As fitas de Belgais
O Miguel Esteves Cardoso é que tem razão: “Sabe sempre bem virarmo-nos para os nossos pais e gritar-lhes que não pedimos para nascer. Infelizmente, é tudo uma ilusão. Maria João Pires será sempre portuguesa. E quanto mais odiar Portugal, mais portuguesa será. Toda a gente pode renunciar – e é bonito quando renuncia -, mas ninguém se livra”.
Sempre que vejo um artista a dizer que lá fora é que é bom, e que Portugal é uma merda, e que aí Jesus que me vou embora, a única palavrinha que me ocorre é esta: fita. Fiteiros. Fiteiras.
De resto, tenho esperança que seja desta vez que algum jornal vá perceber o que efectivamente se passou e passa em Belgais, onde há arrestos de pianos misturados com despedimentos sem indemnização - e onde, em Novembro de 208, se anunciava “um novo projecto”, “mais virado para a parte comercial”, que metia realização de eventos e alojamento local, casamentos, baptizados, reuniões, encontros e workshops…
Ou seja: é fácil fazer de um manifesto uma manchete e gritar contra o país que maltrata os seus artistas – mais difícil será, neste caso, perceber quem tratou mal o quê. E quem, e onde, e como, e quando, e porquê. Vou esperar sentado, claro.