Pastilhas elásticas
Neste folhetim de Tony Carreira, a única coisa que me faz realmente confusão é o objecto do plágio. Se estivéssemos a falar de extraordinárias composições, harmonias, letras, aventuras improváveis copiadas em universos mal explorados, temas arrebatadores, canções improváveis do Burundi, tinha a tentação de pensar que o cantor se rendera ao génio e não resistira à tentação...
Porém, está em causa uma dúzia de canções banais, por sua vez inspiradas noutras tantas canções banais, cujas letras são irrelevantes, e que ouvimos com a sensação de já termos ouvido dezenas de vezes, em todas as línguas possíveis e impossíveis, sem acrescentarem rigorosamente nada ao ruído que o mundo produz diariamente.
É preciso não ter qualquer grama de talento para copiar o que, em si, é medíocre, rasteiro, e mais que ouvido. Costumo dizer que Tony Carreira só tem uma canção – e todas as presumíveis outras são variantes, mais lentas ou mais rápidas, mais dor de corno ou mais amor previsível, dessa primeira. Que pelos vistos nem foi ele quem terá criado.
Assim sendo, e voltando ao começo, não sei se estamos perante um caso de plágio, ou apenas de miséria e pobreza musicais – e já agora, mentais. E se for o caso, deixem-nos lá brincar às canções – nunca passarão de pastilhas elásticas previamente comidas, e apenas com um resto de sabor. Amargo.