Assim se vê como (realmente) é o PC...
Eu ontem escrevi sobre jornalismo. Mas os dedicados (e pouco delicados) militantes/simpatizantes comunistas decidiram, como disse Charlie, ler os seus males na minha opinião e aplicaram a frase clássica: "Quando a mensagem não agrada, mata-se o mensageiro".
Não vou responder a quem me manda “catar”, ou a quem me chama “ensonado jornalista”, a quem se sente “profundamente enojado” com o que digo, a quem fala de “paleio roto”, a quem gostaria de me “dizer pessoalmente onde é que deveria pôr a pimenta... - talvez no sítio onde se põe pó de talco nos bebés”, a quem me considera “desacreditado” e acha que “minto muito” e sou um “nojo”. Uma das razões porque a caixa dos comentários é aberta, não moderada, e até acolhe cobardes anónimos - no blog que leva em cima o meu nome, sublinhe-se -, é justamente porque eu respeito a opinião alheia, qualquer que ela seja. Não me tenho dado mal com a opção. Na verdade, num ano, contam-se pelos dedos de uma mão os insultos e as difamações de que fui alvo. Nessa medida, é muito curioso, e dá que pensar, que seja no dia em que me refiro ao Partido Comunista que chegam em catadupa as ofensas gratuitas.
Mas, se querem mesmo saber, tal facto não me espanta: eu fui militante da Juventude Comunista (à época, UEC) entre 1977 e 1979, isto é, entre os 13 e os 15 anos. Bati com a porta no dia em que percebi que dentro do PCP (e pelos vistos, fora também…) não se pode criticar ou discordar, que o centralismo democrático traz a mensagem de cima para baixo, até às bases, mas em sentido inverso qualquer ideia divergente ou sequer interrogativa é asfixiada e morre pelo caminho. Bati com a porta no dia em que percebi que o meu entendimento de democracia era diferente do entendimento do PCP. Eu gostava da ideia de “tese, antítese e síntese” – mas lá gostavam mais do “quero, posso e mando”. Comigo isso não pegava - e abandonei serenamente a militância política. Não foram precisos muitos anos para perceber que o meu equívoco com o partido era bem mais vasto – e passava pela ideologia, pelo próprio conceito de socialismo, e por um projecto de sociedade que tinha pouco de livre e democrático. Os países do bloco de leste aí estavam para o demonstrar. E entretanto cresci e li mais alguns livros.
Os comentários que o meu post recebeu – a começar no de Vítor Dias, quando chama “tenebrosa e degradada” à minha “concepção de jornalismo, de pluralismo e de vida democrática” – mostram que, 30 anos depois, nada mudou no PCP: o respeito pela opinião alheia continua nos mínimos, a tolerância à crítica inexiste, e qualquer sinal de democracia (por exemplo, aquele que permite aos profissionais dos media terem a legitima responsabilidade de escolher os assuntos que tratam e definir em liberdade os critérios de edição noticiosa…) é desprezado, mal vindo, e transformado em bode expiatório das insuficiências próprias.
Fiquem os comunistas (que por aqui passaram e insultaram...) tranquilos: não volto ao assunto tão depressa e menos ainda ao partido. Não debato com quem não conhece o verbo debater. E há coisas que não mudam, o que nem sempre é sinal de coerência. Muitas vezes é apenas cegueira. Ou um ensaio sobre ela…
PS – Para dar um toque humano ao debate: a fotografia mostra este vosso blogger, aos 14 anos, de microfone na mão, a discursar num Encontro de Jovens Comunistas do Ensino Secundário (salvo erro, numa sala do Hotel Vitória...). A minha intervenção era sobre a violência nos liceus e defendia a tese de que não se devia responder na mesma moeda e que a teoria do “olho por olho, dente por dente”, não era digna de uma esquerda moderna. Lá está...