Vicky Cristina Barcelona
Às tantas, em “Vicky Cristina Barcelona”, o personagem interpretado por Javier Bardem tenta explicar o insucesso da sua relação com (a personagem de) Penélope Cruz, e diz qualquer coisa como isto: o amor que temos um pelo outro é único, eterno, praticamente perfeito. Mas o amor é como o corpo humano: a falta de um elemento aparentemente irrelevante (ele dá o exemplo do sal...) pode desfazer o corpo até à morte. Na sua solidez, poderia dizer, é mais frágil do que aparenta.
No filme, esta ideia parece verdadeira – mas o espectador sai da sala a pensar que é exagerada, sobrevalorizada, quase absurda.
Uma hora mais tarde, o espectador reconhece que a ideia tem algum sentido e que, embora no domínio do excesso ficcional de um Woody Allen, merece um bocadinho mais de atenção.
Meia-duzia de horas depois, o espectador rende-se: o amor é um sentimento forte, poderoso, possante e envolvente – mas, como um corpo humano, não precisa de mais do que um ligeiro desequilíbrio para ir desta para melhor. Ou cair à cama.
Os filmes de Woody Allen têm esta magia apaixonante de nos envolver devagar até ficarmos presos à sua genialidade. Este “Vicky Cristina Barcelona” não foge à regra. Desde ontem que penso nele sempre que penso em algo que vale a pena pensar...