Perdido em Lisboa
Foi público o apoio que dei, enquanto lisboeta livre, às candidaturas autárquicas de António Costa. Fiz parte da sua Comissão de Honra em duas eleições consecutivas. Quando largou a Praça do Município e foi governar o país, senti-me um pouco defraudado – votei para a Câmara Municipal, não para bancos de espera, com senha tirada, para outros gabinetes... – e lá apareceu Fernando Medina, em quem não tinha votado, e que me pareceu sempre mais curto do que os fatos que vestia.
Passados estes anos, reconheço que “alindou” a cidade, ainda que tenha transformado num pesadelo, entre outros, o problema (que já existia) do eixo Entrecampos-Marquês do Pombal, e com ele toda a zona das Avenidas Novas, perto da qual vivo, mas que evito com périplos que vão da Cidade Universitária à Almirante Reis...
É verdade que venceu alguns cancros que pareciam eternos (o Cais do Sodré é exemplar), mas nem aí os seus engenheiros calcularam devidamente os espaços essenciais a uma manobra tão simples quanto virar à esquerda ou à direita. Quando é possível. Nessa medida, Lisboa é hoje uma cidade confusa, sem nexo, ciclista sem ciclistas, pedestre sem peões, desfeita na sua forma, correndo sérios riscos de, por isso mesmo, perder a alma, a essência.
Como lisboeta, filho de lisboetas, tenho a presunção de afirmar, aos 53 anos, que conheço a cidade como a palma da mão – mas há sempre um desgraçado novo sinal, ou mesmo um polícia mais escrupuloso, que me empurram para onde não quero ir, que me travam o caminho, e que, se não for para a baixa, não chega a ser um “Lost in Translation”, mas é seguramente uma forma de me perder na cidade. Na minha cidade.
Pela primeira vez desde que tenho direito ao voto, não tenho certezas sobre onde colocar a cruzinha. Gostava de gostar do mandato de Medina – mas todos os dias ele me contraria. Seja quando conduzo o automóvel, quando opto pelo metro, invariavelmente com problemas numa qualquer linha, ou pelo autocarro, cuja lógica – tão simples e clara na minha juventude, quando havia o 7, o 36, o 45, o 27... – não apenas me baralha como raramente acerta nos horários e trajectos, e tantas vezes entope o trânsito onde devia desentupi-lo (experimentem observá-los nas rotundas do Parque das Nações...).
Faltam 15 dias para as eleições. A cidade está bonita – só não funciona. Ainda vão a tempo de chamar alguém que desembrulhe isto?