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Dez07
A cor do verdadeiro Pai Natal
Estava na Praça da Republica da Ericeira a meio da tarde de sábado. Em frente ao Café Central, uma carripana enfeitada, sob a égide da autarquia local, era lentamente conduzida por um Pai Natal. Junto à carripana, seguindo-a, um segundo Pai Natal, de gigantesco saco de pano vermelho, distribuía presentes às crianças que passavam. Uma imagem de pacífica calma natalícia: famílias, casais e crianças no passeio da Praça, um vendedor de castanha assada a encher o ar de um fumo perfumado, sol a passar por entre os telhados baixos das casas da vila, aquecendo suficientemente o frio que vem do mar.
Na mesa em frente à minha, uma miúda berra:
- Mãe!!! Este é que o Pai Natal verdadeiro!
A mãe, indiferente, enquanto mexe avidamente o café, com os dedos gordos enrolados na colher e tudo quase enfiado na chávena, responde:
- Então porquê, filha?
E a miúda:
- Porque se fosse a fingir não iam pôr um Pai Natal preto, não é?
Pergunto-me, sem grande vontade de obter uma reposta: o raciocínio da criança tem já integrado o conceito de racismo ou constitui apenas, como é normal nos miúdos, um momento de desarmante sinceridade e cruel realismo? Escolho a segunda hipótese.
Mas confesso que me é indiferente a resposta. A criança tem razão. A não ser em campanha eleitoral (ou numa distante capa da revista Esquire , nos anos 60 norte-americanos), jamais o Pai Natal poderá ser este que vejo agora distribuir presentes na Praça da Republica da Ericeira.
Assim sendo: é mesmo o verdadeiro. E eu acabo de o ver.