Correio da Manhã
Nesse tempo, não era suposto que se lesse o Correio da Manhã – por ser popular, “escorrer sangue” (expressão típica dos mais velhos), e ser vagamente de direita. Ainda ninguém tinha esquecido uma manchete num domingo eleitoral onde se lia “A Democracia vencerá”, sendo que o “A” e o “D” (de “democracia”) apareciam em negativo, dando à distância a leitura de cartaz: “AD vencerá” (Aliança Democrática, para quem não era “nascido”, era o nome da coligação que juntou PSD, CDS e PPM...).
Eu lia o jornal. E colaborava. Sempre fui um bocadinho ao lado do meu próprio mundo...
O Correio da Manhã tem a sua História, e essa história tem os seus casos. Mas o jornal teve uma evolução contraditória com a lógica que lhe estaria subjacente: à medida que os anos foram passando, e que as vendas foram subindo, o jornal melhorou em todos os seus aspectos. Organizou-se. Profissionalizou-se. E sem nunca perder o estatuto de jornal popular, ganhou qualidade e profundidade. Tem hoje excelentes colunistas. É rigorosamente transversal. E sem deixar de ser “um tablóide”, é um diário respeitado.
Faz 30 anos numa excelente forma, e reforça a sua condição de líder com novos colunistas, ideias inovadoras, e uma “forma de estar” que deixa bem longe os seus congéneres europeus, previsíveis e gastos.
Passados 30 anos, leio o “Correio da Manhã”, como nesses tempos do “Correio dos Jovens”, sem vergonha. Em 1981, publicava nele os meus primeiros textos, escritos à mão e depois passados à máquina. Vinte e oito anos depois, deixo virtualmente num blog o meu testemunho. O tempo que passou foi o tempo que o CM evoluiu. Gosto de ver como esse tempo passou bem.