Vamos ver
É amanhã. Tomam posse a horas impróprias (deviam estar no Parlamento…), mas a pressa é inimiga da perfeição.
Agora é um Governo liderado pelo socialista António Costa, caucionado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, formando uma maioria que “vence” a coligação vencedora, porém minoritária. Muitos, como eu, votaram num destes partidos - mas antevendo um outro cenário. Nem me passou pela cabeça ver o PS dar esta cambalhota - embora saiba que muitos sonhavam com ela desde sempre. Não interessa. Agora já está.
Amanhã toma posse uma lista enorme de ministros e secretários de estado, que mais parece um albergue espanhol: gente do aparelho socialista, independentes, revelações, fieis de sempre, e até algumas mãos invisíveis de Sócrates…
Como sempre, gosto de usar a frase que o pai da minha amiga Paula usava nestas circunstâncias, e adoptei: “vamos ver”. É simples, não diz nada, mas diz muito.
“Vamos ver” como os grupos parlamentares do PCP e do BE agirão quando lhes virem fugir apoiantes, porque António Costa vai ter de alinhar com a Europa em matérias pouco ou nada populares.
“Vamos ver” como o novo Presidente da República vai olhar esta solução inédita e sem precedente na nossa jovem democracia.
“Vamos ver” como a esquerda vai aplicar a defesa dos mais indefesos, com que sempre encheu a boca sabendo que gritava contra maiorias absolutas e era derrotada à partida.
“Vamos ver” como se concilia um Governo europeu e do euro com partidos contra a Europa e defensores da saída do euro.
“Vamos ver” como a ideia de servir Portugal se sobrepõe à ideia de servir um simpático estatuto de “grupo parlamentar” e “partido subsidiado”.
Por fim, “vamos ver” se há esquerda em Portugal. Agora é que vamos mesmo desfazer essa duvida, que tem mais de 40 anos…