A minha amante favorita
A cidade onde nasci e vivi sempre, mas a que sou infiel aos fins-de-semana, e sempre que posso.
A cidade que me surpreende quando me mostra de novo o miradouro de São Pedro de Alcântara, mas no minuto seguinte me desilude quando me confronto com um Cais do Sodré arrasado pelo trânsito, pela circulação, pelo que lhe escapa.
A cidade que tem o rio mais belo da minha aldeia – e depois cria muros e barreiras para nos roubar o rio.
A cidade que tem cheiro a pão de madrugada, mas onde o melhor pão vem de fora, de Mafra ao Alentejo.
A cidade de que nunca me despeço, e que sempre cumprimento quando nela aterro de avião e me derreto com a luz e a morfologia únicas e irrepetíveis.
A cidade que me comove, que me excita, que mexe comigo – a mesma cidade que me irrita, me tira do sério, e todos os dias me faz perguntar: continuar aqui?
A cidade a que digo “sim”, sempre, mesmo quando a única resposta parece ser “não”.
A minha cidade – que raras vezes sinto minha, ainda que saiba que é. Não sei se é assim uma amante, mas por presumir que sim, que é, volto ao começo para dizer que Lisboa é a minha amante favorita.
Escrevi este texto para a Revista Turismo de Lisboa. Já foi editado e impresso, partilho-o com os leitores do blog...