para inspirar os comentadores do costume. Nada. Por isso - e lamento ter de explicar de cátedra ao Vítor Dias...-, do ponto de vista técnico foi aquilo a que chamamos um “não-acontecimento” jornalístico. Foi isso que eu quis dizer - apimentadamente, como gosto de escrever...
3. Não é saudável confundir este facto - o não-acontecimento - com a circunstância do congresso do PCP ser ou não noticiável. O congresso merece ser noticia? Merece. Merece estar na primeira página? Não merece.
Caro Vítor: ver nisto, e no meu post, uma “tenebrosa e degradada concepção de jornalismo, de pluralismo e de vida democrática”, é como admitir que um dia o povo vai querer ver o PCP no poder - é apenas um sonho mau. Cá vai então a sugestão: basta acordar...
a sugestão final foi:forte!/boa! - riscar o que não interessar (nota: quando a li pensei na anedocta, daqueles idos tempos, sobre os cachorrinhos comunistas...ah,ah,ah,)
Um excelente blog só pode ser obra de um excelente blogger que, no entender do Pedro, é o caso do blog e do blogger Vítor Dias.
O Pedro estima o Vítor que diz estimar o Pedro. Post para cá, post para lá, o que há a registar é o nível da estima ou, deixemos-nos de ironias subtis, o que a palavra estima significa para Vítor Dias, por exemplo. Citemos o blogger comunista no que é uma lição de pragmática :
Adenda em 2.12: em «post» aqui , elegantemente intitulado «o Congresso do sono», Pedro Rolo Duarte, pessoa que estimo, diz que eu não tenho razão nenhuma, escrevendo o seguinte: «Lamento discordar da SIC Noticias e de Vítor Dias, e estar de acordo com o Diário de Notícias e o Público: o evento não merecia primeira página de jornal – nem aqui, nem no deserto da margem sul...» Eu, por mim, não querendo azedar a conversa, só retribuo dizendo que lamento que para P.R.D.,«432000 portugueses» (e queestupidamente compara com certas audiências televisivas) que votaram na CDU sejam igual a zero, que lamento que ache que todas as notícias constantes daquelas duas primeiras páginas são mais importantes que o Congresso do PCP e, finalmente, que lamento a tenebrosa e degradada concepção de jornalismo, de pluralismo e de vida democrática que, para surpresa e desgosto meu, Pedro Rolo Duarte afinal parece perfilhar. É caso para dizer que nem sempre se sai aos seus.
Que rica estima e do mais fino recorte literário! Quem assim se acha no direito de misturar os seus que, não por acaso, são os dos outros, fizemo-nos entender? pois estima como? Estima, uma ova! Paleio roto.
Por acaso Pedro, não sendo um dos 400 mil e tais, achei muito interessante a sua justificação do que constitui "Interesse jornalístico". Entenda-se que não sou jornalista e portanto aqui serei um "treinador de bancada" e que desta forma admito que se possa considerar arrogante o que passo a expor. Porém não queria deixar de lhe dizer que não concordo de todo com o que expõe. Na verdade porque razão apenas a supresa, a novidade ou a polémica é "notícia" ? Não será que o normal, o consistente, o razoável desde que pertinentes poderiam merecer a mesma atenção? Não lhe parece que essa redução da noticia mais importante ao que é de importância imediata e quiçá efémera conduz fatalmente ao jornalismo espectáculo e superficial ? Será que em todas as comunicações do congresso não houve uma única ideia nova ? Nada que merecesse mais menção do que TODAS as noticias de primeira página do Público? Não sei nem quero pegar-me demais a este caso ... porque o que me preocupa mesmo é a concepção geral daquilo que é "interesse jornalístico". Vamos fazer uma demonstração por absurdo. Vamos por absurdo pensar que que todos os seus discursos passassem a ser coreografados e enriquecidos com espectáculo laser. Novidade certo? Queremos mesmo que por isso mereçam uma primeira página?
Senhor PRD Você deve ter seguido intensamente o Congresso, pois tanto sono faz mesmo com que ande a dormir na forma. Ou talvez não... - Provavelmente, mais do que fazer jornalismo de quotas por subserviência à ERC, preferirá fazer jornalismo de quota pretendida, do patrão que subservientemente serve. Sabe? - Sou um dos 432000; um dos cerca de 1500 delegados que, sem sono mas muito atentamente, fizeram o Congresso; um dos cêrca de 26000 que, de há meses para cá o prepararam, discutindo vivamente as Teses. E senti uma grande desilusão quando hoje (ainda estou acordado de dia 2) ouvi o seu programa "Janela Indiscreta". Afinal o Congresso é notícia!!! - E que blogues mencionou você? -Tudo e só dos que do mesmo o pior poderiam dizer!!! E você sabe muito bem onde poderia encontrar outro tipo de apreciações. Não só favoráveis; também isentas. Mas isso já seria jornalismo para a ERC... ´ Assim é que é bom! É apimentado!!! Gostaria de lhe dizer pessoalmente onde é que deveria pôr a pimenta... - Talvez no sítio onde se põe pó de talco nos bébés!
Caro PRD, Por quem se julga para poder julgar o País de ignorante, atrasado e outras coisas que considera do seu pedestal??? Por que se considera único no julgamento desses milhares de desdenha? Caro senhor jornalista, se é que é de facto, ao invés de andar a namorar o poder (por vias que esses milhares que refere nem imaginam), defende o exercício da sua profissão, explique porque não temos todos nós o mesmo direito a aparecer. O senhor tem cada vez menos...por isso prefere ver na primeira página o Magalhães,o Hugo Chávez ou qualquer campanha publicitária deste governo. Isso já todos os inteligentes perceberam. Mas por isso cada vez mais é desacreditado. O senhor que diz nunca mentir, afinal mente muito!
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
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