Taxatividade
Uma das “maravilhas” da idade – para cada uma, há seguramente uma faculdade que se perde, uma nota negativa a assinalar, mas isso agora não interessa nada... -, é o fim da taxatividade. O “Word” diz-me que a palavra taxatividade não existe, mas em tempos de acordo e desacordo ortográfico, deve valer tudo. Para mim existe.
E então: o fim da taxatividade. É quando deixamos de dar por adquirido mesmo o que estava adquirido desde sempre. Quando descobrimos que afinal acordar cedo não é assim tão mau – como deitar tarde não é assim tão bom. Ou quando pura e simplesmente deixamos de ser taxativos com o que nos rodeia, com a vida, com tudo.
Sinto que diariamente perco mais uma taxatividade. Esta semana foi a das canetas. Desde o dia em que tive a minha primeira Montblanc, dei como adquirido que uma boa caneta tinha de ser uma Montblanc (mesmo que taxativamente achasse que o melhor marcador era uma coisa de 50 cêntimos chamada “tratto pen”...).
Tive várias Montblanc, perdi outras tantas, caneta de tinta permanente, esferográfica, rollerball, uma colecção. A última, uma espécie de mistura possível entre feltro e esferográfica, a “fineliner”, partiu-se numa queda súbita para um inesperado chão de mármore.
Achei que era um sinal – e iniciei o caminho terrestre para a descoberta de uma esferográfica que me enchesse as medidas: o design elegante, simpatia na forma de lhe pegar e escrever, e um correr no papel suave, mas potente. Gosto de traço grosso, firme. Acho que encontrei – e não pertence à marca do costume. É este modelo corriqueiro da Caran D’Ache, que aqui exibo, seis vezes mais barato do que a mediana MontBlanc clássica, e uma felicidade quando escrevo, como se tivesse recuperado a mão, a mão que escreve...