Na Feira do Livro (I)
Já dei uma primeira voltinha pela Feira do Livro. Confesso que a Feira é, para mim, um lugar de passeio, uma peregrinação anual, mas não é ali que compro a maioria dos livros que leio.
Às vezes encontro um livro antigo que procurava, ou descubro uma novidade inesperada – mas em geral a coisa fica por aí. O meu filho é mais metódico – e compra na Feira muitos livros que vai anotando mentalmente nos meses anteriores. Ele é muito melhor leitor do que eu.
A Feira é um final de tarde feliz, uma fartura, dois dedos de conversa, memórias, amigos. Tenho isso – entre tantas outras coisas... – em comum com a S., o que facilitou esta primeira abordagem que fizemos. Basicamente, passeámos. Às tantas lá me confrontei com os restos dos meus próprios livros a 4,99 euros, o que estranhamente me agradou: quer dizer que ainda não foram para a guilhotina...
Curiosamente, foi no mesmo stand onde os livros que publiquei dão os seus últimos suspiros, já em respiração assistida, que mais nos rimos e divertimos, quando peguei neste, cuja capa mostro com gosto, e li à S. algumas passagens, algumas ideias, e de repente ríamos os dois desbragadamente com os textos do Carlos Quevedo, do Miguel, do Alberto, do Nuno, do António.
Uma vez mais, não tive dúvidas: a Oficina do Livro tratou com os pés o livro que reúne alguns dos melhores delírios escritos na revista K. Como é possível aquele livro não ter passado da primeira edição, sabendo-se o culto que a revista ainda hoje convoca, e os milhares de leitores que deliram com o que se publicou?
Com carinho e dedicação – isto é, marketing e trabalho – este livro saído da K tinha sido um bestseller, e sobre isto não tenho duvidas. Aliás, toda a revista K é um bestseller por explorar: entrevistas, reportagens, portfolios, ensaios, o design das páginas, está tudo por fazer com aquilo a que hoje se chama “conteúdos” e antes se chamava... sei lá, revistas porreiras já editadas.
Bom, a verdade é esta: uma das melhores partes da K está neste livro. E ninguém sabe que ele foi lançado. E existe. E está à venda na Feira do Livro pelo preço da uva mijona. Não aproveitem, não...