Cenário sem cena
Ontem à tarde fui gravar o “Fala Com Elas”, como todas as quintas-feiras. E ao passar por este canto do estúdio 3 de Paço de Arcos, parei e fiquei a olhar a mesa, as cadeiras, o vazio à volta. Eram seis da tarde e estavam quatro ou cinco técnicos por ali.
Vazia, aquela mesa não faz sentido de qualquer espécie ou ponto de vista. Parece uma parte de qualquer outra coisa que lá não está.
Sem luzes, sem os protagonistas, sem a tensão e a adrenalina do directo, aquela mesa é um mono e aquele espaço um amedrontado canto de estúdio.
... E no entanto, quer-me parecer que à volta desta mesa há milhares de portugueses a decidir um voto. Essa decisão vale quatro anos de vida e tudo o que isso implica.
Talvez por tudo isto que vos conto, ao decidir tirar uma fotografia da mesa vazia, senti-me na obrigação de perguntar aos técnicos se não se importavam que o fizesse. Como se a mesa fosse um quadro ou uma obra de arte. Ninguém me respondeu. Para eles, aquilo é um cenário que morre amanhã, sábado, para todo o sempre.
Os cenários nunca se repetem. Como os momentos que nele se vivem.