30 anos de letras, artes e ideias
Num país que compra e lê poucos jornais, um “jornal de letras, artes e ideias” resistir 30 anos é em si absolutamente extraordinário. Ter a capacidade de continuar a renovar-se, é ainda mais extraordinário. E ganhar uma nova vida, é a cereja em cima do bolo.O JL que ontem chegou às bancas ganhou uma nova vida – um design rejuvenescido, elegante, atraente na sua clássica discrição, actual sem se armar em moderninho. Desde a fórmula gráfica original – com aquele modelo de capa notável que João Segurado criou, com as chamadas em passadeira seguida e o desenho de Abel Manta a encher a página... – que não via o JL com tão bom aspecto. A fonte “glosa”, criada por Dino de Santos, é um encontro feliz entre tradição e contemporaneidade, e cai que nem uma luva no inspirado projecto gráfico de Vasco Ferreira. É um jornal que respira e dá vontade.
É claro que continua a ser o jornal de uma “certa” cultura, muito oficiosa e previsível, e que lhe faltam mais Josés Luís Peixotos na sua lista de colaboradores (falta-lhe, nomeadamente, a frescura com que, no mundo dos blogues, se olha a literatura e as artes em geral...). Mas os defeitos do JL não ofuscam a sua maior qualidade – que é a resistência, a persistência, e a forma feliz como foi absorvido sem ser asfixiado dentro do universo comercial do grupo Impresa. José Carlos de Vasconcelos é o obreiro dessa obra.
Aos 45 anos, voltei a comprar o JL. Tinha 15 quando o conheci.