O meu género
Mail recebido (e não anónimo):
“Caro Pedro,
Desculpe a intimidade com que o trato, mas há muitos anos que o leio, o oiço na rádio, o vejo na TV, e tenho a sensação de que o conheço. Posso estar enganado, mas que se lixe. Escrevo-lhe apenas porque tenho uma pergunta para lhe fazer, que gostava que tivesse a coragem de responder publicamente, seja no blog ou onde quiser. A pergunta é esta: a que género pertence? É gay? É heterossexual? É bissexual? É assexuado? Talvez lhe pareça estranha a questão, mas como esta questão se tornou central em Portugal, eu ando a colocá-la aos homens e mulheres que admiro. Não é por nada de especial. É mais ou menos como saber se é do Benfica, e eu sei que é”.
Havia mais um ou dois parágrafos tão parvos como este, a esfarrapar a desculpa da pergunta. Confesso que fiquei sem saber o que fazer. Responder? Ignorar? Insultar? Enviar à Fernanda Câncio? Queixar-me às autoridades?
Por fim, decidi apenas publicar o essencial aqui. Como se fosse – e é... – um nada cientifico, mas muito verdadeiro, sinal do estado a que chegou o debate sobre a condição humana entre nós. E a liberdade individual. E o direito à verdadeira intimidade. No limite, a uma existência livre.
Claro que me apeteceu responder que pertenço ao “género humano” e não me chamo Manuel Germano, como não confundo a Estrada da Beira com a beira da estrada. Mas receei ser mal interpretado.