O regresso de Cavaco Silva
Entre as qualidades que distinguiam, até há pouco tempo, Cavaco Silva, estava a sua absoluta previsibilidade. Não havia na política alguém mais aborrecido. Parecia um filme português de um plano só. Os jornalistas, com ele, adivinhavam vetos, atitudes, e até podiam comentar discursos que ainda não tinha proferido. Nesse tempo, se dependesse do Presidente, os jornais fechavam cedo.
Com a história das escutas e as sucessivas declarações e esclarecimento, silêncios ensurdecedores e ruídos imperceptíveis, Cavaco Silva acordou Portugal. E surpreendeu-nos. A mim, confesso, assustou mais do que surpreendeu. Por momentos, pensei que o Chefe de Estado tinha perdido essa qualidade presidencial e estava a ficar parecido com os outros meninos.
Mas não. Hoje, tudo voltou à normalidade: o Presidente da República recusou o convite para ser convidado no último “Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios”, que vai para o ar na próxima sexta-feira. Voltou ao registo de sempre.
Previsível, aborrecido, e igual a si próprio. Estou mais descansado.