Teatro sem sombras
O paradoxo é óbvio: o partido está ali reunido para se organizar, para se estruturar, para se confrontar consigo mesmo. Fazê-lo à porta fechada (ou pelo menos resguardado dos olhares cuscos das câmaras) garante sinceridade, frontalidade, verdade – fazê-lo sob o olhar de todo o país, em directo e ao vivo, presume encenação, teatro, e uma preocupação permanente com o que “passa cá para fora”. O resultado é aquele que Vasco Pulido Valente bem antecipou no Público: “em ambiente de comício e muito pouco tempo (...), nada de sério se pode discutir”. Com o beneplácito do jornalismo político, assim foi. Um teatro sem sombras, só luzes. Uma projecção para português ver.
(Fiquei a saber que o Presidente da Câmara de Mafra deu a si próprio o nome do pavilhão onde decorre a cerimonia. Não podia haver simbolismo mais óbvio e ironia mais certeira dos tempos que vivemos no mundo politico. O senhor – e o pavilhão... – chama-se Engenheiro Ministro dos Santos...)