Há quantos anos foi o 25 de Abril?
Quase todos os dias me apetece comentar a política caseira, os temas do dia, as manchetes dos jornais.
Quase todos os dias desisto, mesmo antes de começar a escrever.
Sinto que é mais do mesmo. Que vou chover no molhado. Que o desabafo terapêutico não me é suficiente nem satisfaz ao ponto de curar o desânimo.
Não desisti de pensar, menos ainda de escrever. Mas olho os temas de cada dia e vejo-me repisar ideias que escrevo - eu e todos os que escrevem - há mais de 20 anos..
A substancia não muda: é sempre sobre a honestidade, a seriedade, a verdade, o rigor e o bom senso. Ou a falta deles.
Quase tudo o que nos indigna e escandaliza envolve falta de honestidade, de seriedade, de verdade, de rigor e de bom senso. Às partes ou em acumulação.
É por isso que quase todos os dias me apetece comentar a política caseira, os temas do dia, as manchetes dos jornais - e quase todos os dias desisto, mesmo antes de começar a escrever. Porque o “caso TVI” e o “Face Oculta” e as casas de Sócrates e o Freeport e outras tantas histórias que me chocam e revoltam lembram-me, afinal, o caso Cadilhe, o taxista sobrinho de Isaltino de Morais, as escutas a Cunha Rodrigues, o folhetim da Universidade Moderna, o fax de Melancia, o diploma da vírgula, as OGMA, a DOPA. Repetem procedimentos, fórmulas, comportamentos, abusos de poder, espertezas saloias, aldrabices sem princípio nem fim.
Na repetição, banalizam-se.
Mas na mesma repetição criam o manual de instruções para a mudança. É isso que espero do novo líder do PSD. De futuros líderes do PS. Quem sabe mesmo de outros partidos. Tenho dificuldade em acreditar – e Inês de Medeiros não ajuda... -, mas ainda tenho esperança de recuperar o gosto pelo comentário dos dias normais inspirado por gente que os dignifique e transforme.
É isto que me ocorre na passagem de mais um aniversário do dia em que começámos a recuperar a liberdade.