Bipolar?
Sempre que aterro no país real - ou seja, sempre que saio do meu casulo e ando por aí de metro, de comboio, nas tascas de Gaia ou da Almirante Reis, nos mercados sem “glamour” ou nas aldeias onde só a Sociedade Recreativa convoca algumas almas penadas, na Linha de Sintra ou nos passeios que faço pela margem sul, por entre fábricas falidas e barracas de pescadores de rio, enfim: sempre que me confronto com o universo que sai da minha zona de conforto (e faço-o regularmente, acreditem), chego sempre à mesma conclusão.
É esta: com ou seu crise, com ou sem Europa, persistem neste bocado de terra dois mundos diametralmente opostos. Um, finge que é moderno e cosmopolita; o outro, nem sabe disfarçar o atraso e a ignorância. Um, vive acima da terra; o outro, vive enterrado no lodo. Um, quer parecer o que não é; o outro, nem pensa nisso. Um, vive entre ser feliz e parecer feliz; o outro, só conhece mesmo a infelicidade ou a indiferença.
Dá-me ideia que vivemos num país bipolar. E pode ser esse o problema.