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Pedro Rolo Duarte

17
Out09

Nos 100 anos do meu Liceu

Ontem, passei a tarde a olhar os pátios do meu Liceu.

O Outono, quando começavam as aulas, era exactamente assim: o Sol aquecia o pátio, tornava-o acolhedor, e as folhas a desmaiar das árvores construíam um cenário quente, algures entre o laranja e o castanho, sublinhado pelos nossos passos, que faziam estalar as folhas secas.

Eram os primeiros dias de aulas – e os últimos em que podíamos sentar-nos no meio do pátio, no alcatrão morno, sem que fosse demasiado quente ou demasiado frio.

Eram também os dias em que reconhecíamos que o tempo tinha passado – nas borbulhas na cara ou nas feições infantis que ganhavam corpo adolescente, na forma como nos falávamos uns aos outros ou no fim de uma falsa intimidade.

Acho que senti pela primeira vez que estava no “meu Liceu” quando cheguei ao décimo ano – porque passei para o pátio dos mais velhos, o pátio onde tinha levado pancada aos 13 anos, o pátio onde fui candidato associativo aos 14. Mas onde só aos 15 tive direito a pertencer à elite dos que dominam os cantos à casa. E esse momento faz toda a diferença. Fez.

Ontem, no meio do burburinho e da confusão da celebração dos 100 anos “do Camões”, vagueei pelo pátio do 8º e 9ª ano (no meu tempo, claro, hoje nem sei...), não fui ao 7º que estava fechado, reconheci os laboratórios, a sala de Geografia, a “Comissão de Gestão” – onde resiste a placa “Reitoria” -, o ginásio (que me pareceu agora bem mais pequeno), e os domínios do Sr. Gonçalves, que já era do tempo da minha irmã.

Não vi colegas dos meus anos, mas reconheci alguns professores.

Anotei os nomes daqueles que me fizeram gente: Adélia Silva Melo, Teresa Torrado, Lígia Trindade, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira. Escapam-me os nomes de uma professora de Sociologia e de um professor de Antropologia.

Por ali andei, entre emoções. Mas onde me senti mesmo bem, mesmo bem, foi no banco cinzento do alpendre, entre as portas do ginásio do lado do pátio dos mais velho, no mesmo lugar onde eu, a Biza, o Gonçalo, a João, o Zé Pedro, a Vera, enfim, onde o nosso grupo discutia a vida como se fossemos os primeiros a vivê-la.

E éramos. Os primeiros da nossa vida. Só não sabíamos a diferença.

Agora já sabemos.

Sentei-me de novo no banco cinzento, passei os olhos pelo livro magnífico que assinala o centenário, e pensei assim: viver é sentir aquilo que eu sinto neste preciso momento.

Foi um bom dia, o de ontem.

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